O ministro da Saúde disse esta quarta-feira estar a acompanhar com “alguma preocupação” a situação das urgências em novembro, mas assinalou que, apesar dos problemas, foram atendidos na semana passada entre 15 mil a 20 mil utentes por dia.
O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, avisou na terça-feira, em entrevista ao jornal Público, que se os médicos não chegarem a acordo com o Governo, novembro poderá ser o pior mês dos últimos 44 anos no SNS.
Ao lado de Fernando Araújo, à margem da iniciativa, em Lisboa, que marcou o arranque da renovação da medicação para pessoas com doença crónica nas farmácias, Manuel Pizarro disse aos jornalistas que está “a acompanhar essa situação com alguma preocupação”.
Ressalvando que não quer diminuir a preocupação em relação à situação que os serviços estão a enfrentar, o ministro afirmou que “a verdade é que até este momento” foram capazes de assegurar a resposta com o funcionamento em rede das urgências, que permitiu compensações.
“Nalguns casos, até se pode dizer que as compensações não causaram muitos problemas às pessoas. Se temos um problema na urgência de cirurgia de Barcelos, a compensação em Braga, enfim, não causa muito muitos incómodos”, adiantou.
Observou ainda que, apesar dos problemas todos que têm existido, o Serviço Nacional de Saúde, na semana passada, conseguiu atender diariamente entre 15 a 20.000 portugueses nos serviços de urgência.
Mas esta situação levanta dois problemas, sendo o primeiro, “grandes preocupações”, a “sobrecarga exagerada dos colegas que estão na urgência, que além de atenderem os doentes que se dirigiam normalmente a essa urgência também têm que atender outros doentes referenciados de urgências que não estão a funcionar”.
O segundo problema são as “zonas de maior interioridade, onde as distâncias são maiores” e precisam de “uma maior atenção”.
Questionado se entende que os portugueses possam ficar preocupados com o que possa acontecer nas urgências em novembro por falta de médicos para assegurar as escalas devido à recusa de fazerem além das 150 horas extraordinárias previstas na lei, afirmou: “Eu entendo que nós temos que dar um sinal de preocupação e de transparência sobre as dificuldades que estamos a enfrentar”.
Mas salientou que o Ministério da Saúde, a Direção-Executiva do SNS e as direções dos diferentes hospitais estão a fazer “todo o esforço possível para arranjar soluções, utilizando a rede do SNS, para que “se possam reduzir os casos em que a resposta possa ser mais difícil”.
“Conseguimos fazer isto durante o mês de outubro. Já houve várias perturbações e, ainda assim, com funcionamento em rede dos serviços, nós conseguimos arranjar respostas complementares de qualidade, de segurança, porventura com menos conforto, porque às vezes a distância que as pessoas têm que correr é maior, mas estamos a fazer esse trabalho e eu confio que vamos continuar a fazê-lo”, declarou.
Sobre se a solução passa pelos médicos fazerem mais horas de trabalho, o ministro reiterou que as horas extraordinárias são “um problema estrutural”.
“Nem sempre sou bem compreendido quando digo que a dependência do trabalho extraordinário dos médicos e de outros profissionais é que tem mantido durante décadas as urgências a funcionar, isto não acontece agora, isto acontece desde sempre. Significa que nós possamos conviver com isso tranquilamente? Manifestamente não podemos”, frisou.
Segundo Manuel Pizarro, é um modelo que precisa de ser alterado, mas para isso têm que se “criar boas alternativas para os cidadãos” que fazem parte de um plano que terá muitas medidas de maneira a alterar estruturalmente a urgência.
“Não chega dizer às pessoas que quando não precisam verdadeiramente de urgência, devem ir a outros serviços, é preciso que esses outros serviços estejam a funcionar e disponíveis para os atender”, vincou.
Também questionado sobre o que espera da reunião com os sindicatos médicos na próxima sexta-feira, o governante disse que estão a fazer “uma negociação séria, uma negociação de boa-fé” e que está confiante que vai produzir resultados.
“A boa-fé é uma coisa que não deve terminar nunca e o Governo já deu passos muito significativos para se aproximar das posições dos sindicatos médicos. É agora também o momento de aguardar pela contraproposta que os próprios sindicatos anunciaram que iriam fazer”, referiu.