Barriga inchada, alterações intestinais e flatulência. Os sinais da Síndrome do Intestino Irritável que está a afetar cada vez mais pessoas - TVI

Barriga inchada, alterações intestinais e flatulência. Os sinais da Síndrome do Intestino Irritável que está a afetar cada vez mais pessoas

Dor de barriga (Pexels)

Fazer uma alimentação adequada e reduzir o stress são chaves para diminuir os sintomas e melhorar a qualidade de vida, explicam os especialistas

Chama-se síndrome do intestino irritável (SII), sendo também conhecida como síndrome do cólon iritável ou colite, pode ser causada pelo stress, hábitos de vida e até por fatores genéticos, e é um dos problemas de saúde que está a crescer. Não se classificando como uma doença, "é um conjunto de sintomas desencadeados por um desequilíbrio na flora intestinal e que é influenciada por fatores emocionais (stress, sono, ansiedade) e físicos (alimentação e exercício fisico)", esclarece a nutricionista Mafalda Rodrigues de Almeida.

Pode manifestar-se de formas muito diferentes. Por exemplo, para algumas pessoas pode dar diarreia e barriga inchada, para outras fases de obstipação alternadas com fases de diarreia. Causa, por isso, bastante incómodo ao paciente e diminui a sua qualidade de vida.

"Os casos de SII parecem estar a aumentar cada vez mais, estimando-se uma prevalência de 10 a 15% na população mundial", afirma o gastroenterologista Miguel Afonso, diretor clínico da Gastroclinic. "Embora as causas não sejam totalmente conhecidas, acredita-se que o consumo cada vez mais prevalente de alimentos processados e dietas com baixo teor de fibra, assim como de estilos de vida sedentários e altos níveis de stress, possam contribuir para o aumento da incidência da doença." Por outro lado, explica o médico, o aumento do conhecimento da doença e reconhecimento de sintomas associado a um diagnóstico precoce pode também estar a contribuir para o aumento do número de novos casos.

"Apesar de não se considerar grave, como é altamente influenciada pelo nosso estilo de vida, é cada vez mais comum e é algo que devemos encarar como um aspeto da nossa saúde a cuidar para sempre", sublinha Mafalda Almeida. "Idealmente, controlando os fatores de estilo de vida, não será necessário usar medicação nesta sindrome ".

Quem pode sofrer desta síndrome?

Qualquer pessoa pode desenvolver a síndrome do intestino irritável, no entanto, segundo  Miguel Afonso, alguns fatores de risco, como serem adultos jovens, do sexo feminino, com história familiar de doença e que sofram de algum transtorno psicológico (como ansiedade ou depressão), aumentam o risco de desenvolver a doença.

Mafalda Rodrigues de Almeida acrescenta ainda que pessoas que sejam muito ansiosas, que tomem medicação de forma regular, que tenham maus hábitos alimentares ou que tenham padrões de sono desequilibrados (ex: pessoas que dormem pouco ou que trabalham por turnos) podem estar em maior risco de sofrerem de desequilíbrios na flora intestinal que levam ao desenvolvimento da sindrome do cólon irritável.

"É importante referir que esses fatores não garantem o desenvolvimento da síndrome, sendo que o diagnóstico deve ser feito por um médico", sublinha o gastroenterologista.

Quais são as causas da SII?

"Trata-se de uma doença de causa multifatorial", podendo estar relacionada com alterações na motilidade intestinal, hipersensibilidade intestinal, alterações na imunidade e microbiota intestinal, fatores genéticos ou uso excessivo de antibióticos, explica Miguel Afonso.

No entanto, segundo este médico, também "os estilos de vida e os hábitos alimentares podem contribuir para o desenvolvimento e agravamento desta síndrome e, portanto, a adoção de uma dieta saudável e equilibrada pode ajudar a reduzir os sintomas".

Quais são os principais sintomas?

Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, explica o gastroenterologista, "sendo que os principais incluem dor abdominal, alterações do trânsito intestinal (diarreia e/ou obstipação), distensão abdominal, flatulência e, em alguns casos, náuseas e vómitos".

O diagnóstico é fácil de fazer?

"É um problema muito comum e fácil de diagnosticar", responde o médico Miguel Afonso. "Como é um problema funcional, o diagnóstico é feito após a exclusão de resultados positivos nas análises sanguíneas e fecais em conjunto com uma endoscopia com biópsia, excluindo assim possíveis doenças orgânicas."

Como se trata?

"Após a identificação dos possíveis gatilhos e desequilíbrios, o tratamento é personalizado e passa por minimizar a exposição aos gatilhos e melhorar a saúde intestinal através de uma alimentação adequada, evitando alimentos que agravem os sintomas, gestão de stress e prescrição de suplementos alimentares individualizados", explica o especialista. 

Miguel Afonso esclarece que não há dietas universais: "O plano alimentar é sempre personalizado de acordo com as características individuais de cada paciente e possíveis reações alimentares".

Em alguns casos, para ajudar a minimizar os sintomas pode ser necessário o recurso a medicação que atue diretamente sobre o músculo intestinal, para ajudar o retorno à sua função normal, ou fármacos que ajudam a absorção de gases.

A melhoria ou resolução dos sintomas da síndrome do intestino irritável é, frequentemente, um processo lento, que pode demorar seis meses ou mais.

Quais os alimentos a evitar?

Em geral os pacientes devem evitar alimentos processados, ricos em açúcar ou adoçantes, alimentos fritos ou picantes, explica o gastroenterologista. Em pacientes com muitos gases e inchaço poder-se-á realizar uma dieta Low Foodmap, que é baixa em hidratos de carbono fermentáveis de forma a diminuir a sintomatologia.

Esta é também a dietas aconselhada pela nutricionista Mafalda  Rodrigues de Almeida: "Numa fase inicial eliminam-se todos os alimentos ricos em fibras fermentáveis, ou seja, fibras que não são digeridas no estômago e que acabam por ser digeridas no intestino pelas bactérias da flora intestinal. Estas bactérias, durante a digestão das fibras, produzem gases e água que fazem dilatar o intestino, daí que um dos principais sintomas da síndrome seja a dilatação abdominal", explica.

Além disso, sublinha a nutricionista, "devem evitar-se açucares no geral, sobretudo políois (ex: sorbitol e manitol) e ainda alimentos que além destas fibras fermentáveis contenham frutose em elevadas concentrações (ex: melancia, cerejas ou nectarinas)".

Que alimentos podem ser benéficos?

Idealmente, diz a nutricionista, devem ser consumir-se "alimentos fermentados, que contenham algumas bactérias probióticas (semelhantes às que estão na nossa flora intestinal), e alimentos fontes de fibra prebiótica, como legumes ou fruta".

Os probióticos ajudam a reforçar naturalmente a nossa flora intestinal, o que, diz esta especialista, será importante para restabelecer o equilíbrio da mesma. Por exemplo, kombucha, iogurte, kefir, miso, chucrute, kimchi.

Já as fibras prebioticas são o alimento principal destes probioticos e importantes para fortalecer a flora intestinal, explica Mafalda Almeida. Por exemplo, cereais integrais, banana ou frutos.

A estes, Miguel Afonso acrescenta os alimentos ricos em omega-3 (peixes gordos) que ajudam a diminuir a inflamação intestinal e alimentos ricos em polifenóis como o chá verde, tomate, mirtilos, morangos, romã e brócolos.

A importância da saúde mental

Para além dos cuidados a ter com a alimentação, o gastroenterologista Miguel Afonso refere que "é importante gerir o stress, pois quem tem esta condição pode apresentar mais sintomas quando está sob stress". Além disso, também é aconselhável praticar exercício físico "que tanto ajuda na gestão de stress como na diminuição da inflamação geral do corpo".

Também Mafalda Almeida aconselha os pacientes a cuidarem da sua mental. "Algo que muitas pessoas descuram e que, só depois de fazerem os três meses de tratamento e continuarem com alguns sintomas é que começam a valorizar", diz. "Na sindrome do cólon irritável a saúde mental tem um impacto tão grande como a física. E isto não significa que todas as pessoas precisem de psicoterapia. Algumas pessoas precisam apenas de trabalhar menos horas e conseguir respeitar os seus tempos pessoais e em família  ou de começarem a fazer caminhadas na natureza, outras pessoas precisam de intervenções profissionais para gestão da sua ansiedade. Mas esta parte é mesmo importante para melhorar a qualidade de vida."

Cuidados para o resto da vida

Como não existe uma cura, em geral quem tem esta condição terá que ter sempre cuidados com a alimentação e níveis de stress de forma a minimizar os sintomas, sendo que os exagero, os períodos de muito stress e as alterações na alimentação (por exemplo, em férias, viagens e mudanças de estação) poderão levar a crises, avisam os médicos Miguel Afonso e Mafalda Ameida.

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