Depois da guerra, o terramoto e milhares de pessoas presas nos escombros. Alepo grita ao mundo: "Não há ninguém que ajude" - TVI

Depois da guerra, o terramoto e milhares de pessoas presas nos escombros. Alepo grita ao mundo: "Não há ninguém que ajude"

  • Andreia Miranda
  • notícia atualizada com a informação sobre as Nações Unidas
  • 7 fev 2023, 10:22

Considerado o último reduto da oposição no país, a região acolhe quase três milhões de pessoas deslocadas pelo conflito iniciado em 2011 e a grande maioria da sua população de 4,6 milhões de pessoas precisa de ajuda humanitária para sobreviver

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É uma corrida contra o tempo. Numa região em que se luta diariamente para sobreviver no que resta do que foi deixado pela guerra civil, o forte sismo da madrugada de segunda-feira deixou um rasto de destruição que deixa as equipas de resgate sem mãos a medir para tentarem tirar as pessoas debaixo dos escombros. 

"As nossas equipas estão a trabalhar 24 horas por dia para salvar aqueles que estão presos sob os escombros dos edifícios destruídos", conta Ismail Abdullah, um dos voluntários que se juntou aos trabalhado de resgate em Alepo, à Al Jazeera.

Como Abdullah, muitos homens juntaram-se às equipas de socorro. Alguns, deixaram as famílias a dormir ao relento para tentar salvar outras que, 24 horas depois daquele tremor que sacudiu Turquia e Síria, destruiu o pouco que restava da cidade onde viviam. Os últimos números apontam para mais de cinco mil vidas perdidas. Mas a ONU já veio dizer que os números reais deverão ser mais devastadores. E a corrida contra o tempo, essa, não para.

"Ouvimos as vozes deles, eles ainda estão vivos, mas não há maneira de os tirarmos de lá. Não há ninguém que os ajude. Não há máquinas", conta à AFP um homem que tem familiares presos debaixo dos escombros na cidade de Jandairis, na província de Alepo. 

A região de Alepo é casa para milhões de refugiados da guerra civil, casas essas que desapareceram com o sismo. Considerado o último reduto da oposição no país, a região acolhe quase três milhões de pessoas deslocadas pelo conflito iniciado em 2011.

Ainda antes do tremor de terra, a BBC relata que a situação já era crítica, uma vez que as temperaturas negativas, as fracas infraestruturas e um surto de cólera estavam a colocar em risco as milhares de pessoas que ali viviam. O Conselho Norueguês para os Refugiados do Médio Oriente alerta mesmo que o "sismo mortal agravará a crise humanitária".

"Milhões já foram forçados a fugir pela guerra em toda a região e agora muitos mais serão deslocados pela catástrofe. No meio de uma tempestade de inverno e de uma crise sem precedentes do custo de vida, é vital que os sírios não sejam deixados a enfrentar sozinhos as consequências", pediu Carsten Hansen, diretor regional do Conselho Norueguês para os Refugiados do Médio Oriente, em comunicado.

Citado pela BBC, Mark Kaye, diretor de advocacia da organização para o Médio Oriente, descreveu a situação como uma "crise dentro de uma crise dentro de uma crise" e disse que vastas áreas da região estavam para além do contacto devido a danos nas redes de comunicação.

Esta bola de neve de crises pode ainda ser adensada pela demora da chegada da ajuda internacional a Alepo, uma vez que esta é uma das áreas de mais difícil acesso da Síria, estando apenas disponível uma pequena travessia na fronteira turca para transportar recursos para as zonas detidas pela oposição.

Segundo a Al Jazeera, mesmo o pedido de ajuda das Nações Unidas para entrar em áreas da Síria detidas pela oposição tem de ser renovado de seis em seis meses, o que faz com que os habitantes locais sintam constantemente a incerteza se a ajuda que necessitam para sobreviver irá ou não chegar.

A grande maioria da população de 4,6 milhões de pessoas que vive na região de Alepo precisa de ajuda humanitária para sobreviver. O posto fronteiriço de Bab al Hawa, que liga a província de Idlib, no noroeste da Síria, à Turquia, é a principal rota através da qual as remessas da ONU entram atualmente nas zonas detidas pela oposição nessa área e em Aleppo, remessas essas que chegavam a 2,7 milhões de pessoas no noroeste da Síria todos os meses e que foram agora interrompidas.

Em declarações à CNN, Madevi Sun-Suon, porta-voz do Gabinete de Coordenação de Assistência Humanitária das Nações Unidas, revelou que a ajuda transfronteiriça da ONU à Síria foi "temporariamente interrompida devido a desafios rodoviários". "Em particular, a estrada de Gaziantep para o nosso Centro de Transbordo em Hatay. Estamos a explorar todas as vias para chegar a quem precisa e a realizar avaliações de viabilidade. Temos ajuda, mas esta questão da estrada é um grande desafio a partir de agora".

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, instou na segunda-feira a comunidade internacional a ajudar milhares de famílias atingidas, salientando que "muitas já necessitavam urgentemente de ajuda humanitária".

O tremor de terra ocorreu a 33 quilómetros da capital da província de Gaziantep, no sudeste da Turquia, próximo da fronteira com a Síria, a uma profundidade de 17,9 quilómetros.

Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) o sismo registou uma magnitude de 7,8 e sentiram-se dezenas de réplicas, uma das quais de pelo menos 7,6.

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