O fim da editora Deriva - TVI

O fim da editora Deriva

  • 8 mar 2018, 18:19
Deriva editores

Depois de 15 anos de atividade e mais de duas centenas e meia de livros

A Deriva editores chegou ao fim, por incapacidade de fazer frente às distribuidoras e às grandes superfícies, anunciou hoje o editor António Luís Catarino, depois de 15 anos de atividade, durante os quais publicou mais de duas centenas e meia de livros.

Criada em 2003, no Porto, a Deriva foi vencida pelo cansaço de “lutar contra tempestades”, donde não se perspetivavam “sequer bonanças próximas”, acompanhado por “impossibilidades burocráticas e as diversas austeridades económicas que, para as pequenas editoras, nunca deixaram de existir”, revela a editora. A distribuição foi um dos principais problemas.

Na distribuição há uma parte de leão. Perto de 60% do custo dos livros vai para as distribuidoras, o resto vai para as tipografias, que entretanto burocratizaram cada vez mais o acesso às publicações, fazendo com que as pequenas editoras pagassem antes da edição dos livros”.

As grandes cadeias como a FNAC e a Bertrand são outro problema, porque não fazem stock, o que quer dizer que um livro tem entre três a quatro meses de vida.

Para uma editora que aposte nos 'best-sellers', isto não faz mal, para uma editora que aposte em 'long-sellers', como livros de história, sociologia, antropologia, ensaio, literatura ou estudo de literatura, poesia, isto não tem lugar, três meses depois, os livros estão a ser devolvidos”.

As pequenas livrarias também não são solução, porque, apesar de manterem os livros em 'stock' durante mais tempo, enfrentam elas próprias dificuldades de tesouraria, que fazem com que só consigam pagar à editora uma vez por ano, disse António Luís Catarino, sublinhando, contudo, que essas pequenas livrarias de Lisboa, Coimbra e Porto são “as melhores recordações” que leva.

António Luís Catarino, que já anteriormente tinha estado ligado a outras pequenas editoras (a Centelha e a Fora do Texto, em Coimbra), não vislumbra soluções para este pequeno mercado alternativo, em grande parte por responsabilidade das próprias editoras.

“Nunca vi uma vontade genuína, verdadeira, de se juntarem e fazerem uma alternativa à distribuição, porque são pequenas editoras mas têm uma personalidade muito própria, muito forte, que impede muitas vezes o entendimento entre elas, e isso é uma coisa que me ficou, a dificuldade de entendimento e de arranjarem alternativas sólidas no campo da distribuição, que é isso que nos mata”.

Entre os autores publicados pela Deriva, contam-se Jean Claude Ponçon, a Prémio Nobel austríaca Elfriede Jelinek, que publicou com esta editora “Manual de Sabotagem - Escritos sobre política, memória e capitalismo”, o filósofo russo, teórico da cultura europeia e das artes Mikhail Bakhtin ou o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein.

No que respeita aos autores portugueses, António Luís Catarino mostra-se orgulhoso de ter dado a conhecer alguns nomes que entretanto se afirmaram no mercado livreiro, como Filipa Leal, que começou na Deriva, o grande prémio do conto da APE Paulo Kellerman, José Ricardo Nunes, que agora está na Tinta-da-China, ou ainda o finalista do prémio de ensaio da Sociedade Portuguesa de Autores Ricardo Gil Soeiro.

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