Partículas nocivas à saúde descobertas em escolas primárias - TVI

Partículas nocivas à saúde descobertas em escolas primárias

(REUTERS)

Tese de doutoramento realizada na Universidade de Coimbra analisou 51 escolas primárias daquele concelho

Uma tese de doutoramento realizada na Universidade de Coimbra, que partiu da análise a 51 escolas primárias daquele concelho, concluiu que estas apresentam níveis muito elevados de partículas atmosféricas em suspensão, que podem criar problemas de saúde nas crianças.

Os 1.019 alunos das escolas primárias - públicas e privadas - analisadas, aquando das medições da qualidade do ar no ano letivo 2010/2011, encontravam-se expostos a níveis superiores à concentração máxima de referência (CMR) de PM2,5 (partículas atmosféricas em suspensão) e «praticamente a totalidade dos alunos» (com exceção de 35 alunos no outono/inverno) estavam expostos às PM10 (partículas inaláveis, que constituem também um elemento de poluição atmonsférica), concluiu a tese da investigadora Ana Ferreira, intitulada «Qualidade do ar interior em escolas e saúde das crianças».

As PM2,5 são as partículas presentes no ar que mais preocupam Ana Ferreira, por serem de «menor dimensão e porque, ao serem alojadas nos bronquíolos, podem causar graves problemas de saúde».

A própria Organização Mundial de Saúde considerou estas partículas como um dos poluentes «mais graves em termos de saúde pública», disse à agência Lusa a investigadora, que, no seu projeto, verificou a presença de «rinite alérgica, asma e dificuldades respiratórias» nos alunos, em salas com concentrações de partículas acima da CMR.

O estudo registou também concentrações médias de dióxido de carbono «muito acima da concentração máxima de referência» nas salas de aula, chegando, por vezes, «a ultrapassar duas a quatro vezes o valor de CMR», disse à agência Lusa a também vice-presidente da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra.

Os alunos mais expostos apresentaram «valores de falta de concentração significativamente superiores face às crianças não expostas», tendo-se também registado «a presença de dores de cabeça, tonturas e irritação das mucosas dos olhos», entre outros sinais.

Ana Ferreira registou ainda compostos orgânicos voláteis presentes nas salas e temperaturas e humidade «alteradas», face ao valor de referência.

Segundo a investigadora, o principal problema «é a falta de ventilação existente nas escolas», sendo que no outono e inverno, com as portas e janelas fechadas, «os poluentes ficam acumulados nas salas de aula».

O pavimento de madeira antigo, o uso «da vassoura em vez do aspirador» na limpeza, a degradação das infraestruturas e a utilização de quadros de giz são outros dos fatores que podem levar aos níveis registados na investigação.

A investigadora salientou que em 2013 a legislação relativa à qualidade do ar foi alterada, «abolindo-se por completo a obrigação de se certificar e auditar os edifícios», sendo «um retrocesso político grave».

«Falou-se do amianto, mas este não é o único nem o mais perigoso poluente do ar», realçou, defendendo que a autarquia deveria atuar e investir na ventilação dos edifícios, ao mesmo tempo que se deveria encetar um «trabalho de prevenção» nestes locais.

Ana Ferreira questionou também a possibilidade de, «com o aumento do número de estudantes por sala», se diminuir a qualidade do ar.

As 51 escolas públicas e privadas de Coimbra em que foi medida a qualidade do ar estão a funcionar, à exceção de Vil de Matos.

Contactada pela agência Lusa, a Câmara de Coimbra referiu que pretende ter acesso ao estudo e analisá-lo, para eventualmente, depois, tecer algumas considerações.
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