Covid-19: casos disparam em Lisboa e especialistas admitem recuo no desconfinamento - TVI

Covid-19: casos disparam em Lisboa e especialistas admitem recuo no desconfinamento

Especialista diz que os dados mais recentes indicam um possível retrocesso na capital

O concelho de Lisboa está agora no limiar da incidência da covid-19 definido pelo Governo, com uma média 118 casos por cada 100 mil habitantes. O índice de contágio R(t) para a região de Lisboa e Vale do Tejo situa-se em 1,11.

Numa análise aos mais recentes dados, divulgados esta sexta-feira, o especialista Tiago Correia refere, "se há mensagem consistente, para o bem e para o mal, que o Governo passou é que vai seguir aquela matriz de risco à risca que o concelho de Lisboa arrisca-se, na próxima revisão das medidas, a ter de andar para trás no desconfinamento ou parar o processo de desconfinamento tal qual aconteceu com todos os concelhos do país".

O professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade de Lisboa refere também que o concelho "merece toda a atenção que os outros têm tido" e que a dúvida que pode surgir é se a medida será aplicada ao concelho, ou ao nível das freguesias.

Para Tiago Correia, o facto de o concelho de Lisboa ser um dos maiores em termos de população não deve ser um critério a utilizar pelo Governo, até porque se deve ter uma só voz.

O especialista lembra que por variadas vezes utilizou a "expressão do ioiô", que considera ser a única estratégia eficaz para controlar a pandemia. 

Ainda há uma semana a matriz de risco estava no verde, havia um descanso muito grande, e agora, de repente, parece que nos caiu o inferno em cima. Isto tem de ser interpretado com alguma normalidade, não havia outra forma de gerir este processo a não ser com estes vaivéns”, refere Tiago Correia.

Tiago Correia acredita que com o tempo a situação epidemiológica da capital vai voltar a estabilizar e esclarece que não acredita que os festejos do Sporting estejam relacionados com algum aumento do número de contágios na região.

Houve uma grande insistência que a festa do Sporting seria um grande impulsionador do aumento dos contágios, eu não faço essa leitura”, diz o especialista.

O catedrático lembra que os casos relacionados com a festa do título só deverão ter começado a surgir a partir desta quinta-feira e que só será possível aferir o real impacto dos aglomerados verdes e brancos na segunda ou terça-feira.

Para Henrique Oliveira, professor de Matemática no Instituto Superior Técnico, pode haver uma leitura diferente, ainda que os números não sejam "muito dramáticos", até porque "a doença é muito menos perigosa", dado o avanço da vacinação.

Lembrando que é difícil de aferir quem contagiou quem, o especialista diz que "é bastante certo" que este aumento dos casos esteja relacionado com a festa do título do Sporting, contrariando aquilo que é a leitura de Tiago Correia.

As pessoas estavam em cima umas das outras, aos gritos, abraçados", referiu.

Segundo as contas de Henrique Oliveira, cerca de 200 dos casos reportados nos últimos dias estarão ligados aos festejos em Lisboa, sendo que o maior problema é o surgimento das cadeias de contágio que podem surgir desses casos.

Num efeito comparativo, o professor refere que aconteceu algo parecido com o Natal, mas que pode ter um efeito ainda maior, dada a dimensão do evento.

Sobre um eventual recuo no desconfinamento, Henrique Oliveira é taxativo: "Se o concelho de Lisboa começar a ter uma incidência muito elevada terá de ser fechado".

Apesar disso, os cálculos do especialista apontam para um abaixamento dos números nas próximas semanas. Embora os dados oficiais do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge apontem para um índice de transmissibilidade de 1,11 em Lisboa e Vale do Tejo, mas Henrique Oliveira diz que o real valor deve ser já de 1,20.

Ainda assim, e apontando os baixos números de internamentos, o professor diz que a situação "não é dramática".

Num eventual cenário de recuo no desconfinamento, e olhando para a dimensão populacional do concelho, Henrique Oliveira admite que o que pode vir a ser feito é a aplicação de medidas por freguesias.

Dando um exemplo concreto, lembrou que uma freguesia de Lisboa tem mais habitantes que todo o concelho de Odemira, por exemplo, o que obriga a que as medidas a tomar devam ser repensadas.

Leia também: saiba em que nível de risco está o seu concelho

Atualmente há 21 concelhos acima do limite dos 120 casos de covid-19 por 100 mil habitantes definido pelo Governo, segundo a tabela divulgada esta sexta-feira pela DGS. É menos 1 do que a semana passada.

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