O bispo de Beja denunciou hoje que tem havido casos de «trabalho escravo» de imigrantes em explorações agrícolas no Alentejo, mas as autoridades com acções de fiscalização no terreno ainda não detectaram nenhuma situação este ano.
«Tem havido casos também no Alentejo, e em Portugal, de algum trabalho escravo sobretudo de pessoas e grupos» de imigrantes a trabalhar em explorações agrícolas e que «são vítimas de intermediários sem escrúpulos», disse à agência Lusa António Vitalino Dantas.
Segundo o bispo, que não identificou explorações em concreto, as condições de habitabilidade dos imigrantes, «sobretudo quando vêm em grandes grupos», «são quase nulas», porque «em casas já meio abandonadas ou em pré-fabricados ficam muitas pessoas aglomeradas».
Os imigrantes «trabalham muitas horas para vantagem deles, porque conseguem usufruir, ao fim do mês, de um salário que compensa um pouco a sua deslocação, mas nada disso justifica que sejam tratados como se fossem máquinas e não seres humanos».
Segundo o bispo, «tem havido casos de pessoas a alimentar-se nos caixotes do lixo», como aconteceu em 2010 na zona de Serpa, e há dois anos foram encontrados romenos «a fugir de medo e a tiritar de frio e esfomeados na zona de Selmes», Vidigueira.
«São pessoas que estavam a trabalhar na agricultura em condições de escravatura», frisou, referindo que, «às vezes, a culpa nem sequer é directamente dos agricultores, mas, claro, eles precisam da mão-de-obra para uma agricultura intensiva».
A Igreja «só sabe» dos casos quando os imigrantes «já não têm defesa e vêm bater à porta» das instituições católicas e paróquias a pedir ajuda, disse.
«Muitos dos novos imigrantes, sobretudo da Ásia, como não dominam a nossa língua e, muitos deles, nem católicos são, por vezes, não batem às portas das nossas instituições, mas sabe-se que aparecem por aí um pouco abandonados», disse.
António Vitalino Dantas disse que tem denunciado os casos às autoridades, que estão «atentas» e «a fazer um esforço» para os investigar e detectar.
A «posição de alerta» da GNR «é constante» e «este ano não temos caso nenhum de denúncia» de trabalho escravo, «nem através de terceiros, nem de conhecimento próprio através das nossas acções», disse à Lusa o oficial de relações públicas do Comando Territorial de Beja da GNR, tenente-coronel José Candeias.
Além de acções gerais, a GNR está a realizar, desde 1 de Novembro e até final de Fevereiro, a operação «Azeitona Segura», em explorações agrícolas da margem esquerda do Guadiana, onde há «muitos imigrantes sazonais» a trabalhar na apanha da azeitona, lembrou.
«Até ao momento não temos tido casos de qualquer situação que possa estar relacionada com trabalho escravo e quase todos os dias lançamos patrulhas para o campo e para onde trabalham imigrantes», disse o oficial.
A operação «Azeitona Segura» conta com a colaboração da Autoridade para as Condições do trabalho (ACT), Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e da Segurança Social.
Em declarações à Lusa, a directora regional do Alentejo da ACT, Guilhermina Coelho, disse que têm decorrido acções de fiscalização em explorações agrícolas «durante o ano inteiro» e sobretudo desde Outubro na actividade de olivicultura e, até agora, «não foram detectadas situações» de trabalho escravo.
«A ACT está no terreno e atenta a possíveis situações» de trabalho escravo, mas «até ao momento não foram detectadas nenhumas», frisou.
Bispo de Beja denuncia «trabalho escravo» de imigrantes
- tvi24
- 20 dez 2011, 16:36
Em causa estão explorações agrícolas na região
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