A SOS Racismo manifestou na segunda-feira “frustração e perplexidade” pelo facto de o Instituto Nacional de Estatística (INE) não incluir no Censos 2021 uma pergunta sobre a origem étnico-racial dos cidadãos.
Para mim é uma frustração e perplexidade a forma como foi anunciado. Não acredito que haja um outro mecanismo melhor que os Censos para aferir as desigualdades étnico-raciais e encontrar as políticas concretas com fator racial”, lamentou à agência Lusa o dirigente do SOS Racismo Mamadou Ba.
O INE decidiu que não vai incluir no Censos 2021 uma pergunta sobre a origem étnico-racial dos cidadãos, como pretendia a maioria dos membros do grupo de trabalho criado pelo Governo para avaliar a questão.
O presidente do INE, Francisco Lima, explicou na segunda-feira, numa conferência de imprensa, em Lisboa, que se trata de uma “questão complexa, que exige mais recolha de informação”, mas recusou que os Censos sejam o meio mais apropriado para essa recolha de informação, lembrando ainda que a operação censitária é um recenseamento da população e não uma ferramenta para a sua classificação.
Ressalvando que “não leu [ainda] o parecer [do Conselho Superior de Estatística], que recomendou a não inclusão da pergunta e com o qual o INE concordou”, o dirigente da associação SOS Racismo garantiu que a maioria dos membros do grupo de trabalho criado pelo Governo votou pela inclusão de uma pergunta sobre a origem étnico-racial no Censos.
Nove votos a favor da inclusão contra cinco pela não inclusão da pergunta no Censos”, detalhou Mamadou Ba, frisando que “não há instrumento com a mesma abrangência que o Censos”.
Mamadou Ba considerou que “fica mal a tutela e o INE na fotografia”, lembrando que “isto é apenas o começo”.
As recomendações do grupo de trabalho são um património. Queremos que o debate se aprofunde mais e continue no grupo de trabalho, porque o debate não pode acabar aqui”, sublinhou o dirigente da organização.
O presidente do INE referiu também que o Conselho Superior de Estatística recomendou que se encontrassem outros meios para a recolha desta informação, justificando que o Censos não é o meio mais adequado para a recolha de dados cujo objetivo é caracterizar a discriminação e a desigualdade com base na origem étnico-racial.
Francisco Lima anunciou ainda que o instituto vai fazer um inquérito específico dedicado a estas questões, na forma de uma operação piloto que poderá ser feita durante o segundo semestre de 2021, para não coincidir com a realização do Censos, que irá decorrer no primeiro semestre desse ano.