Marco de Canaveses: «Percebi que havia negócios» - TVI

Marco de Canaveses: «Percebi que havia negócios»

Julgamento de Avelino Ferreira Torres

Aquitecto da Câmara Municipal testemunhou no processo em que está a ser julgado Avelino Ferreira Torres

Relacionados
Um arquitecto da Câmara Municipal do Marco de Canaveses disse esta quarta-feira ao tribunal que deixou de dar informações sobre o Plano Director Municipal (PDM) a José Faria quando percebeu «que havia negócios por trás», escreve a Lusa.

Este técnico da autarquia prestava declarações na qualidade de testemunha, no processo em que está a ser julgado o ex-presidente Avelino Ferreira Torres, acusado pelo Ministério Público de seis crimes, um de corrupção, um de extorsão, três de abuso de poder e um de peculato de uso.

Serafim Santos, responsável pelo gabinete do PDM desde Dezembro de 1997, afirmou que José Faria tinha acesso privilegiado ao gabinete mas nunca trabalhou especificamente naquele departamento.

«Era visita frequente e pedia-nos cópias da cartografia. Umas vezes dizia que era para o presidente outras para uns amigos», contou o técnico.

Segundo relatou, José Faria pedia cópias das propostas de alteração ao uso dos solos que o gabinete tinha em curso mas chegou a uma altura «em que considerei que era de mais e avisei-o de que não lhe dava mais cópias».

»A certa altura [que situou entre 2001 e 2002], deixei de dar [as cópias] por causa da insistência. Comecei a ver que poderia haver interesses por trás, ou seja, negócios», referiu o arquitecto.

Ferreira Torres nega ter pressionado testemunhas

Ferreira Torres: José Faria pagava com dinheiro de Avelino

Assumiu que ele e outros técnicos do gabinete começaram a ficar preocupados com o que estava a passar-se e decidiram não dar mais informações a José Faria, apesar de «o verem como alguém ligado ao presidente».

«Sei que ele [José Faria] fez alguns negócios antes do tempo», garantiu o técnico do PDM, sem concretizar que negócios.

O arquitecto ainda acabou por confessar ao tribunal que se fosse Avelino Ferreira Torres a pedir-lhe os documentos lhos entregaria por considerar que, enquanto funcionário, o antigo presidente da Câmara «era o patrão».

O tribunal do Marco de Canaveses ouviu também um ex-funcionário da autarquia dizer que trabalhou num desaterro da quinta de Avelino Ferreira Torres, em Junho de 2004, por ordem dos seus superiores na Câmara.

Belmiro Mendes, que abandonou a Câmara no final de Maio deste ano, precisou ao tribunal que em três dias do início de Junho de 2004 trabalhou com máquinas da câmara na quinta e durante o seu horário de trabalho.

A testemunha acrescentou que foram dois funcionários, cujos nomes indicou, que eram seus superiores hierárquicos, que lhe deram a respectiva ordem.

O antigo funcionário, que declarou ao tribunal «andar de relações cortadas» com o arguido [Ferreira Torres] por causa de um acidente de trabalho mal esclarecido, informou que ainda trabalhou mais duas semanas na mesma quinta mas, nessa altura, com uma máquina de um empreiteiro que prestava lá serviços.

Esse trabalho foi pago a dobrar, assinalou o ex-funcionário, por ter recebido do empreiteiro e simultaneamente da Câmara, que lhe pagou o ordenado por inteiro.

Depois do depoimento desta testemunha, Avelino Ferreira Torres explicou ao tribunal que a zanga com Belmiro Mendes tem origem no facto de não ter sido seleccionado para motorista de autocarros e que noventa por cento do seu depoimento «é mentira».

O tribunal ouviu mais algumas testemunhas na sessão de hoje, nomeadamente dois proprietários que venderam terrenos a José Faria, transacções que alegadamente executou em nome de Avelino Ferreira Torres. O julgamento prossegue a 22 de Julho.
Continue a ler esta notícia

Relacionados