Família com cinco crianças protesta frente à Câmara de Cascais - TVI

Família com cinco crianças protesta frente à Câmara de Cascais

Comunidade cigana

Oito adultos pedem habitação depois da demolição de barracas

Uma família de oito adultos e cinco crianças com menos de seis anos promete passar os próximos dias à porta da Câmara de Cascais até receber uma habitação, depois de a autarquia ter demolido esta segunda-feira as suas barracas, noticia a Lusa.

«A gente está à espera de casa há quinze anos, entretanto os processos do meus três filhos também estão na Câmara, porque eles casaram e têm filhos. Como aquele terreno onde estávamos foi vendido, puseram um aviso de que ia tudo abaixo, mas nunca esperávamos que nos deixassem no meio da rua», contou à Lusa Alice Conceição, de 51 anos, que passou a tarde frente aos Paços do Concelho, na esperança de falar com algum responsável do executivo.

«Até carrinhas de intervenção levaram para nos controlar, nem podíamos dizer nada. E as nossas coisas tiveram de ficar espalhadas, na Polícia Municipal, no centro paroquial, em vários sítios», acrescentou Mara, uma das noras, lembrando que foi a própria autarquia a permitir a construção das barracas num terreno em Trajouce, há quatro anos.

Para todos os membros da família, que acabou por estar toda reunida junto à Câmara, não restam dúvidas de que o município tem tido uma atitude discriminatória: «Se não fôssemos ciganos, sem possibilidades e advogados, não faziam isto», defendem.

Uma vez que a manifestação de revolta de Alice Conceição nos Paços do Concelho não surtiu efeitos, a família entregou um pedido de reunião com o vereador da Habitação e Acção Social, Manuel Andrade.

Até receber uma resposta, os quatro casais garantem estar dispostos a permanecer junto à Câmara, pelo menos durante o dia.

«Arranjam-nos uma pensão até sexta-feira, mas e depois disso? Se for preciso trago mantas e venho dormir para aqui, vimos morar para a porta da Câmara», garantiu Carlos Silva, de 58 anos, marido de Alice Conceição, explicando que a autarquia tem uma ideia errada dos ciganos. «Se nos dessem casa, pagávamos como todo o mundo», assegurou.

Contactado pela Lusa, o vereador Manuel Andrade explicou não ter conhecimento de qualquer autorização para a ocupação do terreno de Trajouce, onde será construído um campo de treino para a Protecção Civil, e sublinhou que a família, «não recenseada» no Plano Especial de Realojamento municipal andou em vários locais de Cascais depois de ter sido indemnizada por outra autarquia do distrito de Lisboa.

«Ainda assim, procurámos melhorar as condições de vida e a Segurança Social já assumiu a responsabilidade de pagar a renda de uma casa, desde que a família a procure», afirmou. Manuel Andrade negou ainda qualquer discriminação, lembrando que o município já realojou «dezenas de famílias ciganas e de outras etnias».
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