O acordo ortográfico da língua portuguesa deverá passar por um período de transição nos próximos seis anos. Limadas as arestas da lusofonia, o português que se escreve nos vários continentes ficará mais próximo. Mas os especialistas continuam divididos.
Em declarações ao PortugalDiário, a presidente da Sociedade da Língua Portuguesa (SLP), Maria Elsa Rodrigues dos Santos, disse ter recebido como uma boa notícia a aprovação por parte do Governo da proposta do segundo protocolo modificativo ao Acordo ortográfico da língua portuguesa, de 1991.
«O Brasil tem muitos falantes e correríamos o risco de ficar isolados», apontou a linguista, salientando o acerto em estabelecer um período de transição de seis anos.
Maria Elsa Rodrigues dos Santos admitiu que o processo possa gerar dificuldades, mas disse acreditar que a adaptação acabará por ser um processo «natural». «Tivemos várias reformas da língua, que fomos aceitando», relevou, recordando a «reforma do ph de 1945», quando «pharmácia» passou a escrever-se «farmácia».
A presidente da SLP frisou que da parte do Brasil também haverá cedências e que esta será uma forma de impor internacionalmente uma língua com mais de 200 milhões de falantes.
«Alternativa seria ficarmos isolados»
A mesma opinião foi expressa pelo linguista e consultor do Ciberdúvidas, D`Silvas Filho. «A alternativa seria ficarmos isolados, orgulhosamente sós neste canto da Península Ibérica com a nossa língua portuguesa», adiantou ao PortugalDiario, realçando que seria a «língua brasileira» que acabaria «espalhada pelo mundo», dada a sua dimensão.
O especialista salientou ainda que, com este acordo, se admite «uma dupla grafia» para palavras como facto e pacto. Desdramatizando as alterações, recordou que «antes do acordo entrar em vigor, daqui a seis anos, estará publicado o vocabulário comum».
«Lamentável» que Portugal continuasse fora
Já o professor e académico Malaca Casteleiro, um dos mais acérrimos defensores da alteração da norma ortográfica, esta notícia como «importante e gratificante». «Era lamentável que houvesse já três países que aprovaram o protocolo e que Portugal continuasse de fora», disse à agência Lusa.
Leia aqui a proposta do Governo aprovada em Conselho de Ministros.
Para Malaca Casteleiro o prazo de seis anos «é razoável» e suficiente para levar a cabo as alterações propostas no texto do acordo. «Se o objectivo é promover a lusofonia, é claro que para o alcançar é útil, é conveniente, é praticamente indispensável que ele entre em vigor nos oito países» de língua oficial portuguesa e em Macau.
«Língua portuguesa vai cobrir-se de ridículo»
Já o escritor Vasco Graça Moura, confrontado com a notícia da ratificação do Acordo Ortográfico, é peremptório: «Acho que é um erro!».
Num artigo de opinião recentemente publicado no Diário de Notícias, Vasco Graça Moura escrevia que «a aplicação do Acordo não levará apenas ao caos no ensino nos oito países. Levará a que a língua portuguesa se cubra de ridículo no plano internacional».
Mesmo sem se abordar a questão dos interesses culturais, políticos, económicos ou geostratégicos em jogo, continua Graça Moura, «qualquer leigo verifica que o Acordo não traz qualquer utilidade ou mais-valia. Enferma de muitos vícios e, a entrar em vigor, será altamente pernicioso nos mais variados planos».
Ao PortugalDiário, o escritor disse ter esperança de que a 7 de Abril, no Parlamento, «se encontre uma solução razoável». Uma solução, diga-se, muito próxima do que existe actualmente: «Corrigir as muitas deficiências do texto [do acordo ortográfico] e considerar legítimas as diferentes grafias nos vários espaços da língua, as quais passariam a figurar nos dicionários e vocabulários».
Acordo ortográfico: indispensável ou um erro?
- Hugo Beleza
- e Luísa Melo
- 6 mar 2008, 18:30
Escrita ficará uniformizada para 200 milhões de falantes. Mas alterações na ortografia continuam a dividir especialistas. «A alternativa seria o orgulhosamente sós», dizem uns. Outros perspectivam que o português vai «cobrir-se de ridículo» Leia aqui o que muda com o Acordo Ortográfico
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