Barbieri Cardoso, Álvaro Pereira de Carvalho, José Barreto Sacchetti, Casimiro Monteiro e António Rosa Casaco. São os nomes dos perpetradores, como Irene Flunser Pimentel se lhes refere, que foram sustentáculos da PIDE/DGS, a polícia política do antigo regime liderado por Oliveira Salazar e, posteriormente, Marcello Caetano.
À TVI24, falando sobre o seu novo livro "Os Cinco Pilares da PIDE", a historiadora justifica a escolha pela operacionalidade de cada um, mesmo que em patamares diferentes.
Podias ter escolhido os diretores da PIDE, Agostinho Lourenço, Neves Graça, Homero de Matos, Silva Pais... Mas, considero que um dos que escolhi, Agostinho Barbieri Cardoso, que era diretor-adjunto, era na prática se calhar o verdadeiro diretor", justifica Irene Flunser Pimentel.
A autora sublinha que "Barbieri Cardoso era muito próximo de Salazar. Do ponto de vista ideológico talvez seja de todos o que tem um relacionamento mais próximo do salazarismo". Quanto aos demais, "Álvaro Pereira de Carvalho era talvez a figura mais tecnocrática" e "José Barreto Sacchetti é talvez o elemento que mais presos políticos conhecem".
Depois, temos o tarimbeiro, que é o António Rosa Casaco. É o que está mais tempo na PIDE, está lá desde os anos 30, até 1974 e consegue fugir. É o elemento que dirigiu a brigada que foi a Espanha matar Humberto Delgado e Arajaryr Campos, sua secretária e amante. Sendo que Casimiro Monteiro, pelo menos, foi acusado da autoria material", lembra a autora.
Sendo que, operacional Casimiro Monteiro também "está por detrás da morte de Eduardo Mondlane [fundador da Frelimo], em Moçambique e está por detrás de uma quantidade de ações de penetração, por exemplo, na Tanzânia, durante todo o período final da guerra colonial".
"Monstros ou homens vulgares"
Em entrevista à TVI24, Irene Flunser Pimentel justifica o novo livro, que será lançado esta semana, com a necessidade de "dar a imagem humana das pessoas, porque nenhuma polícia, nenhuma instituição funciona sem pessoas. Queria mostrar como eram estes perpetradores, envolvidos em crimes, de violência e tortura contra os presos políticos. São monstros ou são homens vulgares?".
Os arquivos da própria PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), da sucessora DGS (Direção-Geral de Segurança) e da comissão de extinção dessas polícias políticas serviram de apoio à historiadora para retratar os cinco. Dos que não fugiram - como Rosa Casaco e Casimiro Monteiro - Irene Flunser Pimentel salienta os depoimentos com que se justficaram: "sempre o mesmo discurso. Não falam muito de religião, mas falam de moral e sempre com aquela coisa de que estão a defender a pátria".
Sachetti não era a pessoa que torturava directamente, mas era a pessoa que à noite ia ao Nina Bar, próximo da António Maria Cardoso e depois ia ver o que estava a acontecer dentro das salas de tortura, com os presos que eram impedidos de dormir. E os presos quase todos se lembram da figura teatral e sobretudo do perfume", refere.
As pessoas estavam a ser interrogadas, sem dormir, sem poderem tomar banho, sem poderem fazer a sua higiene e havia quase esta provocação. Aliás, Barbieri Cardoso também é conhecido por causa disso", acrescenta.
PIDE e Interpol
No livro, a investigadora faz notar que "a PIDE, ao contrário de outras polícias, era uma polícia de repressão interna e ao mesmo tempo de repressão externa" e "que tinha um relacionamento com as agências secretas, inclusive de países democráticos".
Barbieiri Cardoso tinha ido a uma reunião da NATO. Estava em Paris com amigo Alexandre de Marenches, chefe dos serviços secretos franceses, quando é informado de que está a acontecer uma revolução no país", lembra Irene Flunser Pimentel.
A colaboração entre serviços secretos de uma ditadura e de democracias é um facto que a autora faz por sublinhar no novo livro: "É o caso de França. Os serviços secretos e a própria polícia francesa vigiavam a emigração, os emigrantes, vigiavam os exilados políticos e davam informações à policia política portuguesa. Como o fazim? Através do gabinete nacional da Interpol".
A Interpol era uma polícia que, em principio, deveria gerir ou lidar com os crimes comuns, assassinatos, roubos, etc... Mas, o gabinete português da Interpol português era gerido pela PIDE. Ora, através deste gabinete, a PIDE tinha acesso às informações da Alemanha, da Bélgica, da Holanda, de França", enumera.
Além da história da "polícia política, que atacava e reprimia os inimigos, os adversários políticos do salazarismo", a autora insiste na ideia de "uma historiografia sobre os perpetradores", focada no perfil dos que escolheu como "Os Cinco Pilares da PIDE": "Como é que um ser humano perante outro ser humano, faz o que faz quando está numa polícia política. Como é que tortura outro ser humano. De que forma é que desumaniza primeiro esse preso para depois exercer uma violência que não seria natural acontecer".