Desesperados para abandonar Díli - TVI

Desesperados para abandonar Díli

Timor

Portugueses querem sair de Timor. Chineses, brasileiros e até funcionários das Nações Unidas já fugiram. Professor teve boleia dos australianos. Bairro onde morava foi incendiado. Vizinhos morreram queimados

Saiu de Timor com a ajuda da Austrália. «Estava assustadíssimo. Ouvi tiros à porta de casa, e vi pessoas a morrer. Só queria sair de Díli». É professor, esteve fechado em casa três dias e já não tinha comida no frigorífico. Pede anonimato para proteger o futuro.

Aceitou o convite da embaixada australiana que, depois de descarregar militares, dá boleia de borla até Darwin. «Nem precisei de visto». Fugidos de Timor estão também chineses, brasileiros, indianos e até funcionários das Nações Unidas. «Deveriam ser os últimos a sair, mas muitos portugueses ainda lá estão».

O aventureiro que foi leccionar para Timor aceita a sorte que a Austrália lhe ofereceu. «No fim-de-semana, casas no meu bairro foram incendiadas. Os meus vizinhos morreram. Mais de 300 jovens armadas entraram no bairro e destruíram tudo». O local onde moram mais portugueses, em Díli, está a ser patrulhados pelos GOE (Grupo de Operações Especiais), mas os outros sentem-se sozinhos e com medo.

Sobre o que ainda deixou na casa de Díli, não sabe se ainda resta alguma coisa. «O mais importante é ter conseguido sair a tempo». A mesma sorte não têm outros portugueses.

«Estão desesperados. Querem vir embora». À custa de um engano da embaixada portuguesa, o dia de ontem foi de esperança. «Recebi mensagens a dizer que iriam ao meu encontro em breve. Hoje já me avisaram que não os levam dali para fora». Desespero é a palavra que este professor diz caracterizar a comunidade portuguesa que quer abandonar o território. «Mas não os deixam».

A acusação é sustentada pelas «evidências». «Até é possível apanhar boleia dos australianos. Todas nacionalidades já saíram de Timor. Menos os portugueses. Porquê?»

Falta comida, água e paz. E, claro, aulas. Desde que o país entrou em convulsão, os professores não têm alunos. Díli tornou-se uma cidade fantasma, quando os seus habitantes ¿ habituados à guerra ¿ refugiaram-se nas montanhas.

«Estão à espera de quê para tirar de lá os portugueses? Estão à espera que alguém morra?». O docente não é meigo para as autoridades. «No fundo, querem dar a imagem que está tudo bem e que não há perigo. De tal forma, que os portugueses nem querem voltar. Mas é falso».

Sente que escapou à morte por pouco, mas anseia por regressar quando a situação assim permitir. Por agora, só quer que os colegas saiam de Timor são e salvos. «A situação é cada vez pior», lamenta.
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