«Achei que ia matar toda a gente» - TVI

«Achei que ia matar toda a gente»

Homem que matou o genro com a neta ao colo diz que pensava que a vítima tinha uma arma

O arguido do caso Mamarrosa, pai da juíza que matou o ex-companheiro desta, disse esta quinta-feira ao coletivo de juízes e aos jurados, no início do seu julgamento, que disparou pensando que a vítima ia puxar de uma arma.

António Ferreira da Silva começou a ser julgado esta quinta-feira, no Tribunal de Anadia, pelo homicídio qualificado do advogado Cláudio Mendes. Disse estar disposto a falar começou o seu depoimento manifestando arrependimento e pedindo desculpas à família da vítima.

Fez um relato extenso sobre o relacionamento que teve com Cláudio Mendes, «que era uma pessoa boa e outra má», e descreveu a forma como vivenciou os momentos fatais de 5 de fevereiro de 2011, data em que a vítima exercia o direito a ver a filha menor, num parque na Mamarrosa, em Oliveira do Bairro.

«Foi instinto de defesa. Houve um momento em que ele disse que acabava comigo. Quando meteu a mão ao bolso visualizei uma arma e achei que ia matar toda a gente. A minha cabeça explodiu naquele momento e comecei a disparar cegamente e não vi mais nada. Eu tinha de defender a minha família perante um homem doente e não tratado, e só parei quando a arma ficou sem munições e disse: acabou».

António Ferreira da Silva tentou convencer o Tribunal de que as desavenças ocorridas depois de a filha ter terminado a relação com Cláudio Mendes se tornaram um «calvário» devido ao comportamento deste, afetado por problemas do foro psiquiátrico.

Assumiu a autoria dos disparos e afastou perentoriamente a hipótese de os ter feito para assustar: «Com um único tiro deveria cair e como não aconteceu, pensei que não lhe tinha acertado. Depois continuei a correr e a disparar. Não há nada de racional e pensado».

O arguido justificou o facto de ter levado a sua arma pessoal para o parque, onde a neta ia estar com o pai, porque se viu «sozinho» num quadro de conflito previsível e havia pedido a dois amigos para estarem presentes. Os amigos disseram que não podiam e tentou depois os serviços de seguranças de uma empresa.

«Se soubesse que algum amigo ia comigo não levava arma nenhuma», disse. António garantiu que considerou o Cláudio «como um filho» durante os anos em que frequentou a sua casa, de que teve as chaves e que viu os seus últimos momentos «com os olhos embaciados».

Já à tarde, o advogado José Ricardo Gonçalves, que representa a família da vítima, peguntou ao arguido se tinha memória de ter protelado algumas das visitas de Cláudio Mendes para ver a filha, e se se lembrava de um «mail» que este escrevera em que se lamentava de tentarem impedir que ele exercesse o direito de ver a menor, conforme tinha sido determinado pelo Tribunal de Família.

O procurador quis saber se havia decidido ser ele, avô materno, a definir onde e quando o pai podia estar com a criança.

António Ferreira disse não se lembrar do «mail», nem de adiamentos de visitas por si provocados, a não ser pontualmente e indicando sempre alternativas. Justificou ter sido ele a combinar os encontros com Cláudio Mendes porque a sua filha já não falava com ele.

O procurador insistiu também que o arguido descrevesse a sua formação militar (foi instrutor de operações especiais em Lamego), para evidenciar ser uma pessoa conhecedora do manuseamento de armas e dos seus efeitos.



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