Indígenas brasileiros reencontram manto sagrado após 335 anos na Europa - TVI

Indígenas brasileiros reencontram manto sagrado após 335 anos na Europa

  • Agência Lusa
  • AM
  • 13 set, 08:23
Lula da Silva e a ministra dos Povos Indígenas, Sónia Guajajara (EPA)

Manto tem sido homenageado desde o fim de semana com cantos, rezas, vigílias, fogueiras e conferências

O povo indígena tupinambá celebrou o regresso de um manto sagrado, um dos seus maiores símbolos espirituais, que regressou ao Brasil depois de mais de três séculos na Europa.

“O seu regresso é o início de uma nova história de conquista para os povos indígenas”, afirmou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira, durante a apresentação oficial no Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

Além de Lula da Silva e da primeira-dama, Rosángela 'Janja' da Silva, o evento contou com a presença de membros da etnia tupinambá, da ministra dos Povos Indígenas, Sónia Guajajara, e de representantes de governos regionais.

Para os tupinambá, a chegada do manto a solo brasileiro é de “extrema importância” e, por isso, cerca de 170 indígenas marcaram presença no museu no Rio de Janeiro.

O manto tem sido homenageado desde o fim de semana com cantos, rezas, vigílias, fogueiras e conferências.

O evento foi ainda marcado pelas reclamações do povo originário por não poderem ter o manto nas suas terras.

Desde 04 de julho, quando desembarcou no Brasil, o manto tem sido mantido em condições específicas de conservação no Museu Nacional, onde vai permanecer.

No entanto, no evento, lideranças da etnia disseram que o processo não foi transparente e que lhes foi negado o direito de receber o manto no dia em que desembarcou no Brasil. Acrescentaram que vão continuar a lutar até ser devolvido à terra à qual pertence.

“O nosso património não está a ser tratado com o devido respeito porque somos os verdadeiros herdeiros do manto sagrado”, disse a cacica Yakuy Tupinambá.

O manto ancestral foi repatriado da Dinamarca, onde se encontrava desde 1689.

A imponente peça, com 1,20 metro de altura e 80 centímetros de largura, foi confecionada principalmente com penas da íbis-vermelha - ave também conhecida como garça-vermelha ou guará -, mas também com penas de papagaios e araras azuis e amarelas.

A origem remonta ao século XVI e foi trazido para a Europa pelos holandeses por volta de 1644.

O manto é um símbolo de poder espiritual, que representa a identidade da etnia tupinambá e a ligação à sua ancestralidade.

Era utilizado exclusivamente em cerimónias rituais pelos mais sábios do povo tupinambá e é o único do género que regressou a solo brasileiro. Outros dez exemplares ainda estão em museus europeus.

Acredita-se que vários foram enviados para a Europa por missionários jesuítas e outros foram obtidos como espólio de guerra ou comercializados com os indígenas.

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