Sergei Roldugin é um violoncelista russo que o presidente Vladimir Putin já descreveu como um "músico brilhante", um amigo e um benfeitor, tendo-o mesmo escolhido para padrinho da sua filha mais velha, Maria. Mas, segundo a investigação na base dos Panamá Papers divulgada em 2016, Roldugin ficou conhecido como "a carteira" de Putin, usado pelo Kremlin para movimentar de forma discreta os milhões do presidente.
O caso chegou agora aos tribunais na Suíça: quatro banqueiros da filial do banco russo Gazprombank, três russos e um suíço, começaram na quarta-feira a ser julgados em Zurique por terem ignorado os sinais de alerta e permitirem a Roldugin movimentar milhões de dólares, sem fazerem as devidas verificações para apurar a origem do dinheiro.
Os quatro réus não puderam ser identificados devido a restrições da legislação suíça.
Segundo o The Guardian, o violoncelista Sergei Rolddugin movimentou cerca de 50 milhões em contas suíças entre 2014 e 2016, sem explicação credível para estar na posse destes montantes. Segundo os procuradores suíços, os quatro banqueiros não fizeram o suficiente para apurar a verdadeira fonte dos fundos.
"Todas as provas vão em sentido contrário de que Sergei Roldugin seja o verdadeiro dono dos bens", disse o procurador suíço Jan Hoffmann em tribunal. "Os banqueiros não seguiram as regras e portanto devem ser punidos."
O procurador pediu sete meses de pena suspensa para cada um dos banqueiros.
Rico por ser amigo de Putin
O advogado de defesa, Bernhard Lötscher, disse por sua vez que as dúvidas sobre a verdadeira identidade do dono não são suficientes do ponto de vista criminal, assinalando que é "plausível" que Roldugin seja rico apenas porque é amigo de Putin, beneficiando da sua posição no círculo íntimo do presidente russo que lhe permitirá obter, por exemplo, empréstimos sem garantias ou outros benefícios de financiamento.
A Reuters teve acesso à acusação, que refere que, oficialmente, Putin tem um rendimento de 100 mil francos anuais, mas detém uma enorme quantidade de bens que são geridos por pessoas que lhe são próximas. O Kremlin, que não comentou publicamente este caso, já disse em ocasiões anteriores que o violoncelista está a ser vítima de "Putinofobia" e que as finanças do presidente russo são do domínio público.
O próprio Rodulgin - que entrou na lista de sancionados pelas autoridades europeias depois da invasão russa da Ucrânia no ano passado - já disse ao New York Times que não é um homem de negócios e muito menos um milionário. Putin, por seu lado, já afirmou sobre o amigo violoncelista que ganhou honestamente algum dinheiro com uma participação minoritária numa empresa russa.
Nos documentos para abertura de conta, o violoncelista declarou apenas a sua atividade como músico, profissão que não justificaria os milhões que foram depois movimentados. Segundo a lei suíça, os bancos são obrigados a terminar ou rejeitar relações empresariais sempre que haja dúvidas sobre a identidade da outra parte do contrato.
A leitura da sentença dos quatro banqueiros foi marcada para o dia 30 de março.