A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) afirmou esta segunda-feira que o surto de língua azul se agravou, com prejuízos acima de seis milhões de euros e sem capacidade para recolher os animais mortos devido à doença.
Em comunicado divulgado esta segunda-feira, a CAP alerta para um aumento da mortalidade desde o início de setembro até à atualidade, período em que se contabilizam “mais 40 mil mortes entre a população de ovinos, face a igual período do ano passado” e que o setor "precisa urgentemente de ajudas".
"De acordo com dados recolhidos pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) junto das suas associadas e com base nas estatísticas de animais mortos por esta doença no mesmo período do ano passado, já terá vitimado ao dia de hoje cerca de 40 mil animais de norte a sul do país."
Nesse sentido, a confederação agrícola regista que os prejuízos com a febre catarral ovina já ultrapassaram os seis milhões de euros e que os efeitos poderão agravar-se nas próximas semanas.
A febre catarral ovina ou língua azul é uma doença viral, de notificação obrigatória, que afeta os ruminantes e não é transmissível a humanos, sendo a sua transmissão feita através de um mosquito.
Para conter os efeitos, a CAP insta a inclusão imediata da vacinação obrigatória contra o serotipo 3 da Língua Azul para ovinos e bovinos no Programa de Sanidade Animal sem encargos para os produtores.
O apelo surge porque não é antecipado um período com as condições meteorológicas requeridas para travar, de forma natural, a progressão ampla da doença, que passaria por “cerca de dez dias seguidos, com temperaturas abaixo dos 10/11 graus celsius”, explica a CAP.
“A par desta medida urgente, deve também o Estado português coordenar e executar ações estratégicas de desinsetização por forma a eliminar o maior número possível de mosquitos transmissores deste vírus”, sublinhou a CAP.
A confederação lamentou ainda a falta de capacidade do Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração (SIRCA), que é coordenado pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária do Ministério da Agricultura, considerando que este “não está dimensionado para uma situação catastrófica como a atual”.
“Muitos dos animais mortos por este surto de Língua Azul (…) terão de ser enterrados nos terrenos dos seus proprietários por incapacidade operacional do SIRCA. Esta é uma situação excecional, estando todas as associações de produtores conscientes das precauções que terão de assegurar em termos de biossegurança no enterramento dos animais”, disse.
Além do apelo ao Governo, a CAP lançou outro aos agricultores para que declarem os casos de doença, de forma a que a “real dimensão do surto seja verificada estatisticamente, de forma que os mecanismos de apoio existentes possam ser devidamente acionados”.
O Governo anunciou na semana passada que comprou mais de três milhões de vacinas contra a língua azul.
Em Portugal estão a circular três serotipos de língua azul, nomeadamente o BTV-4, que surgiu, pela primeira vez em 2004 e foi novamente detetado em 2013 e 2023, o BTV-1, identificado em 2007, com surtos até 2021, e o BTV-3, detetado, pela primeira vez, em 13 de setembro.
A vacinação de ovinos e bovinos contra os serotipos um e quatro é obrigatória. Já contra o serotipo três é apenas permitida.
A DGAV autorizou, temporariamente, três medicamentos contra a língua azul, dois dos quais ainda não estão disponíveis no mercado.
A transmissão da doença é feita através de um mosquito e não afeta a qualidade da carne, do leite ou dos seus derivados que possam vir de animais infetados.