Éuma lista de 15 testemunhas que Christine Ourmières-Widener chama no processo em que reclama quase seis milhões de euros à TAP devido ao despedimento que considera “ilegal”. Entre os nomes estão os do ex-ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos e dos dois ministros que a despediram, Fernando Medina e João Galamba, de acordo com as informações recolhidas pelo ECO.
A nível político, também o antigo secretário de Estado Hugo Santos Mendes e Frederico Pinheiro, o ex-adjunto que esteve envolvido em polémica com Galamba, estão arrolados como testemunhas da gestora francesa contra a transportadora portuguesa.
Como avançou o ECO em primeira mão, Christine Ourmières-Widener avançou esta terça-feira com o processo legal contra as duas empresas do universo TAP – TAP SA e TAP SGPS – contestando a sua demissão pelo Governo.
O ECO sabe que o pedido de 5,9 milhões de euros diz respeito à sua saída da TAP sem direito à indemnização, bónus e subsídio de não concorrência e ainda por danos reputacionais e de publicidade pela forma como foi despedida – em direto, através das televisões, com o anúncio de Medina e Galamba com base num parecer da IGF sobre a forma como Alexandra Reis saiu da companhia com uma indemnização de 500 mil euros (verba que já foi devolvida).
Beja, Alexandra Reis, IGF e marido também testemunham
De resto, a própria Alexandra Reis – que está na base de toda a questão – é outra das testemunhas da francesa. A ex-administradora foi afastada por Christine Ourmières-Widener devido a questões de incompatibilidade, mas o processo de saída de Alexandra Reis levantou celeuma pois não teria direito a indemnização de 500 mil euros devido ao Estatuto de Gestor Público.
Por detrás das negociações para a saída de Alexandra Reis esteve a sociedade de advogados SRS Legal. César Sá Esteves, sócio responsável do Departamento de Direito do Trabalho e Segurança Social, também está na lista de testemunhas.
O inspetor-geral das Finanças, António Ferreira dos Santos, que elaborou o relatório da IGF que sustentou a demissão de Christine Ourmières-Widener também vai ser ouvido no processo. A francesa acusou a IGF de “comportamento discriminatório” por não ter sido ouvida neste processo. António Ferreira dos Santos teve oportunidade de explicar que deu oportunidades a Christine Ourmières-Widener para responder por escrito, não a tendo ouvido presencialmente por “falarem línguas diferentes”.
Do lado da TAP, vão testemunhar o antigo chairman Manuel Beja, o administrador financeiro, Gonçalo Pires. Constam da lista ainda Ana Malheiro, Marta Sommer Ribeiro e Diego Hernando Ortega.
A gestora francesa chamou também Mariana Branquinho, da Korn Ferry, que foi a consultora de recursos humanos responsável pelo processo de seleção de CEO da TAP – e no qual a Christine Ourmières-Widener viria a ser contratada. O último a constar da lista de testemunhas é Floy Widener, o marido da ex-CEO da TAP.
Governo “confortável”
Questionados pelo ECO, nem o Ministério da Habitação nem a TAP quiseram comentar o processo. Também as Finanças se remetem ao silêncio.
Mas no briefing do Conselho de Ministros desta quinta-feira, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, disse que “o Governo tomou uma decisão com base num relatório que é absolutamente inequívoco”. “Estamos muito confortáveis com a decisão tomada”, acrescentou, ressalvando, ainda assim, que todos têm o “direito” de se defender.
Na audição na comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, a 4 de abril, a ex-CEO tinha avisado que tinha de recuperar a honra e a reputação de 30 anos na indústria da aviação e que rejeitou demitir-se, como sugerido em reunião com Medina, porque nada tinha feito de errado. “6 de março foi o pior dia da minha vida, por isso, sim, vou tentar reparar a minha honra, com a reputação global que tenho nesta indústria”, afirmou Christine Ourmières-Widener.
A antiga CEO da TAP foi então perentória: “Ter dois ministros a demitir-me com justa causa está a arruinar a minha reputação, perante a minha família, os meus filhos e amigos. Tenho de o fazer”.