Apesar de a saída não ter sido “surpresa”, administrador financeiro da TAP diz que não sabia de nada na indemnização de Alexandra Reis (mas a CEO desmente-o) - TVI

Apesar de a saída não ter sido “surpresa”, administrador financeiro da TAP diz que não sabia de nada na indemnização de Alexandra Reis (mas a CEO desmente-o)

Gonçalo Pires veio reforçar a posição da Inspeção-Geral das Finanças, que o iliba de responsabilidades na indemnização de 500 mil euros de Alexandra Reis. O processo ficou nas mãos de Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja, insistiu Gonçalo Pires. Foi com um email do último, explicou, que enviou a informação à CMVM. E que, mesmo sendo o responsável pelas contas, não lhe cabia a aprovação final

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O administrador financeiro da TAP descartou esta quinta-feira ter conhecimento do acordo para a saída de Alexandra Reis da companhia aérea. “Não tomei a decisão nem ajudei a tomá-la”, afirmou na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP. “Não tive qualquer envolvimento na elaboração do acordo para a saída de Alexandra Reis”, assegurou.

Gonçalo Pires explicou que teve conhecimento da saída mas só “informalmente”, através de uma comunicação da presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, numa mensagem de Whatsapp poucos dias antes da confirmação oficial.

Essa confirmação oficial, acrescentou, só viria a dar-se a 4 de fevereiro de 2022, num email do presidente do conselho de administração, Miguel Beja, dirigido a todo os membros do conselho de administração. Na comunicação explicava-se que Alexandra Reis iria “sair da empresa” e nos “termos do comunicado” à CMVM, o regulador dos mercados.

Foi Gonçalo Pires quem assinava o comunicado ao mercado, nesse mesmo dia. A informação teria de ser corrigida pela TAP a 27 de dezembro, por exigência da CMVM, para deixar claro que a saída da administradora “ocorreu na sequência de um processo negocial de iniciativa da TAP”.

“Não me foi pedida autorização para um processo de indemnização. Eu não tive conhecimento do valor”, respondeu o responsável pelas contas da empresa aos deputados, concretizando que o valor da indemnização, de 500 mil euros, foi enquadrado no bolo total a pagar. “Se tem cabimento orçamental não tem de me ser comunicado”, explicou.

Christine Ourmières-Widener desmente

A versão do administrador financeiro contrasta com a de Christine Ourmières-Widener. A gestora francesa argumenta que Gonçalo Pires foi informado desde o início do processo da saída de Alexandra Reis, acusando-o, assim como a Manuel Beja, de não ter informado o Ministério das Finanças do teor do acordo com Alexandra Reis.

Gonçalo Pires chegou a ser ouvido presencialmente para o relatório da Inspeção-Geral das Finanças, mas o seu depoimento não constava do relatório. O depoimento acabou por ser lido, a pedido dos deputados, esta quinta-feira no Parlamento. O inspetor-geral de Finanças argumentou aos deputados que Gonçalo Pires não esteve envolvido no processo, desconhecendo os meandros da indemnização.

Segundo a versão de Christine Ourmières-Widener, Gonçalo Pires foi informado de que tinha sido alcançado um acordo, tendo-lhe respondido que “julgava que demoraria mais tempo”.

Saída “não foi surpresa”

Gonçalo Pires foi escolhido para a administração da TAP pelo Estado, o acionista maioritário da companhia aérea. Mas, apesar desta ligação, o gestor assegura que não fez qualquer comunicação à tutela sobre a saída de Alexandra Reis.

“Não comuniquei porque não participei no processo”, disse aos deputados, que o questionaram sobre se tinha obrigação de fazer essa comunicação com a tutela. Foi mesmo concretizado se houve algum contacto com o ex-secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, sobre o caso. “Não falei”, garantiu.

Mas, apesar de garantir não estar a par do processo de indemnização a Alexandra Reis, Gonçalo Pires reconheceu que a saída da colega do conselho de administração “não foi uma surpresa”. “Já havia posições discrepantes”, afirmou.

O administrador financeiro também concretizou aos deputados que “era conhecida a intenção da presidente da comissão executiva de fazer alterações”, deixando os deputados a evidenciar desconforto quanto a esta versão, já que o gestor teria, mesmo que não de uma forma formal, noção das alterações que estariam em curso.

“Apercebi-me que este processo poderia acontecer e terminar num acordo de rescisão. Foi precisamente isso que comuniquei à IGF. E que não tinha nenhum detalhe do processo. Não participei”, reforçou.

Questionado sobre se deveria ter sido incluído no processo de indemnização a Alexandra Reis, foi categórico: “não acho que devesse ter sido envolvido porque a decisão devia ser do acionista” e “a comissão executiva não demite os seus pares”.

Galamba confirmou apresentação “discreta” dos lucros (sem Christine a dar voz pelo feito)

Os deputados haviam ainda de questionar Gonçalo Pires sobre a decisão de anunciar os lucros da TAP apenas por comunicado - sem uma conferência de imprensa sem a presidente executiva, já demitida pelo Governo - resultou de qualquer pressão do Governo.

“O momento ‘sui generis’ que a TAP atravessa obrigava a alguma discrição na apresentação de resultados”, argumentou. Foi essa posição que, disse, expressou ao Governo. E em concreto ao ministro das Infraestruturas, João Galamba, seu amigo pessoal – “está entre o meu grupo de amigos chegados”.

O administrador financeiro diz que recebeu da tutela a concordância para que os resultados fossem apresentados com esta “discrição”, confirmando as “instruções” pedidas sobre “a data e o conteúdo”. Galamba confirmou que o esforço devia concentrar-se no comunicado à CMVM e numa apresentação aos investidores.

Acordo da Airbus é “impossível” de renegociar

Ao longo da audição, Gonçalo Pires foi reforçando que são os bons resultados da empresa que estão a permitir levar adiante os objetivos do plano de reestruturação, apesar das barreiras da covid-19, da guerra e das greves. Agora, assegurou, a empresa está em condições para avançar para novos acordos de empresa.

“Quero concordar consigo que o plano de reestruturação foi violento para muita gente. Olhe, foi violento para o contribuinte português e para o Estado português. E foi violento, sobretudo, para os trabalhadores”, argumentou.

O administrador financeiro concretizou que a TAP já negociou mais de três mil contratos com fornecedores, com “poupanças de 150 milhões de euros, antes do início da fase de inflação”.

Mas reconheceu que o polémico acordo assinado por David Neeleman para o leasing de aviões a um valor acima do mercado, que terá servido para o empresário financiar a compra da sua posição na TAP, é difícil de alterar. “Não é fácil, diria mesmo impossível, alterar um contrato de financiamento”, disse. Então como se resolve este problema? “Com mais atividade, mais rentabilidade.”

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