Diogo Lacerda Machado, antigo administrador da TAP, defendeu que a solução encontrada pelo antigo acionista David Neeleman para financiar a companhia aérea fez “toda a diferença”, tendo inclusive beneficiado o Estado. A posição foi assumida numa audição da comissão de Economia no Parlamento.
Tecendo elogios à capacidade de influência de David Neeleman junto da Airbus, destacou que foi o compromisso do americano para manter 226 milhões de dólares na TAP durante 30 anos que “virou a mesa do jogo” na negociação com a fabricante de aviões.
“Aquela negociação virou a mesa do jogo. O principal beneficiado daquele dinheiro que apareceu na TAP foi o Estado, que recuperou o controlo sem pagar nada. E pode ver a TAP passar de 10 milhões para 1000 milhões de valor”, argumentou.
Os 10 milhões são referentes ao valor a que a TAP foi vendida aos privados em 2015 pelo executivo PSD/CDS-PP de Pedro Passos Coelho. E os mil milhões dizem respeito ao atual valor da companhia.
Em causa está o acordo celebrado por David Neeleman com a Airbus, que permitiria à TAP desistir do ‘leasing’ de 12 aeronaves A350 e assinar um novo contrato para adquirir 53 novos aviões. Contudo, vir-se-ia a apurar que a TAP terá pago um valor acima do mercado pelas aeronaves. A operação terá servido para ajudar o americano a financiar a sua própria entrada na TAP.
Fernando Pinto deu opinião sobre o negócio
Sobre este negócio, Lacerda Machado concretizou aos deputados que pediu o aconselhamento de Fernando Pinto, ex-presidente executivo da TAP que trabalhou como consultor na empresa após deixar aquele cargo.
“Eu soube disso quando se assinou o primeiro memorando de entendimento no dia 6 de fevereiro de 2016 às 09:30. Mas tive o cuidado de me sentar com uma pessoa que estimo muitíssimo, em que sempre tive absoluta confiança, o engenheiro Fernando Pinto: perguntei-lhe que me explicasse essa operação, que me desse conta da sua bondade (ou falta dela), técnica operacional económica e financeiramente”, afirmou.
As explicações dadas por Fernando Pinto ao antigo administrador, que é conhecido como amigo do atual primeiro-ministro, António Costa, foi de que a TAP “estava em grave incumprimento do contrato de aquisição dos A350, à beira de perder todo o dinheiro que tinha avançado, 40 milhões de euros”.
“O que Fernando Pinto me disse foi ‘ainda bem que apareceu uma solução, ainda bem que David Neeleman foi capaz de levantar aquele dinheiro da Airbus'. Porque aquele dinheiro vai ficar na TAP por 30 anos, tem a natureza de fundos próprios’”, recordou.
Fernando Pinto, segundo Lacerda Machado, explicou-lhe que o negócio acabaria por ser melhor para a TAP, uma vez que os A350 eram mais efetivos em voos superiores a 10 horas, algo em que a transportadora ainda não tinha grande oferta. E que a troca pelos outros aviões permitiram à TAP relançar a sua operação.
“Ficou elucidado sobre a bondade técnica, operacional, económica e financeira na perspetiva da TAP”, disse. E acrescentou: “Nunca ninguém, que eu saiba, comprou o preço de catálogo a um fabricante de aviões comerciais. Isso não existe.”
A Fernando Pinto teceu fortes elogios: “Acho que Fernando Pinto nunca teve o reconhecimento que lhe era devido. Eu beneficiei imensamente dos conhecimentos, da experiência e da credibilidade de Fernando Pinto. E usei, não sei se até demais, aquele período em que ele foi consultor”.
Saída de Neelaman não foi paga pela TAP
Lacerda Machado afirmou ainda que os 55 milhões de euros pagos para a saída de David Neeleman da TAP não saíram da empresa. “Foram pagos pela Direção-Geral de Tesouro ou pela Parpública, não foi a TAP que pagou a compra das suas próprias ações”, clarificou aos deputados.
Lacerda Machado rejeitou ainda a existência de um “acordo secreto” em 2017 entre o Governo e Neeleman no sentido de antecipar a saída de 226 milhões de dólares da TAP, fazendo cair o compromisso de mantê-lo na companhia durante 30 anos.