“Despacho discussion”: Governo disse à TAP como a TAP devia responder à indignação de Medina e Pedro Nuno Santos - TVI

“Despacho discussion”: Governo disse à TAP como a TAP devia responder à indignação de Medina e Pedro Nuno Santos

Hugo Santos Mendes

Hugo Santos Mendes. Foi este secretário de Estado (na foto) quem fixou o valor (500.000€) a pagar de indemnização a Alexandra Reis e que tentou levar a TAP a alterar um voo de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas ele é agora protagonista de mais um episódio de pressão política

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Os factos tiveram lugar a 26 de dezembro de 2022. Nesse dia, os ministros das Finanças e das Infraestruturas, Fernando Medina e Pedro Nuno Santos, assinavam um despacho a pedir esclarecimentos à TAP sobre o processo de saída de Alexandra Reis. Estavam alegadamente indignados com os 500.000€ que a TAP ia pagar de indemnização e pediam esclarecimentos.

A TAP foi informada pela hora de almoço, tendo começado a preparar as respostas. O que não se sabia é que, nesse processo de esclarecimento, participou um membro do próprio Governo: Hugo Santos Mendes, então secretário de Estado das Infraestruturas num Ministério então liderado por... Pedro Nuno Santos. Ou seja, o Ministério de Pedro Nuno Santos mostrava publicamente a sua indignação enquanto em segredo ajudou a preparar a resposta a essa mesma indignação.

O episódio foi revelado na audição parlamentar de Christine Ourmières-Widener, que ainda é CEO da TAP apesar de ter sido despedida publicamente por Fernando Medina e João Galamba, sucessor de Pedro Nuno Santos. O deputado da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco revelou uma nota de calendário desse mesmo dia, 26 de dezembro, chamada “despacho discussion”. E em que consistia ela? Era uma reunião entre Christine Ourmières-Widener, Manuel Beja e Hugo Santos Mendes para preparar as respostas pedidas por Medina e Pedro Nuno Santos.

Ao longo do encontro foram sendo feitas alterações ao documento, que acabou enviado ao Governo pela meia-noite. A presidente executiva da TAP confirmou esse mesmo encontro aos deputados: “Trabalhámos juntos para redigir esta resposta”. “O secretário de Estado conhecia bem o processo e talvez tenha sido essa a razão para estar envolvido. Estes factos ocorreram há um ano e acho que precisávamos de conhecer todos os factos para assegurar que a resposta era consistente com a realidade. Para mim, tendo de responder a um documento tão importante, não fiquei surpreendida por ver o secretário de Estado, que esteve envolvido no processo, estar também envolvido”, concretizou.

No frenesim das cerca de sete horas de audição à CEO da TAP, o episódio acabou por passar despercebido – mas não foi esquecido, por exemplo, por João Miguel Tavares no podcast “Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer”. E ajuda a confirmar mais uma pressão na TAP e com o mesmo protagonista: Hugo Santos Mendes. Foi ele quem defendeu que a transportadora aérea devia aceder a um pedido de alteração de um voo de Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo que penalizando centenas de passageiros, para não ter o Presidente da República a colocar o país “contra nós” e para que p PR não se tornasse "um pesadelo" para o Governo - uma alteração que a TAP viria a apurar não ter sido pedida pela Presidência, evitando assim a alteração.

A resposta ao despacho pedido a 26 de dezembro por Fernando Medina e Pedro Nuno Santos acabaria por ditar a demissão de Alexandra Reis, tornando também público que a antiga administradora tinha pedido quase 1,5 milhões de euros de indemnização. Mas o valor que acabaria por levar para casa, 500 mil euros, também foi indicado por Hugo Santos Mendes, revelou Christine Ourmières-Widener nessa audição.

Hugo Santos Mendes, tal como Pedro Nuno Santos, acabaria por pedir a demissão na sequência da polémica com a indemnização a Alexandra Reis.

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