Governo não respondeu a email de renúncia de Alexandra Reis. Mas, em 2021, o tema foi mesmo discutido: não havia motivos para tirá-la da TAP - TVI

Governo não respondeu a email de renúncia de Alexandra Reis. Mas, em 2021, o tema foi mesmo discutido: não havia motivos para tirá-la da TAP

Miguel Cruz

Explicação foi dada pelo ex-secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, um dos destinatários do email de Alexandra Reis. Na altura, houve diálogo entre as Finanças e Infraestruturas e concluiu-se que estavam “satisfeitos” com o trabalho da administradora. Porque o pedido era um “formalismo”, devido à saída dos privados da TAP, ficou sem resposta. Meses depois, Alexandra Reis saía com uma indemnização de 500 mil euros

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O Governo não tinha razões para aceitar uma renúncia de Alexandra Reis na TAP quando a antiga administradora, em dezembro de 2021, contactou o executivo para mostrar essa disponibilidade. A revelação foi feita pelo ex-secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, na comissão parlamentar de inquérito sobre a gestão da TAP.

Em causa está um email enviado a 29 de dezembro de 2021, em que Alexandra Reis mostrava disponibilidade, perante a mudança da estrutura acionista, e com a saída dos privados que a tinha levado para a TAP.

O email foi enviado ao então ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos e seu secretário de Estado Hugo Santos Mendes bem como a Miguel Cruz. Segundo Alexandra Reis, ficou sem resposta, o que impossibilitou a sua saída da TAP a custo zero – ao contrário do que viria a acontecer meses depois com uma indemnização de 500 mil euros.

Miguel Cruz revela agora que o email, mesmo não tendo resposta, foi discutido entre os diferentes destinatários. “Não era um email de renúncia” e cumpria “um formalismo muito habitual”, considerou.

Foi então que Hugo Santos Mendes lhe disse que “não havia razão para substituir” Alexandra Reis, que “estavam muito satisfeitos com o trabalho”. Era também essa a sua posição, que partilhou com o então ministro das Finanças João Leão. Como havia consenso,

“Se dissessem, ‘sim, queremos que renuncie’, o passo seguinte era Alexandra Reis renunciar”, confirmou.

Miguel Cruz admitiu que só soube da indemnização paga a Alexandra Reis em dezembro de 2022, no dia em que foi noticiada. Até então, a versão a que tinha acesso era outra.

“A informação que nos foi transmitida é de que Alexandra Reis renunciou” e “nunca outra questão, que não a renúncia, foi colocada em cima da mesa”, garantiu.

No dia após ter saído da TAP, Alexandra Reis ligou a Miguel Cruz, para uma chamada de agradecimento pela forma como trabalharam. O ex-secretário de Estado reconheceu que foi “surpreendido” mas não avançou nos motivos da saída, porque esses tinham ficado claro no comunicado enviado ao regulador do mercado, a CMVM: uma renúncia para “abraçar novos desafios profissionais”.

Finanças não foram informadas da indemnização

Miguel Cruz lamentou que o ministério das Finanças não tenha sido informado sobre a indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis. “Acho que o Ministério das Finanças devia ter sabido mas não foi informado”, disse.

Contudo, como até esse facto ser tornado público havia apenas uma indicação de renúncia, lembrou que o procedimento teria sido outro com a indemnização: “se não for uma renúncia teria de ir à assembleia geral” e à tutela financeira “pela questão da destituição”.

“A informação que o Ministério tem é que há uma renúncia. O secretário de Estado do tesouro o que tinha de fazer era encetar diligencias para a substituição”, explicou.

Afinal, porque saiu João Weber Gameiro?

Outra das saídas da administração da TAP abordadas nesta sessão da comissão parlamentar de inquérito foi a de João Weber Gameiro. O deputado do PSD Paulo Moniz quis saber os motivos.

“Recordo-me muito bem. Demite-se por considerar pessoalmente que não tinha condições para lidar com a pressão que estávamos a ter, especialmente porque quando assume funções, em junho, tínhamos uma expectativa do plano de reestruturação que se veio a mostrar mais demorado”, concretizou.

Mas o social-democrata havia de recordar a versão dada pelo antigo administrador à comissão de inquérito, explicando que a saída se deveu à falta de um contrato de gestão e de seguro.

Na resposta, Miguel Cruz recusou estar a mentir sobre a versão previamente apresentada. E explicou que as razões pessoais para a saída foram ampliadas por esta outra realidade, mesmo com as tentativas do ex-governante de encontrar uma solução.

Miguel Cruz revelou que tentou, por várias vezes, evitar esta renúncia.

“Não havia motivos para [João Weber Gameiro] fazer a avaliação que fez. Ele não sai por não ter o seguro. Ele, quanto muito, sai porque a sua interpretação do risco associado à questão do seguro é diferente daquilo que é aplicado por todos os outros. Tem a ver com o nível de assunção de risco”, insistiu.

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