"Não chorei o dinheiro que lá ficou." Pedrosa confessa que só saiu da TAP quando não havia alternativa: "se tivesse 1000 milhões" salvava a empresa - TVI

"Não chorei o dinheiro que lá ficou." Pedrosa confessa que só saiu da TAP quando não havia alternativa: "se tivesse 1000 milhões" salvava a empresa

Humberto Pedrosa (José Sena Goulão/Lusa)

Ex-acionista da TAP explicou aos deputados como foi definido o caminho para a TAP após a pandemia. E lembrou que houve diferenças de tratamento entre ele e o parceiro David Neeleman. Apesar de ter perdido dinheiro, continua a defender o projeto da transportadora aérea

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Humberto Pedro, ex-acionista da TAP, revelou que gostaria de se ter mantido na TAP e que, se tivesse os mil milhões de euros necessários para apoiar a companhia aérea aquando da crise provocada pela covid-19, teria feito esse investimento.

Na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, o empresário reconheceu que a saída da TAP “não foi naturalmente o que eu gostaria”. “Não considero que tenha sido escorraçado da TAP. Mas chegou a um ponto em que não havia condições para continuar. A estratégia do Governo não contava comigo”, concretizou.

Humberto Pedrosa confirmou que em março de 2020 os acionistas privados foram chamados a apoiar a TAP. Mas, perante as necessidades da empresa, essa solução não foi possível. Porque, se o valor estivesse disponível, tê-lo-ia feito.

“Não conheço nenhum empresário privado que tivesse disponibilidades de mil milhões de euros para colocar na TAP ou noutro lado qualquer. Não estamos a falar em trocos. Para dar uma ajuda à TAP eram precisos mil milhões de euros. Eu não tinha. Mas garanto que, se tivesse, tinha posto. E tinha posto porque acredito na TAP”, afirmou aos deputados.

Pedrosa vincou várias vezes que acredita no projeto da TAP e que pode ainda ser “uma grande companhia”, mas que precisa de uma “boa gestão” para chegar a bom porto. O caminho de recuperação iniciado com a compra em 2015, defendeu, foi "brutalmente interrompido pela pandemia".

“Não chorei o dinheiro que lá ficou” (e a diferença de tratamento face a Neeleman)

Humberto Pedrosa ficou na TAP até 2021, acompanhando a negociação do processo de reestruturação da transportadora aérea. O dono do Grupo Barraqueiro assegura que ficou na TAP enquanto lhe foi permitido, até por acreditar que a pandemia seria algo passageiro: “Infelizmente veio mais tarde a tornar-se evidente que o plano de reestruturação desenhado e aprovado não previa nem permitiria a manutenção da nossa participação. Nessa altura, transferimos a nossa participação para o Estado português”.

Já o parceiro David Neeleman saiu mais cedo. E em condições bem diferentes, com uma compensação de 55 milhões de euros. Pedrosa tem uma explicação para esta diferença: “David Neeleman era um investidor. Entrou na TAP para fazer uma mais-valia num determinado espaço de tempo. Eu sou um empresário. Não estou habituado a entrar nas companhias para as vender. E fiquei até ser possível ficar. Quando verifiquei que não havia condições para poder continuar, saí, com prejuízo”. Ainda assim, assegurou que não guarda rancores: “Não chorei o dinheiro que lá ficou. Ficou porque teve de ficar. Perdi porque tinha de perder”.

Questionado pelos deputados, Pedrosa reconheceu que a saída antecipada de Neeleman foi uma “questão de gestão de crise”. “O Estado chamou para si própria a gestão dessa crise e as conversações com Bruxelas. E David Neeleman perguntou-se o que estava ali a fazer”, disse.

O acordo de 55 milhões foi feito com o então ministro das Infraestruturas, mas Pedrosa desconhece os termos. “Se calhar também a vontade do Governo de afastar David Neeleman” também precipitou o pacto, considerou.

Pedrosa criou linha de crédito com “garantia pessoal”

Ao entrar na TAP em 2015, Pedrosa faz um retrato de uma empresa em dificuldades que “não conseguia gerar receitas suficientes para fazer face aos custos incorridos” e sem “sem saldo de caixa e pagamentos em atraso”.

Colocava-se então a “oportunidade única de participar no relançamento de uma empresa estratégica para a economia portuguesa”, apesar das avaliações negativas. Pedrosa reconheceu que utilizou fundos próprios e abriu uma linha de crédito “com garantia pessoal minha”.

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