As taxas Euribor estão a subir de forma ininterrupta desde janeiro do ano passado, mas agosto poderá ser um ponto de viragem, com a média das Euribor a seis e a 12 meses a recuar pela primeira vez desde o início do ano passado.
Se o mês de agosto tivesse terminado esta quinta-feira, essa já seria, aliás, uma realidade. Em julho, a média da Euribor 6 meses fixou-se em 3,942% e a média do mês de agosto, até dia 17, estava em 3,941%, menos 0,001 pontos. Na Euribor 12 meses a diferença é ligeiramente maior: em julho a taxa fixou-se nos 4,149% e em agosto está em 4,070%, menos 0,079 pontos. Se se mantiver esta tendência até ao final do mês, será a primeira vez desde o início do ano passado que se verifica uma descida de taxas, deixando antever que a subida de juros pode já ter atingido o seu ponto máximo.
A Euribor 6 meses e a Euribor 12 meses, recorde-se, são os indexantes utilizados na esmagadora maioria dos contratos de crédito à habitação em Portugal. Segundo dados do Banco de Portugal, 87% dos contratos de crédito à habitação em Portugal estão indexados a taxas Euribor e destas, 40% estão indexados à Euribor 12 meses e 35% à Euribor 6 meses.
No que diz respeito à taxa Euribor 3 meses, que representa 23% dos contratos de crédito à habitação em Portugal a taxas variáveis, ainda não deverá ser em agosto que se irá sentir uma inflexão da subida. Em julho, o valor médio atingiu os 3,672% e nos primeiros 17 dias de agosto o valor está em 3,766%, uma subida de 0,094 pontos que, ainda assim, é a menor subida registada desde junho do ano passado.
“É bastante provável que já tenhamos assistido em julho aos máximos da Euribor 12 meses deste ciclo de subida das taxas de juro. A média da Euribor 12 meses em agosto será provavelmente mais baixa do que a de julho”, salienta o economista Filipe Garcia, da IMF – Informação de Mercados Financeiros. Já no que diz respeito às restantes taxas, Filipe Garcia diz que “a Euribor 6 meses está a estabilizar e a média de agosto devera ser semelhante à de julho” enquanto “a Euribor a 3 meses ainda deverá continuar a subir para convergir com as taxas de referência do Banco Central Europeu (BCE).
A atuação futura do BCE é, aliás, um ponto determinante para avaliar o que vai acontecer às taxas Euribor. O analista da XTB, Vítor Madeira, considera que “será muito prematuro anunciar que as taxas Euribor atingiram o seu ponto máximo” e recorda que na última reunião do BCE, Christine Lagarde enfatizou que embora a taxa de inflação estivesse a descer na zona euro a um bom ritmo, ainda permanecia muito alta. “Assim, a possibilidade de nova subida da taxa de juro continua em cima da mesa. Serão necessários mais dados concretos que mostrem que a inflação continua a cair para os níveis do objetivo”, sublinha Vítor Madeira.
BCE volta a subir taxas este ano?
A grande questão que ainda se coloca é saber se o BCE voltará a subir taxas de juro este ano. “O mercado atribui uma probabilidade de um pouco mais de 50% de uma subida adicional de taxas em setembro”, sublinha Filipe Garcia, recordando, no entanto, que os mercados dão quase como certa “uma subida até ao fim do ano.”
E se os dados dos preços pressionam o BCE a voltar a subir taxas ‑ a inflação ainda está num valor superior a 5%, muito acima do objetivo dos 2% - a desaceleração da economia que se faz sentir nos maiores países da zona euro também é um fator a considerar.
Vítor Madeira concorda com Filipe Garcia e sublinha que neste momento “o mercado ainda coloca a possibilidade de nova subida até ao final do ano”, mas lembra, por outro lado, que “a produção tem diminuído substancialmente nos principais motores europeus (Alemanha e Itália), o que pressiona o banco central. O analista da XTB lembra mesmo que “nesta altura a Alemanha já está em recessão técnica”, uma realidade “que dificulta as ações do BCE”.
Tudo somado, o mercado ainda vê com grande probabilidade de pelo menos mais uma subida de 25 pontos base até ao final do ano por parte do BCE”, conclui Vítor Madeira.
Num inquérito feito pela agência Reuters a 70 economistas, publicado a 11 de agosto, 53% das respostas apontavam para que não houvesse uma subida de taxas de juro pelo BCE na reunião de setembro, mas os mesmos 53% acreditam que as taxas de juro deverão subir mais 0,25 pontos percentuais até ao final do ano.
NOTA | O BCE tem três taxas de juro de referência:
- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está nos 4,25%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;
- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está em 3,75%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;
- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro a que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,50%.
Prestação da casa continua a subir
Apesar da expectável travagem na subida das taxas de juro entre julho e agosto, quem tiver o seu crédito à habitação revisto em setembro, irá voltar a sentir uma subida na prestação a pagar ao banco. Uma situação que decorre do facto de termos de comparar a taxa de juro em vigor na última revisão e não a taxa praticada em julho.
A prestação de quem tiver o seu contrato revisto em setembro será feita com base nas Euribor de agosto. E se se levar em conta os dados até dia 17, então, num contrato de 150 mil euros, indexado à Euribor 12 meses, com prazo de 30 anos e um spread (margem do banco) de 1%, a subida será de 238,3 euros, passando de uma prestação ligeiramente acima de 573 euros, praticada há um ano, para uma prestação superior a 811 euros.
Quanto já aumentou e quanto poderá subir em setembro a prestação da casa
Empréstimo a 30 anos, com spread de 1% e valores das taxas Euribor de agosto com dados até dia 17
EURIBOR 3 MESES
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