Era para localizar objetos e não para perseguir pessoas: AirTags - o bom, o mau e os vilões - TVI

Era para localizar objetos e não para perseguir pessoas: AirTags - o bom, o mau e os vilões

  • Filipe Maria
  • 10 jun 2023, 18:00
Apple AirTag (The Washington Post via Getty Images)

A intenção da Apple era boa. Mas nem sempre uma boa intenção resulta somente em boas ações

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Desde que surgiram em 2021 que as AirTags têm proliferado, mas o que começou originalmente como um meio para localizar objetos perdidos já se transformou também numa forma acessível para perseguir pessoas. Já existem relatos de pessoas a encontrar AirTags desconhecidas dentro de bolsas, mochilas, casacos ou outros pertences, sendo que em 2022 duas mulheres processaram a Apple alegando que o produto facilitou o assédio e a perseguição dos respetivos ex-namorados.

As AirTags são sensivelmente do tamanho de uma moeda, pelo que é relativamente simples esconder alguma onde não é suposto. Em junho de 2022, um homem de Indianápolis foi morto por uma ex-namorada que, segundo a polícia, usou uma AirTag para o localizar.

Mais recentemente, em resposta ao crescente número de casos, a Apple e a Google lançaram uma proposta de especificação do setor conjunta, destinada a combater o uso indevido deste tipo de dispositivos. A proposta tem como objetivo facilitar a deteção de AirTags desconhecidas tanto em smartphones Android como iOS, contando já com o apoio de empresas como a Samsung ou a Tile.

O bluetooth entra em acção

Para Nuno Mateus Coelho, professor universitário e doutor em cibersegurança, a resposta está nas mãos das próprias empresas fabricantes - como a Google, Apple e restantes. O especialista em cibersegurança explica que os smartphones atuais já contam com leitores de rádio frequência, GPS e bluetooth, pelo que “têm de saber detetar perto de nós que há um dispositivo a emitir a localização GPS”.

Nuno Mateus Coelho defende que esta funcionalidade deveria mesmo ser obrigatória para as empresas que vendem serviços de produtos semelhantes às AirTags, sendo que, além de identificarem estes dispositivos, deveriam ainda identificar a quem pertence ou em que cidade foi comprada.

“A primeira contramedida é fazer com que o próprio bluetooth dos carros, das televisões, das nossas casas, encontre uma AirTag”, refere o especialista. Além do mais, a implementação desta funcionalidade seria bastante simples, garante, já que consiste nas mesmas medidas implementadas nos smartphones durante a pandemia covid-19.

Por outro lado, Nuno Mateus Coelho relembra que as AirTags foram inicialmente publicitadas enquanto ferramentas para localizar carteiras, telemóveis ou mesmo os filhos, sendo este último exemplo “o mais extremo” na opinião deste especialista. Nuno Mateus Coelho refere que estes localizadores podem ainda servir uma outra função, a de facilitar a engenharia social, já que permitem identificar as rotinas de uma pessoa, como quais os sítios que ela mais frequenta, com quem está, que caminhos faz, onde faz compras, entre outros dados.

Após recolhidas estas informações, os piratas podem usar os dados para adivinhar as palavras-passe das vítimas, já que, normalmente, as pessoas criam passwords com base em “hábitos do dia a dia” ou outros gostos pessoais. O pirata informático também pode usar as informações recolhidas para se encontrar fisicamente com a vítima.

A diretiva

Além das próprias fabricantes fornecerem as ferramentas necessárias à identificação de AirTags, Nuno Mateus Coelho defende que a Comissão Europeia deveria fazer uma diretiva para regular “à força” estes dispositivos. O motivo para tal, justifica, prende-se com a limitação da própria liberdade das pessoas, havendo portanto uma violação do direito humano à livre circulação.

“Não se deveria estar à espera da perda de direitos para só depois se implementar uma diretiva”, argumenta Nuno Mateus Coelho, pois, no seu entender, quem vende dispositivos como as AirTags sabia que podiam ser usados para outro tipo de subterfúgios.

O especialista reconhece que a utilidade das AirTags é elevada, pelo que a sua popularidade não deverá conhecer um retrocesso, já que permite às pessoas andarem no seu dia a dia mais descontraídas e “menos preocupadas com o local das suas coisas”.

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