A polícia da Extremadura espanhola já identificou vários suspeitos de um caso que está a chocar a localidade de Almendralejo, um município de Badajoz, que não tem mais do que 30 mil habitantes. De acordo com o jornal El País, na semana de regresso às aulas, várias famílias depararam-se com imagens das suas filhas menores nuas a circular nas redes sociais. Falsos nudes criados com recurso a Inteligência Artificial.
O jornal espanhol conta a história de Isabel, nome fictício, de 14 anos, que soube que imagens com a sua cara, mas com um corpo criado por um computador andavam a circular pelos telemóveis dos colegas. E soube-o da pior maneira, quando um colega se abeirou de si no pátio da escola e lhe disse: “Vi uma fotografia tua nua”.
Ao regressar a casa, a jovem contou à mãe, que se colocou em contacto com outras mães e percebeu que a filha não é caso único. Criou um grupo de WhatsApp a que se juntaram muitos outros pais e acabou por concluir que havia pelo menos mais de 20 jovens na mesma situação da filha.
De acordo com o jornal El País, há cinco escolas secundárias em Almendralejo. Em quatro delas, houve difusão de imagens de alunas, modificadas por inteligência artificial. Quando a mãe de Isabel apresentou queixa na polícia, na última sexta-feira, ao chegar à esquadra, deparou-se com outra mãe sua amiga, cuja filha de 12 anos estava a passar pelo mesmo.
Esta segunda jovem tinha sido abordada através do WhatsApp, por um rapaz, que lhe pediu dinheiro. A rapariga recusou e o rapaz enviou-lhe uma fotografia sua criada artificialmente em que aparecia nua. A menina bloqueou de imediato o contacto. A polícia acredita que, por trás da chantagem à pré-adolescente, está um perfil falso.
Míriam Al Adib é ginecologista em Almendralejo. Tem 46 anos e quatro filhas entre 12 e 17 anos. Tem mais de 120 mil seguidores no Instagram e foi lá que contou, no último domingo, o drama que lhe bateu à porta: “Acabo de chegar de viagem e isto é tão grave que tenho de o partilhar convosco”.
Nesse dia, depois de jantar, uma das suas filhas, de 14 anos, acercou-se dela e mostrou-lhe uma fotografia de si mesma toda nua. “Se eu não conhecesse o corpo da minha filha, diria que é real”, conta a ginecologista, ciada pelo El País.
De acordo com fontes policiais, uma das fotografias contem a marca de água da aplicação usada para manipular a imagem. O jornal El País, que não divulga o nome da aplicação, adianta que a página de internet da mesma tem uma mensagem de boas-vindas: “Despe qualquer um com o nosso serviço gratuito”.
José María Ramírez, autarca de Almendralejo, diz que as autoridades estão a investigar e “têm a situação mais ou menos controlada”. O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária espanhola e pela proteção de menores. Terão sido identificados vários suspeitos. Alguns dos quais são colegas de escola das próprias vítimas.
As queixas não param de chegar à polícia. São já perto de 30. Entre as vítimas, há crianças de 11 anos.