Um cientista português está a participar numa investigação para melhorar a eficácia da vacina BCG, que previne a tuberculose.
Paulo Bettencourt, que trabalhou no Instituto Jenner da Universidade de Oxford e integra agora o corpo docente da Faculdade de Medicina da Universidade Católica, faz parte da equipa que reúne cientistas de todo o mundo e procura renovar uma vacina que já é centenária.
Em conversa com a TVI24, o investigador salienta que a vacina protege as crianças de doença grave, mas perde a eficácia ao longo da vida, nomeadamente quando se chega à idade adulta.
Nos anos 1940 surgiram os antibióticos, e reparou-se que os organismos criavam resistência", explicou, apontando algumas mutações da bactéria da tuberculose altamente resistente ao tratamento.
Ao longo dos anos a BCG foi perdendo eficácia na prevenção contra a tuberculose, que ainda é das infeções mais mortíferas para os seres humanos.
Os últimos dados da Organização Mundial de Saúde, de 2018, registam mais de um milhão e meio de mortes devido à doença. Esta cifra ronda o milhão de mortes anual, e Paulo Bettencourt lamenta que não se olhe mais para o problema.
As mortes costumam ser em países da África Subsariana ou Sudeste Asiático, e , infelizmente, o mundo ocidental não tem dado muita importância a estes casos", referiu, dizendo que os problemas devem ser resolvidos a uma escala global.
Segundo o especialista, a Fundação Bill e Melinda Gates está interessada em desenvolver novas vacinas contra a doença, tal como a malária. Para facilitar esse desenvolvimento, aquela organização criou a equipa de cientistas que pretende melhorar a vacina atual ou criar mesmo uma nova.
Comparando com o desenvolvimento da vacina contra a covid-19 (que em alguns casos demorou menos de um ano), Paulo Bettencourt fala no fator sorte, além do investimento que está por detrás dos projetos.
No caso da tuberculose, andamos a testar dezenas de frações destes organismos, e não temos conseguido por uma vacina a funcionar", afirmou.
Ainda assim, o especialista mostra-se confiante no objetivo de uma nova vacina, explicando que três estão na última fase de testes, ainda que não devam entrar no mercado nos próximos dez anos. A acrescentar a isso está a eficácia, que "nunca será de 95%", como no caso das desenvolvidas contra o SARS-cov-2.
Alterar a forma de administração da vacina, mudar as doses, ou desenvolver uma nova vacina são as possibilidades que estão a ser ponderadas por este grupo de investigadores.