TikTok só uma hora por dia para os mais novos? Há outros caminhos além de proibir (e aqui ficam algumas sugestões) - TVI

TikTok só uma hora por dia para os mais novos? Há outros caminhos além de proibir (e aqui ficam algumas sugestões)

TikTok (Getty Images)

Objetivo é que os adolescentes diminuam o tempo que passam em frente ao ecrã. Mas será esta a fórmula correta?

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O TikTok anunciou na quarta-feira que vai (tentar) limitar o tempo que os adolescentes passam na aplicação ao definir automaticamente as contas dos utilizadores com menos de 18 anos para um limite diário de 60 minutos de tempo de ecrã. Caso esse limite seja atingido, os adolescentes terão de colocar um código para continuarem a assistir a vídeos na aplicação, naquilo que o TikTok chama de "decisão ativa para prolongar o tempo". 

A aplicação diz ainda que a implementação de limites diários personalizados poderá ser estabelecida pelos pais e responsáveis, que passam a poder usar a funcionalidade "Sincronização Familiar" para escolher diferentes limites de tempo dependendo do dia da semana (horários escolares, tempo de férias ou viagens) e definir horas para que as notificações sejam silenciosas: adolescentes entre os 13 e os 15 não recebem notificações a partir das 21:00 e a partir das 22:00 estão desativadas nas contas dos jovens com 16 e 17 anos.

Mas, será este controlo dos pais um verdadeiro controlo? Ou seja, serão eles os únicos a poder controlar o tempo que os jovens passam na aplicação? Melanie Tavares, psicóloga clínica e coordenadora no Instituto de Apoio à Criança, considera que "o ideal é que haja uma ligação e que os pais possam aceder e que façam efetivamente esse controlo". 

"Porque senão esta medida é ineficaz. É que se o código vai diretamente para os miúdos, também não limita coisa nenhuma", considera, lembrando que as crianças e os jovens "estão muito agarradas aos ecrãs e isso gera algumas incapacidades de interação social, nomeadamente ao nível do face-to-face". Ou seja, "há crianças que, atualmente, só conseguem interagir através de um ecrã" e que chegam ao extremo de precisarem de "medidas de ressocialização".

Opinião partilhada por Bárbara Ramos Dias, psicóloga de crianças e adolescentes e coach parental, que considera que os jovens de hoje "foram educados a que só têm aquilo para fazer" e "acham que quando não tem telemóvel não tem nada para fazer e é tempo perdido". 

"São os pais, os psicólogos, os professores e os pediatras [os quatro P], que lhes têm de dar alternativas para eles perceberem o que é que podem fazer para além do telemóvel. Antigamente não tínhamos telemóvel e tínhamos 500 mil opções e, se não tínhamos, inventávamos. Eles foram educados a que só têm aquilo para fazer e, fora isso, não sabem fazer nada. Portanto, nós é que temos de puxar um bocadinho também pela criatividade deles" .

Responsabilizar e não proibir

O objetivo do TikTok é que os adolescentes diminuam o tempo que passam em frente ao ecrã e consciencializá-los das suas decisões. Para isso, para além da aplicação passar a pedir que definam um limite diário de tempo na app (que pode ou não ser desativado), vai ainda passar a enviar notificações com um resumo semanal do tempo de ecrã.

A coach parental diz que "mais do que proibir a utilização da aplicação", o importante é ensinar os jovens "a controlar os impulsos e a saber gerir o tempo". E esse trabalho faz-se, mais uma vez, dos quatro P, mas principalmente dos pais que, segundo Bárbara Ramos Dias, têm de dar responsabilidades aos filhos e mostrar que confiam neles, dando-lhes "as ferramentas indicadas" para lidar com estas situações. Mas porque é que esta responsabilização é tão importante? Porque, lembra a especialista, os adolescentes não usam apenas o TikTok.

"Eles não estão só no TikTok, estão no Instagram, no Snapchat, nas outras todas. Se eles tiverem 100 minutos no TikTok, 100 minutos no Instagram, 100 minutos no Snapchat, 100 minutos não sei onde, é muito tempo. Mais vale a responsabilidade e a liberdade de opção, ensiná-los a gerir o tempo, a perceber quais é que são os desperdiçadores de tempo, a perceberem como é que podem mudar, o que é que podem fazer para controlar o impulso, do que proibir", afirma, lembrando que, no caso de proibição, os adolescentes vão encontrar sempre formas de contornar o limite de tempo, seja com novas contas, com telemóveis antigos ou com equipamentos de outras pessoas.

No entanto, apesar da responsabilização do adolescente ser importante, Melanie Tavares considera que não vê "nenhum inconveniente" na implementação deste tipo de ferramentas, até porque cria um alerta nos jovens de que estão a passar demasiado tempo em frente ao ecrã. 

"Acho que é muitíssimo importante para prevenir aqui algumas situações, nomeadamente até do descanso. Mas é também preciso sensabilizar os pais para fazerem um maior acompanhamento aos filhos neste tipo de situações, que fazem com que surjam esta necessidade de limitar o acesso aos ecrãs". 

Até porque, lembra, a dependência de ecrãs foi gerada pelos próprios pais, que numa tentativa de terem uma parentalidade mais facilitada, acabaram por recorrer às tecnologias, "demitindo-se das suas responsabilidades", para acalmar os filhos em várias situações.

"É mais fácil meter vídeos do Youtube no telemóvel à hora da sopa do que estar a cantar ou a fazer o aviãozinho para entreter. Os pais têm de se recordar que não foram as crianças que pediram os telemóveis quando eram pequenos, foram eles que lhos colocaram à frente, demitindo-se um pouco das suas responsabilidades, e que acabou por gerar esta dependência", explica a psicóloga.

Dependência que precisa de ser controlada e gerida e que Bárbara Ramos Dias diz que acaba por gerar frustação nos adolescentes, que lhe chegam ao consultório a pedir ajuda para lidar com a falta de criatividade, assim como com o vício no telemóvel e com a falta de capacidade para gerir o tempo.

"Eles querem muito aprender a gerir o tempo. Na maior parte das minhas consultas pedem-me ajuda porque sabem que estão completamente viciados no telemóvel e querem controlar os impulsos e o vício nas redes sociais e precisam de ferramentas. Por isso, é importante responsabilizar os jovens, dar-lhes liberdade para que eles saibam gerir as emoções, a frustração, o impulso, a gestão de tempo (incluindo os controladores de desperdício de tempo). Isso tudo é muito mais importante do que proibir", conclui a psicóloga de crianças e adolescentes.

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