É um círculo vicioso que a ciência acabou de descobrir: viver perto de uma estrada movimentada aumenta os níveis de stress e diminui a qualidade de sono, dois fatores que, por seu turno, aumentam a probabilidade de desenvolver zumbido.
A conclusão é de um recente estudo da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Sul da Dinamarca e que envolveu 3,5 milhões de dinamarqueses. Publicada na revista Environmental Health Prespectives, a investigação indica que por cada dez decibéis a mais dentro de casa por culpa do tráfego, o risco de ter zumbido aumenta em 6%.
Do total de dinamarqueses analisados, 40.692 foram diagnosticados com zumbido, medicamente denominado de Tinnitus, que se caracteriza por sons de assobio num ou nos dois ouvidos e surge de forma mais ou menos aguda, mas sempre involuntária.
“As estimativas de risco mais altas foram encontradas em mulheres, pessoas sem perda auditiva, pessoas com alta escolaridade e rendimentos”, lê-se no estudo, que indica ainda que não foi encontrada “associação entre ruído ferroviário e zumbido”, descartando, assim, um impacto negativo de viver junto a estações ou linhas de comboio.
“De um modo geral, cerca de 10% da população experimenta zumbido de vez em quando [ao longo da vida]. Está associado ao stress e dormir mal pode ser agravado pelo ruído do tráfego”, diz Manuella Lech Cantuaria, autora principal do estudo, citada no site da universidade dinamarquesa. Ter o quarto com a janela virada para a estrada é um dos fatores que contribui para esta associação, diz a investigadora.
“Este é o primeiro estudo a mostrar que a exposição residencial ao ruído do trânsito pode aumentar o risco de zumbido, sugerindo que o ruído pode afetar negativamente o sistema auditivo. Se confirmado, esta descoberta aumenta a evidência crescente de que o ruído do tráfego rodoviário é um poluente nocivo com um fardo substancial para a saúde”, refere a investigação.
Esta não é, porém, a primeira vez que se estuda o impacto do ruído do tráfego. Em 2021, Mc-Kinney-Møller, e a sua equipa já tinham relacionado o barulho do trânsito com um maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares e demência, sobretudo Alzheimer, cujo risco aumenta em 27%.
“É necessário que o ruído do tráfego seja considerado um risco para a saúde que deve ser levado em consideração no planeamento urbano e nas decisões políticas”, adverte Manuella Lech Cantuaria.