Se quem voa para a Ásia já tem consciência de que terá de passar longas horas no avião para chegar ao destino, há agora um fator adicional a ter em conta: como os espaços aéreos da Ucrânia e da Rússia estão fechados, devido à guerra, a viagem pode levar ainda mais tempo.
As duas companhias que permitem aos portugueses chegar de forma mais direta ao Oriente, a Emirates e a Turkish Airlines, explicam à CNN Portugal que o facto de terem os seus “hubs”, respetivamente, no Dubai e em Istambul, a sul do conflito, não afeta diretamente a sua operação.
Já para a TAP, que não voa para a Ásia, o problema não se coloca. Mas um passageiro que faça escala noutra capital europeia tem de se preparar para uma viagem maior.
A Lufthansa explica que a rota para Xangai demora agora mais 40 minutos, para Seul mais 90 minutos e para Tóquio mais duas horas. A companhia insiste que só estas rotas para China, Japão e Coreia do Sul estão afetadas.
No regresso da Ásia à Alemanha, e apenas nessa situação, a Lufthansa tem também utilizado uma rota próxima do Pólo Norte, através do Alasca e do Norte do Canadá, que permite encurtar o tempo de viagem e poupar combustível. Uma rota semelhante, explica a empresa à CNN Portugal, foi usada em maio de 1964 para o primeiro voo de um Boeing 707 para Tóquio.
Em março, também a companhia Finnair dava conta de que os voos para Banguecoque, Phuket, Singapura e Nova Deli demoravam, sensivelmente, mais uma hora do que antes da guerra.
Custos (e uma vontade que os supera)
Mais tempo de viagem é sinónimo de mais combustível consumido. Tendo em conta os aviões da Airbus, muito utilizados nestes voos de longo curso, uma hora adicional de voo significa cerca de três mil litros de combustível a mais. Em março, ao The New York Times, o consultor Robert Mann dava conta de que uma hora extra de voo poderia significar um custo de 11,5 mil euros - que acabam repercutidos nas tarifas dos passageiros.
Ainda assim, a procura continua em força, com o desejo de viajar a falar mais alto depois de dois anos com restrições devido à pandemia. O início do conflito na Ucrânia deixou também as companhias em estado de alerta. Mas, com o passar do tempo, provou-se que a invasão russa não teve o impacto esperado no setor.
“Houve alguma preocupação no início da guerra. No entanto, as pessoas continuam a voar. Prova disso é o facto de termos os voos cheios”, atesta fonte oficial da Turkish Airlines.
Isso mesmo confirmava em março a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) num dos seus relatórios sobre o impacto da guerra na Ucrânia. “Até as rotas que estão expostas a maiores tempos de voo e custos mais elevados, após o fecho do espaço aéreo russo, registam reservas resilientes.”
Oriente (quase) fechado
Entre as agências de viagens portuguesas, o impacto do fecho do espaço aéreo ucraniano e russo é “praticamente nulo”. A garantia é dada por Rui Pinto Lopes, presidente executivo da Pinto Lopes Viagens, que também organiza circuitos para a Ásia. Neste mercado, a preocupação está noutros aspetos: as barreiras à entrada de portugueses e a lenta recuperação do setor do turismo nos países asiáticos após a pandemia.
O empresário explica que China e Japão estão “fechados”. Se no primeiro destino é agora possível entrar sujeitando-se a uma semana de quarentena, no segundo país não é possível a emissão de vistos turísticos para portugueses. Por esse motivo, a empresa teve mesmo de cancelar circuitos que tinha previstos para território nipónico.
Rui Pinto Lopes considera que as companhias que mais ligam Portugal ao Oriente, a Emirates e a Turkish Airlines, não saem penalizadas com o conflito na Ucrânia devido à localização dos seus “hubs”. O problema, diz, está sobretudo nas ligações internas. Um dos exemplos dá-se no triângulo Vietname-Camboja-Laos. Se as ligações entre o Vietname e o Camboja foram retomadas, o mesmo nao sucedeu entre o Camboja e o Laos.
“A Ásia está numa frase embrionária de recuperação. Só existem 20 a 30% dos voos face ao que havia antes da pandemia”, resume.