Nos emails apreendidos a Fernando Medina na operação Tutti Frutti, a Polícia Judiciária encontrou suspeitas de outros crimes nas alegadas relações de favor com diferentes protagonistas, entre eles o então presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira. “Olá Fernando”, começa por escrever Vieira num email enviado ao então presidente da Câmara, a 20 de março de 2017. Em causa, uma cunha ao mais alto nível para “desbloquear” um problema da vida privada – a isenção de IMI para um imóvel do filho do presidente do clube encarnado, do qual Medina é adepto.
Num relatório da PJ, de 13 de maio de 2022, conclui-se por uma “situação que poderá eventualmente configurar a prática de ilícitos penais, praticados por Luís Filipe Vieira, então Presidente do Sport Lisboa e Benfica e o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ora Ministro das Finanças Fernando Medina.” Andrea Marques, a procuradora que lidera a investigação, escreve depois suspeitar aqui de crimes de “corrupção e/ou de abuso de poderes”.
A cunha de Vieira era “referente à isenção de IMI de um imóvel comercializado pela empresa ‘Realitatis’ (...) porquanto o mesmo seria para habitação própria e permanente, pedido este que tinha em ‘forward’ um pedido de Tiago Vieira a solicitar desbloqueamento da situação”. A PJ descobriu que a empresa proprietária deste prédio na rua de Santa Catarina, em Lisboa, tem dois administradores: Sara e Tiago, ambos filhos de Vieira.
Mais: não se trata de uma casa, mas de um prédio com 10 apartamentos. A maioria foi vendida a estrangeiros e, diz a investigação, nenhum deles mora ali. Logo, não teriam direito a isenção de IMI.
Nas perícias foram encontradas pelo menos cinco mensagens recebidas e oito enviadas por Fernando Medina sobre este caso. “Certo é que em momento posterior Jorge Damas (chefe de gabinete do autarca de Lisboa) informa Medina do estado do referido processo”, relata a PJ no processo. Entretanto, numa busca a Vieira, noutro âmbito, a PJ apanhou um mail de Tiago Vieira a agradecer esta cunha ao pai: “Obrigado Pai, sem ti não tinha sido possível. Já cá canta”.
Confrontado com estas acusações, Fernando Medina nega "qualquer tratamento de favor a qualquer pessoa, entidade ou instituição". "A insinuação do contrário é falsa", acrescenta o antigo autarca.
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