O aviso chegou esta segunda-feira, na véspera de uma importante reunião entre os responsáveis de Defesa da Casa Branca e senadores das alas democrata e republicana: se o Congresso dos EUA não aprovar o pacote de 106 mil milhões de dólares proposto por Joe Biden para ajuda adicional à Ucrânia e a Israel, as recentes conquistas de Kiev no terreno "ficarão em risco".
"Sem ação do Congresso, no final do ano ficaremos sem recursos para fornecer mais armas e equipamento à Ucrânia", lê-se na carta que Shalanda D. Young enviou esta manhã aos líderes do Senado e da Câmara dos Representantes. "Não há nenhum pote mágico disponível neste momento. Estamos sem dinheiro... e quase sem tempo."
Para a diretora do gabinete orçamental da Casa Branca, o momento de subir a fasquia é agora, sob o risco de vir a ser tarde demais. "Enquanto os nossos aliados em todo o mundo reforçam o apoio [à Ucrânia], os nossos pacotes de assistência de segurança vão ficando mais pequenos e as entregas de ajuda mais limitadas", sublinha Young. E numa altura em que os Estados-membros da União Europeia (UE) tentam, também eles, chegar a acordo sobre um novo pacote de 50 mil milhões de euros para apoiar a Ucrânia, a administração Biden é clara: "O apoio dos EUA é fulcral e não pode ser replicado por outros."
O facto de os fundos alocados pelos EUA à Ucrânia estarem prestes a esgotar-se não é novidade, mas a carta de Young marca o mais contundente aviso da administração norte-americana até agora.
Até ao final de novembro, o Departamento de Defesa já tinha investido mais de 60 mil milhões de dólares, 97% do total recebido, e o Estado norte-americano tinha gastado 100% dos 4,7 mil milhões de dólares à disposição para assistência militar a Kiev. Além disso, adianta a responsável da Casa Branca, os fundos de emergência para apoiar a recuperação da economia ucraniana já se esgotaram.
A aprovação de mais fundos para a Ucrânia seria relativamente simples antes do pequeno sismo que abalou o Congresso norte-americano há dois meses, quando Kevin McCarthy foi afastado da liderança do Partido Republicano na Câmara dos Representantes, e que culminou na eleição de Mike Johnson como novo líder da oposição na câmara baixa do Congresso, no final de outubro.
Descrito pelo Brennan Center for Justice como o "mais poderoso negacionista das eleições" de 2020 em Washington, quando Biden derrotou o então Presidente Donald Trump, Johnson defende a separação do apoio à Ucrânia e a Israel, impondo como pré-condição para a atribuição de mais fundos a Kiev alterações às políticas de imigração dos EUA, para reduzir o número de pessoas sem documentos que entram no país pela fronteira sul.
"A Ucrânia é outra prioridade. Claro que não podemos permitir que Vladimir Putin marche pela Europa e entendemos a necessidade de assistência. O que dissemos é que, se queremos fornecer ajuda adicional à Ucrânia — algo que a maioria dos elementos do Congresso acredita ser importante — também temos de alterar as nossas próprias políticas fronteiriças", defendeu Johnson na semana passada, quando questionado se o seu partido vai dar aval ao pacote proposto pela administração Biden. "Tem havido negociações de fundo sobre isso. Penso que a maioria dos nossos colegas no Senado reconhece que estas duas questões têm de avançar em conjunto, devemos isso ao povo norte-americano."
Na sua carta, Shalanda D. Young deixa clara a estratégia do Governo e destaca que os EUA só têm a ganhar em abrir os cordões à bolsa, política e economicamente. Desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, Washington já atribuiu 111 mil milhões de dólares a Kiev, com impacto direto na indústria de Defesa norte-americana.
"O mais recente pedido adicional do Presidente [...] vai alocar mais de 50 mil milhões de dólares para a nossa Base Industrial de Defesa, a juntar ao investimento já feito em linhas de produção em 35 estados [dos EUA]", refere a responsável pelo orçamento da Casa Branca. "Apesar de não conseguirmos prever exatamente a que empresas norte-americanas serão atribuídos os novos contratos, sabemos que o financiamento será usado para adquirir capacidades avançadas para a defesa de civis em Israel e na Ucrânia — por exemplo, sistemas de defesa antiaérea construídos no Alabama, Texas e Georgia, e subcomponentes vitais produzidas em quase todos os 50 estados."
Segundo fontes do Senado, uma equipa de democratas e e republicanos vai ser informada amanhã sobre os detalhes concretos do pacote de ajuda adicional proposto pelo Presidente, dias depois de o líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, ter dado a entender que poderá ser votado já esta semana. Com o tempo a apertar, Young não poupa nas palavras: "Escrevo-vos hoje não apenas para ser clara quanto ao dinheiro já gasto [...] mas para expressar a urgência aguda que enfrentamos, numa altura em que o Congresso está a analisar se continua a lutar pela liberdade em todo o mundo ou se ignoramos as lições que a História nos ensinou e deixamos Putin e a sua autocracia prevalecer."