A fuga de cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus poderá ter sido o resultado de uma "falha" nas rotinas dos guardas prisionais, teoriza o ex-diretor-geral da Reinserção Social e Serviços Prisionais, demitido na sequência daquela evasão.
Rui Abrunhosa Gonçalves, que está a ser ouvido no parlamento a propósito daquela fuga, mantém que o que aconteceu não se deve à falta de guardas prisionais - estavam 33 guardas ao serviço naquele sábado, contingente que diz ser o habitual -, mas acredita que "esta fuga tem a ver com uma coisa que os delinquentes fazem que se chama a teoria das atividades rotineiras, que é verificar as rotinas e aproveitar falhas nessas rotinas".
"É muito provável, digo eu, que tenha havido uma falha nessas rotinas, que possam ter sido aproveitadas", teoriza o ex-diretor dos serviços prisionais, acrescentando que não coloca em causa "o brio e o trabalho profissional dos guardas prisionais", mas defende que "agora é preciso apurar responsabilidades, verificar se alguém que deveria ter feito qualquer coisa não o fez, ou fê-lo tardiamente."
Rui Abrunhosa diz ainda ter sido "mal interpretado" nas declarações que fez anteriormente sobre a rede eletrificada, explicando que a mesma tem "painéis sensoriais infravermelhos que nunca funcionaram e que, esses sim, deitavam a luz abaixo".
Subdiretor admite "falhas graves" e assume responsabilidades
O subdiretor-geral demissionário da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Pedro Gonçalo Lobo Veiga Santos, por sua vez, sublinha que esta fuga foi "o acidente de segurança mais grave" de que tem memória desde que entrou na direção dos serviços prisionais, em 2021.
Tendo em conta que, enquanto subdiretor-geral, tem responsabilidades quanto à "segurança do sistema prisional, a gestão do corpo da guarda prisional e a gestão da população prisional", Veiga Santos admite assume "responsabilidade pelas falhas que ocorreram".
"Estas falhas de segurança que ocorreram e são graves, são também - e digo-o de coração pesado - falhas minhas", declara.
Rui Abrunhosa Gonçalves voltou a tomar a palavra já depois de uma ronda de questões dos deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, para frisar que, ao longo deste processo, não teve qualquer "comunicação direta" com a ministra da Justiça e recusou-se a comentar as declarações de Rita Júdice na sequência da fuga de Vale de Judeus, que falou em "erros graves" e desleixo.
O ex-diretor dos serviços prisionais garante que, ao longo do seu mandato, visitou "todas as prisões" do país e está ciente de que há "falta de pessoal" nos estabelecimentos prisionais. "Não houve, da nossa parte, nenhum escamotear de situação nenhuma", garante.
"Quando cheguei a este cargo, disse que tinha a noção de que isto tinha batido no fundo, mas não tão fundo, sobretudo ao nível de pessoal", admite, salientando que, ao longo do seu mandato, foi a primeira vez em muitos anos que foi aberto um concurso público para a contratação de guardas prisionais, e diz esperar que este "caminho" possa continuar a ser feito pela sua sucessora, Isabel Leitão.