A escritora ucraniana Victoria Amelina, ferida num ataque russo a um restaurante em Kramatorsk, no leste da Ucrânia, morreu, anunciou uma organização não-governamental (ONG) ucraniana.
Victoria Amelina, de 37 anos, estava a documentar os crimes de guerra russos com a iniciativa de direitos humanos Truth Hounds e estava no restaurante com uma delegação de jornalistas e escritores colombianos, entre eles Héctor Abad Faciolince e o ex-comissário para a paz Sergio Jaramillo, quando o ataque aconteceu.
O ataque, que foi considerado crime de guerra pela associação de escritores PEN, matou 13 pessoas e feriu outras 60. Segundo a associação, citada pela BBC, os médicos "fizeram de tudo para tentar salvá-la, mas infelizmente os ferimentos foram fatais".
"É com grande dor que informamos que o coração da escritora Victoria Amelina parou de bater no dia 1 de julho. Nos últimos dias da vida da Victoria, a sua família e os amigos estiveram ao seu lado", lê-se no comunicado da organização.
Romancista que documentou crimes de guerra
De acordo com a PEN Ucrânia, Victoria Amelina nasceu a 1 de janeiro de 1986 e, quando já andava na escola, mudou-se para o Canadá com o pai, mas o regresso aconteceu pouco depois. Em 2007, licenciou-se cum laude na Universidade Politécnica de Lviv (mestrado em tecnologias informáticas), tendo trabalhado na área até 2015.
É apenas em 2014 que Victoria Amelina faz a sua estreia como escritora, com a publicação do livro "The Fall Syndrome, or Homo Compatiens", livro que chegou a ser nomeado para o Prémio Valerii Shevchuk. Em 2016 seria publicado "Somebody, or Waterheart" e em 2017 "Dom’s Dream Kingdom", livro que lhe rendeu o prémio de melhor livro do ano no Festival Zaporizhzhia Book Toloka e nomeações para os prémios LitAccent 2017, UNESCO City of Literature e União Europeia para a Literatura.
Victoria Amelina era ainda a fundadora de um festival de Literatura na região de Donetsk. "Devido à invasão russa em grande escala em 2022, em vez do festival, a equipa lançou a iniciativa "Fight Them with Poetry" (Combatê-los com Poesia) para ajudar a abastecer as unidades do exército ucraniano que defendem a região", lê-se no site.
Victoria Amelina era romancista, ensaísta, poetisa e ativista de direitos humanos ucraniana baseada em Kiev, tendo sido distinguida com o prémio Joseph Conrad de Literatura mas, com o início da guerra na Ucrânia, deixou os livros de lado para começar a documentar os crimes de guerra e trabalhava com a "Truth Hounds", uma ONG que investiga graves violações de direitos humanos. Foi durante esse trabalho que desenterrou o diário do escritor infantil Volodymyr Vakulenko, que foi raptado e morto pelas tropas russas na cidade de Izyum, pouco depois da invasão russa.
First presentation of the Volodymyr Vakulenko's diary at the Book Arsenal literary festival in Kyiv. The writer's mother and son were on stage.
— Victoria Amelina 🇺🇦 (@vamelina) June 23, 2023
Vakulenko's memory lives. pic.twitter.com/qaVluL824x
"Agora, Victoria tornou-se vítima de um crime de guerra", afirmaram as duas organizações de que a escritora fazia parte, a PEN Ucrânia e a Truth Hounds.
O primeiro livro de não ficção em inglês, "War and Justice Diary: Looking at Women Looking at War", está prestes a ser publicado.