Um namoro de mês e meio que se transformou num pesadelo quase sem fim - TVI

Um namoro de mês e meio que se transformou num pesadelo quase sem fim

  • CNN Portugal
  • MCP
  • 17 fev 2023, 15:38
Violência no namoro (Pexels)

De bilhetes com ameaças, a situação escalou ao ponto de tentar matar a ex-namorada. A vítima apresentou dezenas de queixas e o agressor teve um total de 20 pulseiras eletrónicas

Ambos de Sanxenxo, em Pontevedra, Espanha, começaram a namorar em novembro de 2021, mas depois de perceber o comportamento abusivo e controlador do parceiro a jovem decidiu terminar a relação. E mesmo que não o tenha feito abruptamente, isso não impediu o pior. A partir desse momento, os seus dias tornaram-se pesadelos sem fim. Um histórico “aterrorizante” de assédio, nas palavras da polícia, que envolve tentativa de homicídio e ameaça de violação, e ainda a partilha de dados da vítima e do seu pai num site de pornografia.

Tudo começou com bilhetes com ameaças, enrolados em pedras que o agressor deixava na entrada da casa da vítima, ou no painel do seu carro. Também enviou ameaças a si próprio, numa tentativa de desviar a atenção para o seu envolvimento. “Vou-te matar”, “Vou-te violar”, “Este vai ser o teu último Natal viva” eram algumas das ameaças recebidas pela vítima. 

A estas queixas, seguiram-se outras nos relatórios policiais, quando o vidro da viatura da jovem apareceu partido, por duas vezes. A partir daí, o pai da jovem montou um sistema de vigilância em volta da casa, com câmaras, e passou noites no carro, para tentar apanhar o autor do crime. "Sabíamos quem estava por trás desta situação, mas não tínhamos provas. Prová-lo tornou-se uma tortura para a vítima e para a sua família”, conta a advogada da vítima, Sabela Fole.

O agressor foi mais além e ameaçou, por carta, o irmão mais novo da vítima, sendo ele menor. O passo seguinte foi expor o contacto telefónico da jovem e do pai num site pornográfico e criar perfis falsos em redes sociais, onde os insultava e ameaçava. 

Depois de uma dezena de queixas, em fevereiro de 2022 a vítima conseguiu uma ordem de afastamento que impedia a aproximação do agressor a menos de 500 metros. No entanto, um mês depois essa medida foi revogada pelo Tribunal Provincial de Pontevedra, por este considerar que a relação de risco objetivo para a vítima não existia porque a relação de ambos tinha sido muito curta e não era análoga ao casamento. 

Estava novamente desprotegida. Foi aí que recorreu aos serviços sociais de atendimento à mulher do município de Sanxenxo, que lhe cedeu um dispositivo móvel de proteção para as vítimas de violência de género, que permite controlar o agressor ao premir um botão de emergência e avisar as autoridades caso este se aproxime dela.

Dias depois da revogação da medida cautelar, a jovem passeava a cavalo, na aldeia de Bórdons, com uma amiga, quando o ex-namorado surgiu num automóvel. O momento foi marcado com o jovem a dirigir-lhe insultos e a atirar pedras ao animal e, quando ela desceu, tentou atropelá-la. Um ataque que durou vários minutos e que foi participado à Guardia Civil, que mais tarde o apanhou. Quando o suspeito foi confrontado e interrogado, negou ter participado no acidente admitindo, apenas, que tinha estado no local, mas por ser um sítio “onde costumava ir para ficar sozinho". Além disso, negou qualquer relação com a jovem alegando que se tinham "apenas beijado numa noite".

20 pulseiras eletrónicas

Após mais de 20 queixas, o caso acabou por ir parar à vara que trata de casos de violência contra a mulher, que determinou o uso de pulseira eletrónica para o agressor. Mas esta também se revelaria uma medida pouco eficaz, segundo a advogada da vítima. “Ele avariou-a e molhou-a várias vezes, até a Guarda civil teve problemas em localizá-lo, o que evidencia a dificuldade legal de agir contra o perseguidor e defender a vítima”, disse Fole, referindo-se às 20 pulseiras eletrónicas que passaram pelo agressor.

”Demorou muito até se tomarem decisões para proteger a vítima. Casos como este devem servir de exemplo para que os mesmos erros não voltem a acontecer”, disse um dos agentes que liderou a investigação.

No passado dia 27 de janeiro, o juiz determinou, por fim, a prisão preventiva do suspeito - por ameaça, assédio e tentativa de homicídio - até ao julgamento. 

O Tribunal de Pontevedra está a avaliar se o comportamento do arguido pode ser considerado inimputável.

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