Quem é o miúdo que se tornou o mais novo na seleção brasileira desde Ronaldo Fenómeno? - TVI

Quem é o miúdo que se tornou o mais novo na seleção brasileira desde Ronaldo Fenómeno?

Vítor Roque (AP Photo/Fernando Vergara)

Chama-se Vítor Roque, acabou de cumprir 18 anos e estreou-se na canarinha este fim de semana. Revelado pelo Cruzeiro, tal como Ronaldo, virou as costas ao clube para se mudar para o Athletico Paranaense e revoltou o próprio Fenómeno. Muito focado e profissional, ainda não deixou de estudar, quer ir para a Faculdade e agradece a Deus todas as conquistas. Paulo Turra treina-o no Athletico e em conversa com o Maisfutebol garante que é jogador para equipa grande da Europa. «No Brasil atualmente ele e o Endrick não têm comparação.»

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Já lhe chamaram Fenómeno e Jóia.

O nome certo, porém, é Vítor Roque. Nasceu a 28 de fevereiro, cumpriu 18 anos há coisa de três semanas e no último sábado entrou para a história ao tornar-se o mais novo jogador da seleção brasileira desde Ronaldo Fenómeno. O que significa nos últimos trinta anos, portanto.

Ora para ser o mais jovem desde que Ronaldo se estreou em 1994, Vítor Roque bateu a marca de estrelas como Neymar, Marcelo, Adriano Imperador, Philippe Coutinho, Alexandre Pato, Rodrygo e Vinicius Jr. (todos também 18 anos) ou Robinho e Ronaldinho Gaúcho (19 anos).

Mas quem é afinal Vítor Roque?

Natural de Timóteo, bem no interior de Minas Gerais, cresceu em Coronel Fabriciano, uma cidade de cem mil habitantes, a cerca de duzentos quilómetros da capital Belo Horizonte.

Filho de um controlador de qualidade, que era apaixonado por futebol e jogava a um nível amador, o miúdo herdou várias coisas do pai. A robustez física, por exemplo. Mas também a força e até a posição no campo.

O pai Juvenal Ferreira jogava a médio defensivo e foi por aí, logo à frente da defesa, que Vítor Roque começou quando tinha seis anos. Na escolinha do Cruzeiro que havia na cidade. O pai era conhecido na cidade como Tigrão e Vítor Roque ficou com a alcunha de Tigrinho.

«Tem muito boa cabeça, muita personalidade. Não me lembro de ter dado trabalho, não tenho nenhuma recordação de indisciplina. Era uma criança que não falava muito, muito tranquila, mas muito focado e trabalhador», confessou Neném Salame, o treinador dessa altura.

«Os outros garotos chamavam-no para brincar no final dos treinos e ele respondia que só ia se fosse para jogar à bola.»

O que é corroborado pela mãe Hercília Roque.

«Desde criança sempre soube o que quis e onde queria chegar. Deixava qualquer festa de aniversário para dormir cedo porque tinha treino ou jogo no dia seguinte.»

Quando recebeu uma casa, a família inteira ajoelhou-se em frente à porta a agradecer a Deus

Ora se do pai herdou a robustez e a força, da mãe herdou a devoção a Deus. É o próprio Vítor Roque quem o revela abertamente em várias entrevistas e o treinador Paulo Turra, antigo jogador do Boavista e atualmente a trabalhar no At. Paranaense, confirma-o por completo.

«Ele é apoiado por uma família bem estruturada. Quando ele assinou connosco, a família veio toda para Curitiba, a mãe, o pai e a irmã mais velha. É uma família muito de Deus, entende? Ele é um rapaz crente, vai muito à igreja», revela Paulo Turra.

«Só para ter uma ideia, quando chegou e recebeu a casa onde vive agora, todos os quatro elementos se ajoelharam em frente à casa antes de entrarem pela primeira vez e agradeceram a Deus. São valores muito fortes que lhe foram passados pelos pais.»

Embora a família inicialmente vivesse numa casa simples, própria da classe média baixa, Vítor Roque nunca passou necessidades. Bom aluno na escola, seguiu os estudos e está nesta altura a terminar o ensino secundário, ao mesmo tempo que faz um curso de inglês.

Já confessou que gostava de seguir para a faculdade e tirar uma licenciatura, embora ainda não tenha decidido exatamente qual o curso.

«Estou na dúvida entre Educação Física e Administração, mas ainda não tenho uma decisão tomada. Se puder fazer a licenciatura numa dessas será bom para mim. Irá ajudar-me bastante e não vou ficar totalmente dependente do futebol.»

A ambição de ser doutor vai ter de esperar, porém. É que a carreira no futebol está lançada. Sobretudo desde que no sábado, em Tânger, entrou a substituir Rodrygo aos 65 minutos e se tornou o mais jovem a vestir a camisola camarinha desde Ronaldo Fenómeno.

«Acredito que está no momento dele. O Vítor Roque não tem comparação, aqui no Brasil ele é o cara, juntamente com o Endrick, do Palmeiras. Vai ser muito difícil mantê-lo. Ele é jogador para equipa grande da Europa», admite Paulo Turra.

«É uma pessoa espetacular. Muito educado, cumpridor dos seus deveres, nunca se atrasa para um treino, é sempre dos primeiros a chegar para a fisioterapia e para o ginásio. Passa muito despercebido no ambiente, tranquilo, muito na dele. É um profissional muito inteligente.»

Cruzeiro assinou contrato com o pai... para garantir que ficava com o filho

Apesar de vir de uma família estruturada e de ter a cabeça no sítio, Vítor Roque já ficou associado a algumas polémicas na curta carreira.

Polémicas que tiveram sempre a ver com transferências.

Como já se disse, o miúdo começou a jogar na escolinha do Cruzeiro que havia na cidade de Coronel Fabriciano, mesmo em frente à casa onde morava. Ficou lá dos seis aos dez anos.

Depois foi fazer um teste ao América Mineiro e convenceu. Separou-se então, pela primeira e única vez, da família, embora os pais viajassem com frequência para Belo Horizonte para estar com ele.

«Ele desde muito novo que é muito maduro, porque a pressão sempre foi muito grande. Como se destacava, a responsabilidade parecia ser maior, a cobrança, as expectativas, tudo isso caía mais em cima dele do que dos coleguinhas de equipa», confessa a mãe Hercília.

«Por isso às vezes há momentos em que sentimos que ele sofre uma quebra, que sente o peso disso tudo. É nessa altura que lhe dizemos que não está sozinho. Tem Deus para o ajudar e a família vai estar sempre aqui ao lado dele para o apoiar.»

Ora foi no América - o terceiro grande clube de Minas Gerais - que evoluiu de médio defensivo para médio ofensivo e mais tarde para ponta de lança: a posição que se tornou efetivamente a dele e na qual brilha agora.

Pelo caminho chamou a atenção do empresário André Cury e pouco antes de fazer 14 anos não se apresentou no início da temporada do América. Uns dias depois, percebeu-se porquê: ia reforçar o rival Cruzeiro, onde também tinha surgido... Ronaldo Fenómeno.

O Cruzeiro não podia assinar com o miúdo e então... contratou o pai. Juvenal Ferreira tornou-se olheiro do clube, recebendo mais de 150 mil euros por um trabalho que não tinha horário, objetivos, nem sequer limitação geográfica. Basicamente Juvenal Ferreira observava miúdos quando queria e onde lhe apetecia.

A família viajou então toda para Belo Horizonte, onde voltou a viver junta, e Vítor Roque assinou contrato de formação logo que chegou à idade mínima legal para o fazer.

Por causa disso, o América apresentou queixa, o Cruzeiro ficou proibido de disputar torneios jovens e mais tarde chegou a acordo com o rival: os dois iriam dividir uma futura venda do atleta.

Não aguentou o peso da estreia, saiu ao fim de 18 minutos e em lágrimas

Vítor Roque afirmou-se rapidamente como destaque da formação e com 16 anos foi lançado por Vanderlei Luxemburgo na equipa principal. Uma estreia difícil, aliás. Entrou em campo durante a segunda parte de um empate com o Botafogo, mas só ficou em campo 18 minutos.

Apresentou queixas físicas e foi substituído, saindo de campo em lágrimas.

Vanderlei Luxemburgo não o deixou cair, porém. Logo na altura pediu ao público que batesse palmas, o que veio a acontecer. Depois elogiou o jogador, voltou a chamá-lo e insistiu nele. Veio o primeiro golo, o segundo e Vítor Roque afirmou-se como jogador da equipa principal.

Foi então que quando estava lançado no Cruzeiro, o miúdo bateu outra vez com a porta.

Numa altura em que as duas partes negociavam a renovação de contrato, para permitir ao atleta assinar como profissional, Vítor Roque apareceu... no Athletico Paranaense. O que muito revoltou precisamente Ronaldo Fenómeno, o presidente do Cruzeiro.

«Vítor Roque pegou-nos de surpresa. Não tinha nenhuma queixa do jogador, nenhuma reclamação, estávamos a discutir a renovação do contrato e de repente meio que na calada da noite, ele fez isso e foi embora», lamentou o Fenómeno.

Segundo o próprio Cruzeiro, as partes tinham chegado a um acordo e trocaram minutas, mas no dia seguinte receberam um email assinado pelos pais a rescindir o contrato e a informar que já tinham viajado para Coritiba. O Athletico Paraense pagou quatro milhões de euros pelo pagamento da rescisão de contrato e assinou com a jovem promessa.

Tinha 17 anos e tornou-se então a contratação mais cara do clube.

Bateu os números de Neymar com 17 anos e tornou-se o mais jovem na Libertadores desde Aguero

No Athletico foi recebido por Luiz Felipe Scolari e explodiu definitivamente. Ao ponto de ter batido os números de Neymar com a mesma idade: aos 17 anos, o craque do PSG tinha feito 48 jogos e 14 golos (o que dava uma média de 0,29 golos por jogo), enquanto Vítor Roque em 34 jogos marcou 12 golos (uma média de 0,35 por partida).

«O pior jogador para um defesa enfrentar é o avançado atarracado, baixinho, que protege bem a bola, que é muito rápido e saia para trabalhar a bola. O Vítor Roque tem tudo isso. E vai ainda ganhar muitas coisas, porque é jovem e tem muito trabalho pela frente», elogiou Scolari.

Em menos de um ano, foi fundamental na condução do Athletico Paranaense à final da Libertadores, fazendo duas assistências que eliminaram o Palmeiras de Abel nas meias-finais, tornou-se o mais jovem jogador a ser eleito para onze ideal da competição desde Kun Aguero em 2005 e foi o melhor marcador do Sul-Americano sub-20 que o Brasil venceu.

«Ele não é de estatura alta, mas é forte, consegue jogar muito bem de costas, sabe usar o corpo e ataca muito bem o espaço. O drible é curto e é muito rápido dentro da área. Em pouco espaço ele consegue fazer a diferença», considera Paulo Turra.

«Tem de evoluir no cabeceamento, porém já fez alguns golos de cabeça, sobretudo aqui no Athletico Paraense. É muitíssimo forte mentalmente. O comportamento é muito profissional.»

O futuro parece, portanto, promissor. O Barcelona, pelo menos, acredita que sim e já agendou uma reunião com os representantes para esta semana.

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