Nikolai Patrushev – o espião
É um dos homens mais próximos do líder russo desde a década de 70, com quem criou uma relação de amizade ainda nos tempos de espionagem do KGB, em São Petersburgo. Após a queda da União Soviética, foi o homem escolhido por Boris Yeltsin para substituir Vladimir Putin na chefia do FSB, um dos cargos mais importantes do país. Ocupa desde 2008 a posição mais alta do Conselho de Segurança da Rússia.
É visto por muitos estudiosos da política russa como o membro mais duro do grupo “dos falcões” do regime, com especialistas como Mark Galeotti a classificá-lo como “o homem mais perigoso da Rússia”. Nikolai Patrushev acredita que os Estados Unidos querem partir a Rússia enquanto país e que a Ucrânia é a plataforma escolhida por Washington para atingir esse objetivo. No final de abril, dois meses dois da invasão lançada pelo Kremlin contra a Ucrânia, Patrushev previa que a antiga república soviética iria acabar por ser repartida em vários pequenos estados, após o processo “de desnazificação”.
“A liderança dos Estados Unidos estabeleceu uma meta para o domínio global e eles não precisam de uma Rússia forte. Pelo contrário, eles precisam de enfraquecer o nosso país o máximo possível. Para atingir esse objetivo, a desintegração da Federação Russa não está descartada”, disse o proeminente membro do núcleo íntimo de Putin.
Mas existem fatores que jogam contra uma possível escolha de Patrushev como o novo czar russo. Vladimir Putin já sinalizou que, à semelhança do homem que o escolheu para presidente, deseja ver juventude na nova liderança russa, algo que Patrushev não tem para oferecer ao executivo russo, uma vez que é um ano mais velho que Vladimir Putin.
Dmitri Medvedev – o fantoche
Durante os quatro anos em que presidiu à Federação russa, entre 2008 e 2012, foi considerado uma "lufada de ar fresco" e era visto pelo ocidente como uma figura mais liberal do que Vladimir Putin. No papel, Dmitri Medvedev era o candidato perfeito para a substituição de Vladimir Putin: é mais novo e tem experiência em vários cargos de topo.
Mas se para o ocidente a postura de Medvedev foi recebida com agrado, internamente ganhou a fama de ser apenas “um fantoche” de Putin, utilizado apenas para que o atual presidente russo pudesse regressar ao poder contornando as regras inscritas na constituição russa. Desde então, a postura de Medvedev tem-se tornado muito mais alinhada com o regime, tornando-se um dos membros mais radicais do país.
As ideias de Medvedev, atual vice-presidente do Conselho de Segurança russo, ganharam particular notoriedade com a invasão russa à Ucrânia, onde costuma desdobrar-se em ameaças ao ocidente, que vão do genocídio do povo ucraniano à utilização indiscriminada de armas nucleares contra o ocidente.
"Muitas vezes perguntam-me porque é que as minhas publicações no Telegram são tão duras. A resposta é que eu odeio-os. São uns bastardos e degenerados. Desejam a nossa morte, a da Rússia. Mas enquanto for vivo, farei todos os possíveis para que desapareçam”, escreveu para os seus mais de 300 mil seguidores na rede social Telegram, sem esclarecer a quem se referia.
Dmitri Patrushev – o príncipe
Faz parte daquilo a que o seu pai intitulou “a nova nobreza”. Dmitri Patrushev é filho de Nikolai Patrushev e a sua subida astronómica no seio do mundo político russo não é coincidência. Com apenas 45 anos, o “príncipe” de São Petersburgo já subiu ao cargo de ministro e ocupa o lugar nos conselhos de administração de algumas das empresas mais importantes do país, como a gigante Gazprom.
O currículo de Patrushev é, de facto, impressionante. De um simples curso de gestão a um curso na academia da agência de segurança então chefiada pelo seu progenitor, o FSB, Dmitri deu o salto para liderar o Banco Agrícola Russo. Anos mais tarde, acabaria por ser escolhido por Medvedev para liderar a pasta da Agricultura, voltando a ser escolhido para o cargo dois anos depois, com a passagem de Mishutin para primeiro-ministro.
Apesar de ser visto internamente como competente e ter uma idade semelhante à de Vladimir Putin quando este foi escolhido para liderar os destinos do país, a escolha de Patrushev pode causar alguns atritos entre as elites russas, particularmente entre os “falcões” que controlam o aparelho militar.
Mikhail Mishustin – o homem do fisco
Quando em 2020 quis alterar a constituição russa de forma a garantir mais poderes ao presidente, Vladimir Putin viu-se obrigado a escolher um novo primeiro-ministro, após a demissão coletiva do governo de Dmitri Medvedev. Segundo o próprio, Putin recebeu a sugestão de quatro nomes mas não escolheu nenhum deles, optando por nomear Mikhail Mishutin, então diretor do Serviço de Tributação Federal.
Para todos os efeitos, Mishustin é o número um na fila de sucessão. De acordo com a constituição russa, caso o presidente esteja incapaz de exercer funções, cabe ao primeiro-ministro ocupar o cargo.
As escolhas de um homem dos impostos para o cargo têm-se revelado feliz, uma vez que, desde 2020, Mishustin tem sido fundamental para guiar o país através da turbulência económica causada pela crise da covid-19 e agora com o tsunami de sanções do ocidente. Será o suficiente para ganhar o respeito e a credibilidade para que a restante elite o queira no poder?
Dmitri Kovalev – o desconhecido
Se a escolha de Mikhail Mishustin ensina alguma coisa é que Vladimir Putin não se importa de surpreender com as suas escolhas para os cargos mais importantes. E um nome passou para o topo da lista de possíveis escolhas surpreendentes: Dmitri Kovalev, um jovem de 36 anos que foi visto a ter uma longa conversa com o presidente durante o desfile do “Dia da Vitória”.
Pouco se sabe em relação ao jovem que chefia a Administração Presidencial russa mas que muitos acreditam ser filho do empresário da Gazprom Vitaly Kovalev. Dmitri Kovalev tem as mesmas vantagens que Vladimir Putin tinha quando chegou ao poder e não tem “dívidas políticas” para com as elites criadas e mantidas por Vladimir Putin.
Porém, não há motivos para acreditar que o jovem seja menos radical que o restante círculo de Putin e que não vá continuar a política de endurecimento em relação ao ocidente.
Yevgeny Prigozhin – o mercenário
É talvez o nome que tem vindo a ganhar mais notoriedade na cena política russa desde que começou a invasão à Ucrânia. Conhecido como “o chef de Putin”, Prigozhin é conhecido por ser o líder do Grupo Wagner, uma empresa de mercenários russos que ganhou notoriedade a nível internacional por ajudar o Kremlin a atingir os seus objetivos geopolíticos sem ter de oficialmente destacar soldados para o terreno.
O Grupo Wagner deu-lhe imenso poder. Com milhares de soldados no terreno e a conseguir algumas das maiores vitórias para o Kremlin, Prigozhin goza de um estatuto político cada vez maior, ao ponto de ter feito publicamente algo inédito: criticar as chefias políticas russas.
Prigozhin faz parte do grupo mais radical do regime e tem sido uma das vozes mais críticas pela forma como a Rússia tem conduzido a guerra, por achar que o ministério da Defesa, liderado por Serguei Shoigu, tem sido demasiado brando.
Estas circunstâncias levam os especialistas a acreditar que Yevgeny Prigozhin só teria possibilidades de subir ao poder em caso de um colapso total do Estado russo, uma vez que o presidente russo tem ao seu dispor candidatos que reúnem mais apoio e são amplamente considerados mais competentes.
Sergei Shoigu – o fiel companheiro
Destacou-se por ser um político tão hábil quanto leal. De outra forma seria bastante difícil explicar como é que Sergei Shoigu conseguiu subir ao topo do Ministério das Situações de Emergência, em 1991, atravessando vários governos e mantendo-se no cargo até 2012, altura em que saiu para ser governador da província de Moscovo.
O cargo de ministro das Situações de Emergência fez com que ganhasse a popularidade entre a população russa, que o via aparecer para resolver qualquer catástrofe que assombrasse o país. Tornou-se extremamente útil para Vladimir Putin e é considerado um dos homens mais próximos do presidente, de tal forma que este lhe confiou a pasta da Defesa em 2012, com propósito de reformar as forças armadas russas e torná-las uma máquina de guerra moderna, longe dos tempos soviéticos.
A popularidade de Shoigu foi ainda mais reforçada perante o povo russo com a ocupação da Crimeia e a intervenção militar russa na Síria. Porém, não é certo que uma transição de Putin para Shoigu fosse pacífica, particularmente numa altura em que internamente as escolhas tomadas pelas chefias militares têm sido publicamente criticadas por figuras como Ramzam Kadyrov ou mesmo Prigozhin. Além disso, com 67 anos, o fator idade não joga a seu favor.
Sergei Kiriyenko – o Kinder surpresa
Foi eleito para espanto de todos como primeiro-ministro por Boris Yeltsin, em 1998. Como resultado, os russos apelidaram-no “Kinder surpresa”. É o único membro do grupo dos “jovens reformistas” que se mantém fiel ao regime de Moscovo, após a fuga de Anatoly Chubais no início da invasão da Ucrânia e o homicídio de Boris Nemtsov, em 2015.
Mais recentemente, Kiriyenko foi líder da Rosatom, a empresa de energia nuclear russa, e vice-chefe de gabinete da Administração Presidencial da Rússia. Atualmente, foi encarregado por Vladimir Putin pelas zonas ilegalmente anexadas na Ucrânia.
Para Putin, a grande vantagem de Kiriyenko é a sua lealdade, que já provou múltiplas vezes, e, como tal, o seu filho foi nomeado CEO do VKontakte, uma rede social russa que foi nacionalizada devido ao facto de o seu anterior diretor-executivo não querer partilhar os dados pessoas dos seus utilizadores com o governo.
Quem também acredita que Kiriyenko se encontra numa posição particularmente privilegiada para tomar o poder é Kyrylo Budanov, chefe dos serviços secretos ucranianos, que numa entrevista ao jornal Pravda, da Ucrânia, disse que Kiriyenko se vê como “o sucessor de uma transferência de poder mais ou menos pacífica”.
Sergei Sobyanin – o governador
Quem o conhece elogia a sua capacidade de gestão. Sergei Sobyanin é o governador da província de Moscovo desde 2010, a região mais rica do país. O político, que foi governador da região de Tyumen (a maior região produtora de petróleo do país), sabe como funciona a máquina política russa e goza de uma vasta popularidade.
Para contribuir para essa fama está a campanha de combate à corrupção, embora Sobyanin tenha vasta ligações a alguns dos mais poderosos oligarcas russos, particularmente Vladimir Bogdanov. Esta situação coloca Sobyanin numa posição favorável para ser a preferência da poderosa elite económica russa num mundo pós-Putin.
Alexei Navalny – o opositor
É talvez o opositor mais conhecido de Vladimir Putin. Alexei Anatolievitch Navalny tornou-se a figura inequívoca da oposição russa após o assassinato de Boris Nemstov e goza do apoio de uma vasta fatia da população russa que não se revê no revivalismo imperial do Kremlin dos últimos 20 anos.
Os protestos por ele organizados representaram uma das maiores ameaças ao regime, acabando por ser vítima de uma tentativa de assassinato em 2020, após ter sido envenenado com o agente nervoso novichock. Acabaria por ser tratado no estrangeiro, na Alemanha. Depois de recuperar, voltou para Moscovo, sendo imediatamente preso.
Em março de 2022 acabou por ser sentenciado a nove anos de prisão por uma acusação de peculato, num julgamento classificado pela Amnistia Internacional como “um teatro”. Em junho, foi transferido para uma prisão de alta segurança.
Apesar de ser um feroz crítico de Putin e do Krelim, muitos sublinham que as posições de Navalny em relação à Ucrânia em pouco diferem das da elite russa. Numa entrevista à televisão ucraniana em 2012, Navalny disse que "a política externa russa deve ser orientada ao máximo para a integração com a Ucrânia e a Bielorrússia". "Na verdade, somos uma nação. Devemos melhorar a integração."