Zelensky no Congresso dos EUA: uma troca de bandeiras que simboliza "a união e a vitória" de ambos os países - TVI

Zelensky no Congresso dos EUA: uma troca de bandeiras que simboliza "a união e a vitória" de ambos os países

Presidente da Ucrânia diz que o dinheiro dos Estados Unidos "não é caridade", mas "um investimento na segurança e democracia globais"

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky juntou-se a uma reunião do Congresso dos Estados Unidos por volta das 00:30 de Portugal Continental, 19:30 na hora local.

Foi recebido com um retumbante aplauso que se prolongou por vários minutos, desde que transpôs a porta até chegar ao pódio onde iria discursar. A apresentação formal do líder europeu por Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, suscitou uma nova vaga de aplausos – à qual Zelensky agradeceu, mas assumiu com um sorriso ser “demasiado”.

Ao contrário da conferência de imprensa ocorrida apenas umas horas antes, em que falou maioritariamente na língua nativa ucraniana, o discurso no Congresso foi totalmente proferido em inglês. Afinal, as suas palavras eram dirigidas a cada cidadão americano, como evidenciado logo no início do monólogo:

“Caros americanos em todos os estados, cidades e comunidades. Todos aqueles que valorizam a liberdade e a justiça, que a valorizam tão veementemente como nós, ucranianos, em todas as nossas cidades, em todas as famílias. Espero que as minhas palavras de respeito e gratidão ressoem em cada coração americano”.

"Contra todas as expectativas, a Ucrânia não caiu - está viva", declarou, perante um novo aplauso. Trata-se da "primeira vitória conjunta" entre a Ucrânia e o resto do mundo, que - juntos e "sem medo" - conseguiram derrotar "a batalha da Rússia pelas mentes do mundo inteiro". Ucranianos, americanos e europeus, não importa: "a tirania russa perdeu o controlo sobre todos nós”.

Os cidadãos russos, por seu lado, encontram-se ainda sobre o domínio da propaganda de Putin – e só serão livres “quando derrotarem o Kremlin nas suas mentes”.

Espelhando o discurso de Joe Biden em conferência de imprensa, em que referia que a luta pela liberdade e democracia não se cingia apenas ao território ucraniano, também Volodymyr Zelensky faz questão de destacar que “o mundo está demasiado interconectado e interdependente” para que qualquer nação se sinta isenta das consequências do conflito. "Europa, Estados Unidos, África, China": nesta realidade global, os oceanos e fronteiras que separam países e continentes não são barreira suficiente para garantir a segurança de qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo.

Os Estados Unidos e a Ucrânia são, portanto, “aliados nesta batalha”, que deverá sofrer um ponto de viragem no próximo ano de 2023. “É o ponto em que a coragem ucraniana e a determinação americana vão garantir a liberdade à Ucrânia e aos que lutam pelos seus valores”.

De seguida, Zelensky centrou o discurso nos territórios ucranianos mais afetados pela guerra, com especial destaque para Bakhmut, onde esteve esta terça-feira.

O líder ucraniano acusa a tática militar russa de ser “primitiva”, limitando-se a destruir e “queimar tudo o que veem”. Não obstante, a Ucrânia promete não ceder às investidas do inimigo. “Bakhmut permanece firme”, declarou, citando um dos principais alvos das forças russas. “Cada centímetro daquele território está ensopado em sangue, mas Donbass permanece firme”. Uma nova ovação, desta vez de pé.

Os aplausos deram lugar a risos quando Zelensky continuou: “temos artilharia, sim, obrigado. Mas é suficiente? Honestamente, nem por isso”. O chefe de Estado assegurou que as forças ucranianas eram capazes de operar tanques americanos e incentivou a que este apoio “crucial” – tanto em forma de pacotes financeiros, como em armamento de guerra – continuasse a ser assegurado. “O vosso dinheiro não é caridade. É um investimento na segurança e democracia globais, que nós tratamos da forma mais responsável possível”.

A responsabilidade de terminar a guerra é da Rússia, reconhece o presidente ucraniano, mas é “pueril” esperar que o Kremlin inicie quaisquer negociações de paz. É, portanto, função dos países aliados “apressar a vitória” através da determinação de mais sanções e da responsabilização de “todos os que começaram esta guerra injusta e indesejada”.

Um Natal à luz das velas - e a troca de presentes entre Zelensky e os EUA

Apesar do cenário de caos que assola o país, o povo ucraniano fará questão de celebrar o Natal. As reuniões em família serão iluminadas pela luz das velas – “não porque é mais romântico”, mas porque milhões de pessoas continuam sem acesso a eletricidade e água após os sucessivos ataques russos a infraestruturas críticas. Ainda assim, “a luz da nossa fé não se apaga. Os ucranianos vão continuar a sentar-se à mesa e a valorizar-se uns aos outros”. Os votos de Natal e de Ano Novo, esses, serão comuns a todas as mesas: “vitória, só vitória”.

Após agradecer novamente às famílias americanas que, nesta época natalícia, partilham o mesmo desejo de paz para o povo ucraniano, Volodymyr Zelensky faz uma das referências mais diretas à história e política norte-americanas ao evocar uma citação de Franklin D. Roosevelt, presidente dos Estados Unidos entre a década de 30 e 40. “O povo americano, no seu justo direito, vai prevalecer até à vitória absoluta. E digo-vos: o povo ucraniano também vai vencer”.

Voltando-se para trás, onde se encontravam Nancy Pelosi e a vice-presidente Kamala Harris, o líder europeu anuncia ter trazido algo que os soldados de Bakhmut lhe tinham pedido para entregar em seu nome. Uma bandeira da Ucrânia, adornada com mensagens ininteligíveis – provavelmente, escritas à mão pelos mesmos soldados de Bakhmut – e que é entregue a Pelosi. “Que esta bandeira fique convosco, senhores e senhoras, e que seja o símbolo da nossa vitória. Vamos ganhar porque estamos unidos – a Ucrânia, os Estados Unidos, e todo o mundo livre”.

Então, debruça-se novamente sobre o pódio para as últimas palavras. “Que Deus abençoe os Estados Unidos para sempre, um feliz Natal, e um vitorioso Ano Novo. Slava Ukraini”.

Antes de Zelensky abandonar a reunião do Congresso, Nancy Pelosi retribui o gesto e oferece uma bandeira dos Estados Unidos, que o presidente ucraniano ergue perante mais uma onda de aplausos. “Esta bandeira esteve a voar hoje sob o Capitólio, em honra desta visita”, esclarece a presidente da Câmara dos Representantes, antes de dar a sessão por encerrada.

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