A associação ambientalista Zero apontou este domingo cinco razões para colocar a “suficiência” no centro da política europeia, palavra destacada como “uma das mais importantes na salvaguarda do planeta e da humanidade”.
Na véspera do Dia da Terra, a Zero recorda que se vivem, atualmente, várias crises, da climática à da biodiversidade, passando pela poluição, excesso de utilização de recursos, sem esquecer a “crise de paz”, para defender que “a solução passa, entre vários elementos, por uma mudança estrutural de paradigma da sociedade que evite o desperdício e use apenas o necessário”.
“A Zero apela a todos, políticos, empresas e pessoas, a perceberem e a alinharem-se com uma das palavras mais importantes para salvaguardarmos o planeta e a humanidade – a suficiência”, lê-se num comunicado enviado à agência Lusa.
Segundo o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), a suficiência expressa-se em políticas, medidas e práticas quotidianas que evitam a procura de energia, materiais, água e terra, enquanto proporcionam bem-estar humano para todos dentro dos limites planetários.
Partindo desta definição, a Zero refere que “ao colocar a suficiência no centro das suas políticas” se atingirá “um planeta mais resiliente e com uma boa utilização dos recursos, proporcionando uma transição mais segura, justa e menos dispendiosa, por exemplo, para a neutralidade climática”.
No contexto da União Europeia (UE), e segundo a associação ambientalista, a pegada material, isto é, a quantidade total de combustíveis fósseis, biomassa, metais e minerais que são consumidos, incluindo os incorporados nas importações, é atualmente de 14,8 toneladas per capita por ano, “um valor que é mais do dobro do limiar considerado sustentável e justo”, refere.
“Contudo, apesar da utilização e do acesso abundantes da UE à energia e aos recursos, muitos cidadãos ainda não conseguem satisfazer as suas necessidades fundamentais ou aceder a serviços essenciais, e as desigualdades crescentes ameaçam rasgar o tecido social das democracias”, lamenta a associação.
Ao mesmo tempo, a Zero recorda que a extração e a transformação de recursos estão na origem das maiores crises da geração, desde o aquecimento global, à perda de biodiversidade, stress hídrico, poluição e injustiça social.
“Os dados são claros: 90% da perda global de biodiversidade e do stress hídrico, 50% das emissões globais de gases com efeito de estufa e mais de 30% dos impactos da poluição atmosférica na saúde são causados pela extração e transformação de recursos”, diz a associação que aponta cinco as razões para que a UE coloque a suficiência no centro da sua política.
A Zero defende que “a suficiência pode tornar a União Europeia UE e os seus cidadãos mais resilientes”, ao mesmo tempo que significa menos custos e mais competitividade.
Para a associação, suficiência significa maior facilidade em atingir os objetivos em matéria de clima e energia, bem como uma melhor qualidade de vida para todos ao implicar uma convergência de consumo entre os países mais ricos e menos ricos, aumentando assim a equidade no acesso aos recursos e serviços.
“Suficiência significa uma Europa mais sustentável”, resume a Zero, apontando para o Pacto Ecológico Europeu, um compromisso para a neutralidade climática querem “uma forte tónica nos aspetos climáticos e, em especial, nas emissões de gases com efeito de estufa”.
Mas “outras questões de sustentabilidade, como o esgotamento dos recursos e o declínio da biodiversidade, não foram abordadas com a mesma urgência ou ambição”, lamenta a Zero que, por fim, recorda que, em março, assinou, com outras 85 organizações, o manifesto “Uma Europa resiliente e inteligente na forma como usa os recursos: colocar a suficiência no centro da ação da UE”.