Ana Margarida Rosa Lobo
São José Lapa
Esperançosa, filha única dum revisor de provas oposicionista à ditadura e duma costureira, Ana nasceu na Fuzeta. Veio para Lisboa estudar no Conservatório Nacional e estreou-se no cinema em 1968 dando corpo a uma protagonista que marcou, à época, e ainda marca. A memória do cinema – do seu único filme – e dos palcos não a abandona mas Ana nunca pôs em causa a escolha que fez: a família, e Sérgio, em desfavor da representação.
Aos 70 anos, que são os 45 de antigamente, Ana continua bonita, ativa e senhora do seu nariz. Está casada há 50 anos com Sérgio, de quem teve quatro filhas, Natália, Irene, Maria e Olga, nomes que “importou” da dramaturgia russa, em particular da obra de Tchéckov, que muito admira.
Ana ainda gosta de Sérgio, sempre gostou, acredita que vai sempre gostar mas decide sair de casa e pedir o divórcio na celebração das bodas de ouro a que, aliás, não comparece.
Ana sente que cumpriu um ciclo e acredita que tem de aproveitar o melhor que souber e puder os anos de vida que tem pela frente sem “contrapesos”: sem Sérgio; sem a casa; sem preocupações com mais ninguém que não seja ela própria. Ana quer é viver! Fruir uma liberdade que nunca experimentou pondo os seus desejos, os seus interesses e os seus sonhos em primeiro lugar.
Depois dos 70 anos, ela em detrimento dos outros. É mais um legado para as filhas: nunca é tarde para mudar; nunca é tarde para ser feliz; nunca é tarde para aprender a amar e a valorizar-se. Cada novo dia como se fosse o último. Em cheio! Em pleno!