Padre Isidro Botica
Carlos M. Cunha
Na casa dos 50 anos, Padre Isidro é natural da aldeia, tendo passado lá a sua vida, exceto nos anos em que frequentou o seminário, no Porto.
Isidro descobriu muito cedo a sua vocação para Padre, para grande desgosto das raparigas desse tempo, grupo esse encabeçado por Florinda, a sua melhor amiga desde sempre. Isidro sempre soube que Florinda era perdida de amores por ele, e também ele chegou a ser. Só que o chamamento por Deus falou mais alto. O máximo que aconteceu entre eles foi um beijo à beira-rio, beijo esse que marcou Florinda para sempre.
Embora sem interesse amoroso, Isidro preocupa-se com Florinda, e tenta protegê-la. Vive, assim, atormentado por Florinda ter casado “tão mal”. Podia ter escolhido um homem mais decente.
Isidro é um homem/padre acarinhado por toda a população. Não há quem não goste dele. Só tem uma particularidade que atormenta toda a aldeia: é que quando bebe (e basta uma quantidade mínima) algo com álcool, torna-se demasiado falador e chato, contando histórias
sem interesse, absolutamente, nenhum da sua infância e dos tempos do seminário, em que se achava um libertino. Só que não. Face a esta particularidade, as missas chegam a demorar horas, mal ele toca no vinho que tem no cálice. Assim, toda a aldeia é cúmplice em não o
deixar beber e fazem tudo para lhe trocar as voltas.
Para além de padre, Isidro é também professor de latim... numa aldeia em que a maioria dos habitantes mal estudou português.
À margem disso, Isidro esconde um segredo: é filho bastardo do filho (já falecido) de Corcovada.