A minha mulher é 15 anos mais velha e por ela abdiquei do sonho da minha vida - V+ TVI1224

A minha mulher é 15 anos mais velha e por ela abdiquei do sonho da minha vida

  • Redação V+ TVI
  • 18 set, 10:00

Quando tudo parecia perdido, Mafalda devolveu-me o sonho de viver.

Todas as semanas, publicamos um conto ficcional sobre o amor, a partir de um caso real  

Sou o mais novo de quatro irmãos. Cresci numa casa cheia de movimento, onde o riso era tão frequente como o pão quente ao jantar. Nunca fomos de discussões; éramos quatro crianças felizes, a correr entre quartos e corredores, sempre com a certeza de que havia lugar para todos à mesa. A minha mãe era o coração dessa casa. Trabalhadora incansável, tinha o dom raro de acolher sempre mais um — fosse um amigo, um vizinho ou alguém que aparecia sem avisar. Com ela aprendi que a vida podia ser fértil e generosa, que uma família se fazia de braços abertos e raízes profundas.

Talvez por isso, desde cedo, o meu maior sonho fosse ser pai de muitos filhos. Inconscientemente, procurava uma companheira que fosse como a minha mãe: firme, serena, capaz de criar vida e de dar espaço para mais um.

Na faculdade tive relações leves, quase despreocupadas. Até que, aos 26 anos, conheci Clara. Bonita, de cabelo lustroso, tinha covinhas discretas que apareciam raramente mas enchiam-me o peito de calor. Chamava a atenção sem esforço, e eu sentia orgulho em estar ao lado dela. Fiz, em silêncio, uma promessa íntima: seria com Clara que construiria o futuro.


Mas o tempo foi passando, e percebi que Clara não florescia. Eu trabalhava, comprei carro, comecei a sonhar com a compra de uma casa, com filhos a correr pela sala. Clara, pelo contrário, recuava sempre. Trazia reservas, medos, dúvidas. A mãe dela boicotava-lhe a audácia com avisos sombrios sobre os perigos do mundo. Clara retraía-se, fechava-se, até que o sorriso e as covinhas desapareceram quase de vez. Eu esperei. Esperei mais do que devia.Foi então que, num almoço em casa do meu irmão, conheci Mafalda. Ela entrou na sala como uma rajada de vento quente que chega sem ser esperada. Gargalhada solta, ténis gastos, roupa colorida como se tivesse vindo de um festival de verão. Falava com todos, metia-se com os meus sobrinhos, ria alto, ria de verdade. Eu olhava e via nela algo que nunca tinha visto em mais ninguém. Mafalda parecia uma planta viçosa, verdejante, cheia de seiva — dessas que crescem em qualquer terreno, lançam raízes, dão fruto e transformam tudo à sua volta. “Quem é?”, perguntei ao meu irmão. “É a Mafalda”, respondeu ele, quase indiferente, e explicou que trabalhava na mesma empresa da minha cunhada.

Voltei para casa e não consegui parar de pensar nela. No fim de semana seguinte, liguei ao meu irmão e inventei um pretexto para regressar. “Aparece sim,” disse ele, “a Mafalda também deve passar cá.” E a meio da tarde lá estava Mafalda outra vez, luminosa como um campo de flores no auge do verão. Quando entrou, a sala inteira se transformou; as crianças pediram-lhe colo, era como se todos respirassem melhor perto dela.
À saída, despediu-se de todos com a mesma gargalhada que iluminara a tarde. Fiz-me rápido em oferecer-lhe boleia: “Queres que te deixe em casa?”

Ela hesitou um segundo, olhou-me nos olhos com aquele brilho travesso e respondeu: “Se não for trabalho a mais…” No carro, o silêncio era novo, carregado. A estrada corria, mas eu só ouvia o som leve da sua respiração. O perfume a alfazema — fresco, agreste, como campos de lavanda ao sol — espalhava-se pelo habitáculo. Senti-me nervoso, como um adolescente, as mãos a suar no volante.


Mafalda falava, distraída, de trabalho, de viagens, das histórias da minha cunhada. Eu respondia a meias, porque na verdade não ouvia nada. Estava demasiado consciente do espaço pequeno, da proximidade dela, do calor que emanava, como se fosse mesmo uma planta viva ao lado, pulsando energia e seiva.
Estacionei junto ao prédio. Ela virou-se para agradecer, e nesse instante os nossos olhos prenderam-se. Foi como um campo magnético. Antes que pudesse pensar, a minha mão procurou a dela. Apertei-a, nervoso.

E depois, como se o gesto fosse inevitável, inclinei-me e beijei-a. O beijo foi breve, mas incendiou-me inteiro.
“És tudo o que quero”, ouvi-me dizer, quase sem acreditar no atrevimento da frase. Mafalda riu-se. Não foi uma recusa; foi uma gargalhada livre, cristalina, como se a vida inteira fosse uma aventura a começar. Saiu do carro ainda a rir, despedindo-se com um aceno leve. Fiquei ali parado, com o coração em disparo, como se tivesse atravessado um limite invisível. Sabia, com uma clareza brutal, que nada seria igual.


Voltei para casa e encontrei Clara no sofá, afundada, apática, sem covinhas. A distância entre nós era um abismo. Nessa mesma noite, terminei a relação. Clara quase não reagiu e sem dar conta saiu da minha vida.
Dias depois, o choque veio: no primeiro jantar a dois, num tailandês do centro da cidade, descobri que Mafalda tinha 46 anos. E eu tinha 31. Quinze anos de diferença. Senti o meu sonho de pai numeroso cair por terra. Como construir a família que sempre imaginei? Fiquei sem chão. A imagem de crianças correndo pela sala, rindo ao som de brincadeiras e histórias inventadas, desfez-se diante dos meus olhos. Era como se todas as janelas do meu futuro tivessem se fechado de repente, e eu estivesse preso num corredor escuro, sem perceber como abrir a porta seguinte.


Uma parte de mim queria desistir, acomodar-se à ideia de que alguns sonhos têm prazo de validade, que certas histórias simplesmente não se escrevem. Mas outra parte, mais profunda e teimosa, recusava-se a ceder.
Eu olhava para Mafalda e via a vida inteira que eu jamais esperava encontrar: intensa, inesperada, cheia de vitalidade. E me perguntava se o sonho que me acompanhara desde menino precisava mesmo ser exatamente como eu o tinha imaginado. Talvez fosse possível reinventá-lo. Talvez a vida tivesse guardado para mim outra forma de plenitude, mais suave, mais surpreendente. Mas naquele momento, confesso, a dúvida me esmagava: como conciliar o desejo antigo com a realidade presente? Como reconciliar o sonho de outrora com a pessoa que tinha diante de mim, inteira e vibrante, mas diferente do que eu planejava? Foi um silêncio pesado, desses que fazem o peito doer, que me mostrou que o terreno da vida nunca é exatamente plano.

Que o futuro, por mais que queiramos desenhá-lo com régua e compasso, sempre se apresenta em curvas inesperadas, e que a coragem, às vezes, não é apenas sonhar, mas aprender a sonhar de novo — de outra forma, com outras mãos, outros braços, outros corações ao redor da mesa. Foi o meu irmão quem me disse, com simplicidade um dia: “Gostas dela, não gostas? Então sê feliz.” E essas palavras foram o pedaço que faltava no puzzle. Entreguei-me. Com ela, aprendi que nem sempre a vida segue o desenho que fazemos, mas pode ser ainda mais rica quando nos deixamos surpreender. E meses mais tarde, Mafalda desafiou-me a olhar para além do óbvio: “E se pensássemos em adoção?”

E assim fizemos. Inscrevemo-nos. Esperamos. Talvez venha. Talvez não. Mas o que já temos é inteiro.
Hoje sei que não abdiquei do meu sonho: apenas o transformei. Mafalda é a floresta que nunca imaginei, a planta viçosa que cresce sem pedir licença, que dá fruto inesperado, que lança raízes onde antes havia apenas terra seca.


O meu futuro está nela — nessa seiva que nunca se esgota, nesse verde que me cobre, nesse amor que me tornou um homem pleno.

Este conteúdo contou com a participação de inteligência artificial na sua elaboração.

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