Aos 70 anos tenho uma relação com um homem de 45. E não nos conseguimos largar - V+ TVI1224

Aos 70 anos tenho uma relação com um homem de 45. E não nos conseguimos largar

  • Redação V+ TVI
  • 29 set, 09:34

A diferença de 25 anos não os afastou.

Todas as semanas, publicamos um conto ficcional sobre o amor, a partir de um caso real  

Aos 70 anos tenho uma relação com um homem de 45. E não nos conseguimos largar

O meu nome é Aurora. Tenho setenta anos, sou viúva e sempre fui muito bem-resolvida e feliz. Depois de uma vida cheia, hoje vivo bem da minha reforma e sei exatamente o que quero da vida. Cuido de mim, sou bonita e atraente — pelo menos sinto-me assim. Foi com esta clareza que me envolvi com Miguel, um homem de quarenta e cinco anos. Desde então, não nos conseguimos largar.

Mas esta, afinal, é a história dele.

A vida do Miguel nunca foi fácil. Desde pequeno, parecia estar sempre em guerra com o mundo: mau aluno, rebelde, indisciplinado. No secundário, os chumbos sucederam-se. A mãe — divorciada — desesperava. Houve explicações, mudanças de escola, tentaram tudo. Acabou por concluir o 12.º ano à noite, mais por pressão da família do que por vontade própria. Quando acabou, todos suspiraram de alívio. A universidade ficou fora de questão.

O desporto acabou por ser a sua saída. Começou a dar aulas em ginásios, mas o salário era baixo, mal suficiente para cobrir as despesas básicas. Passava horas a instruir clientes, repetindo os mesmos exercícios, explicando posturas, corrigindo movimentos — sempre com paciência e dedicação —, mas sentia que o seu esforço raramente era valorizado. Viu colegas mais jovens, menos experientes, avançarem e conseguirem melhores contratos, enquanto ele permanecia preso ao mesmo lugar, num ciclo de monotonia e desânimo. Entre vendas de suplementos, aulas particulares e horários extensos, mal tinha tempo para si próprio. O que o mantinha eram as pequenas vitórias: um cliente que finalmente atingia um objetivo, um sorriso de agradecimento, o reconhecimento silencioso de quem percebia que ele se entregava de corpo e alma. Mas, no fundo, Miguel sentia sempre que a vida lhe escapava, que estava a ver os outros avançarem enquanto ele ficava para trás. Numas férias em Valência, Miguel apaixonou-se por uma espanhola.

No início, tudo parecia perfeito: passeios pelas ruas estreitas da cidade, risos partilhados em cafés, noites longas de conversas e planos. Ela engravidou, e o amor parecia dar-lhe finalmente alguma estabilidade. Mas, à medida que a realidade se impunha, diferenças profundas começaram a surgir. As discussões eram frequentes, pequenos desentendimentos tornaram-se barreiras, e a paixão inicial começou a dar lugar à frustração.

Quando a filha nasceu, em vez de unir, a situação acabou por afastá-los. A espanhola queria outra vida, Miguel sentia-se preso entre o amor pela filha e a incapacidade de corresponder às expectativas da relação. A decisão de se separar foi dolorosa, mas inevitável. Com o coração pesado, Miguel voltou para Lisboa, para a casa da mãe, carregando consigo não apenas a dor de um amor desfeito, mas também a responsabilidade de criar uma filha à distância.

Em Lisboa, encontrou-se com o mesmo mundo que conhecia, mas agora com um vazio novo. Continuou a dar aulas no ginásio, a vender suplementos, e via os amigos avançarem na vida enquanto ele sentia que ficava para trás. As visitas da filha nas férias de verão eram um bálsamo: passavam agosto inteiro no Alentejo, numa casa de família, com a mãe e a irmã, tentando criar uma ilusão de felicidade e despreocupação que, por vezes, desaparecia diante da consciência de que a sua vida tinha mudado para sempre.

Até que a mãe adoeceu. Três anos de luta intensa contra o cancro, marcados por dias intermináveis de consultas, tratamentos e noites acordadas ao lado dela. Miguel dedicou-se a ela com uma paciência silenciosa, enfrentando a dor e a impotência com uma coragem que nunca soubera que tinha. Cuidar dela tornou-se o centro da sua vida, e cada pequeno progresso dela era uma vitória, cada recuo, um golpe no coração.

Quando a mãe morreu, Miguel sentiu pela primeira vez um misto de perda e libertação. Herdou o apartamento da mãe, vendeu-o com a irmã e finalmente comprou a sua própria casa — um espaço só seu, onde podia respirar e começar a viver para si mesmo. Paralelamente, o mundo dos ginásios expandiu-se, e com ele a sua carreira. Pela primeira vez, sentiu que podia olhar para a sua vida e reconhecer conquistas genuínas, que podia finalmente avançar e construir algo sólido.

Foi aí que nos conhecemos, no ginásio.

Eu já não tinha tempo para hesitações. Vi-o e soube, sem sombra de dúvida, que o queria. Não me importei com a diferença de idade, nem com os olhares curiosos, nem com os preconceitos silenciosos à nossa volta. Havia nele algo que me chamava de imediato — aqueles ombros fortes, sim, mas também a vulnerabilidade escondida no olhar, um misto de resistência e desejo contido. Convidei-o para um café. Ele aceitou, visivelmente confuso, incapaz de esconder a surpresa. Sorri-lhe, e antes que pudesse pensar em recuar, aproximei-me e beijei-o.

Ficou atordoado. Evitou-me durante duas semanas, como se ainda estivesse a digerir o impacto do nosso encontro. Mas quando voltou, chegou com a calma de quem regressa a casa depois de uma longa viagem e o coração ansiando pelo lar. Nos olhos trazia uma fome silenciosa, uma necessidade de proximidade e afeto que nunca antes tinha experimentado — a ânsia de um abraço que o fizesse sentir inteiro.

Nesse dia não lhe deixei espaço para dúvidas. Toquei-lhe como uma mulher super experiente, que conhece o corpo e a alma de um homem antes mesmo de os descobrir. Cada gesto meu era firme, seguro, cheio da experiência de uma vida. Ele tremia, perdido entre o desejo e o espanto, e ao entregar-se a mim parecia finalmente inteiro.

Foi química pura, fogo de artifício, um arrebatamento que não se explica. Cada toque era ao mesmo tempo familiar e novo, despertando sensações que ambos ignorávamos existir. Descobrimos juntos um território sem mapas: eu guiava, ele seguia; eu abria caminho, ele respondia com a intensidade de quem tinha esperado sempre por aquele encontro. O tempo parecia suspenso, cada gesto era medido e simultaneamente espontâneo, cada olhar trocado carregava uma promessa silenciosa de entrega total. Sorrisos e suspiros preenchiam o espaço entre nós, e mesmo o silêncio tinha voz — uma voz que nos dizia que estávamos exatamente onde deveríamos estar. Havia uma confiança mútua, uma intimidade que não precisava de palavras, uma fusão de desejo e compreensão que nos deixava sem fôlego, e, ao mesmo tempo, mais inteiros do que alguma vez nos sentimos sozinhos.

Aurora, és a melhor da minha vida”, disse-me Miguel num destes dias, e senti que cada palavra vinha de dentro, carregada de toda a intensidade do que vivemos juntos.

Desde então, vivemos colados um ao outro, como se cada momento fosse incompleto sem a presença do outro. Não há horas nem dias que nos consigam separar; o mundo exterior perde relevância diante da intimidade que construímos. Cada toque, cada olhar, cada respiração partilhada transforma o tempo em algo elástico, quase inexistente. No nosso espaço, os relógios param, e a vida reduz-se à intensidade de estarmos juntos — completos, inteiros, finalmente em casa um no outro.

 

Este conteúdo contou com a participação de inteligência artificial na sua elaboração.

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