Todas as semanas, publicamos um conto ficcional sobre o amor, a partir de um caso real
Chamo-me Benedita, tenho 40 anos. Sou alta, com cabelos ao vento que gosto de deixar soltos sempre que posso, e adoro vestir-me bem — não de forma exagerada, mas com elegância, cortando exatamente pelo meu gosto, transmitindo confiança sem precisar de dizer nada. Casei com o Manuel, mas soube desde o início que era um erro. Nunca me revi nele. É um homem acomodado, que só pensa em futebol, em almoçaradas intermináveis com os amigos, e que em casa não mexe uma palha. Organizo tudo, faço tudo — desde as contas às mochilas dos miúdos, passando pelas compras e pela casa. Ele limita-se a existir dentro da rotina que eu construí.
Tivemos filhos porque ser mãe sempre foi o meu sonho — e cumpri-o. Temos três filhos maravilhosos, são parecidos comigo: cheios de vontade, curiosos, vivos, com sentido de humor e uma energia que nunca acaba. Adoro vê-los discutir ideias à mesa, inventar jogos no jardim, fazer perguntas difíceis. Herdaram de mim essa inquietação, essa vontade de ir sempre mais longe.
Mas, apesar de toda a felicidade que me dão, como mulher fiquei vazia. O Manuel nunca me acompanhou nessa jornada. Para ele, bastava estar presente de longe, aparecer para as fotos e manter a rotina. Para mim, ser mãe foi realização; ser esposa dele, uma prisão.
O trabalho tornou-se o meu refúgio. Em casa, sentia-me invisível, reduzida ao papel de mãe e dona de casa; no escritório, sentia-me viva, reconhecida, admirada. Sempre trabalhei e tenho um bom cargo numa grande empresa de media, o que me dá autonomia e sentido de propósito. No marketing, cada campanha bem-sucedida era uma vitória pessoal, um lembrete de que eu era capaz, criativa, valorizada. Ali eu era ouvida, ali eu importava, ali podia ser eu própria, sem filtros nem obrigações impostas.
Foi nesse cenário que, há oito anos, entrou o Duarte. Chegou como novo diretor de marketing, mas não era apenas um chefe: era um navegador de mundos desconhecidos, um explorador de ideias, de livros, de tendências, de emoções. Cada reunião com ele era uma expedição, cada conversa uma descoberta. Havia nele algo de exótico, uma mistura de curiosidade e audácia, como se carregasse na mochila especiarias e aventuras do mundo inteiro, pronto para me mostrar lugares que eu nunca tinha imaginado.
Durante um ano limitei-me a admirá-lo em silêncio, fascinada. Ia para o trabalho ansiosa só para o ver, para trocar ideias com ele. Viajávamos em serviço e, nessas viagens, sentia-me como uma terra a ser desvendada, cada gesto dele era um mapa, cada olhar uma bússola. Com o Manuel, as conversas eram ocas: futebol, banalidades, a rotina. Com o Duarte, sentia-me inteira. Cada palavra dele parecia abrir uma rota, cada gesto revelar novos territórios de prazer e compreensão.
E depois veio a atração física. Foi inevitável. A ligação entre nós foi explosiva, arrebatadora, como se estivéssemos a navegar juntos um oceano desconhecido, com ventos e correntes que nos empurravam irresistivelmente um para o outro. Cada toque, cada beijo, cada abraço era como descobrir uma ilha secreta, cheia de tesouros escondidos, especiarias, aromas e cores que me deixavam sem fôlego.
Há sete anos que vivemos este segredo. Almoçamos juntos todos os dias, viajamos como marido e mulher, dividindo quartos de hotel, rindo das pequenas confusões das viagens de trabalho, mas sempre encontrando tempo para explorar o mundo um do outro, tocar-nos, descobrir novos caminhos, novos mapas de prazer e afeto.
Amamo-nos com a intensidade de quem sabe o risco que corre, mas que não consegue — nem quer — parar. A química entre nós é avassaladora; quando nos encontramos, parece que o mundo inteiro se reduz ao espaço entre os nossos corpos. A paixão não diminui, mesmo depois de anos, porque cada momento é uma nova expedição, imprevisível e íntima.
Hoje sei que muita gente desconfia. Os olhares, os sussurros, as pequenas suposições — tudo isso existe, e eu sinto. Mas já não me importo. O maior erro da minha vida foi casar com o Manuel. O maior acerto da minha vida foi ter-me deixado levar pelo Duarte. Ele trouxe-me de volta à vida, fez-me descobrir partes minhas que estavam adormecidas, e mostrou-me que podia ser inteira, completa, mulher e amante, mãe e aventureira, ao mesmo tempo.
Não há arrependimentos, nem medos paralisantes. Só existe a certeza de que, finalmente, estou viva. Estou completa, e nunca mais me vou contentar com menos do que isso. Não sei se algum dia vamos deixar os nossos cônjuges — isso é secundário. O que importa é o que vivemos, a intensidade que sentimos, o amor e o desejo que nos une todos os dias.
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