“Sempre achei que havia algo de errado com o meu corpo.” Um programa de TV ajudou-a a encontrar a resposta - V+ TVI1224
Imagem: TikTok

“Sempre achei que havia algo de errado com o meu corpo.” Um programa de TV ajudou-a a encontrar a resposta

  • Redação V+ TVI
  • 11 jun, 17:47

Hesitou antes de partilhar a sua história no TikTok, mas o impacto foi imediato: recebeu dezenas de mensagens de outras mulheres que se sentiam sozinhas, estranhas ou ‘partidas’.

Karren Lovejoy passou anos a sentir-se incompreendida e confusa sobre o seu próprio corpo. O que ela pensava ser um problema exclusivamente seu, viria mais tarde a ter um nome: vaginismo. Foi através de um programa de televisão que finalmente encontrou uma explicação para aquilo que sentia — e que muitas mulheres continuam a viver em silêncio.

“Não era uma escolha. Eu simplesmente não conseguia.”

O desabafo sincero de Karren no TikTok tornou-se viral e está a ajudar a quebrar o silêncio em torno do vaginismo, uma condição que dificulta ou impede a penetração vaginal, muitas vezes devido a dor intensa e contrações involuntárias dos músculos pélvicos.

“Fui virgem até casar, e não porque estava a guardar-me por convicção. Simplesmente não conseguia.”

Aos 13 anos, percebeu pela primeira vez que algo não estava bem, quando tentou colocar um tampão e sentiu como se houvesse uma parede a bloquear a entrada. O mesmo aconteceu anos mais tarde, na sua primeira tentativa de ter relações sexuais.

“Parecia que era algo fácil para toda a gente, mas não para mim. Sentia-me quebrada.”

Após uma segunda tentativa frustrante e dolorosa, percebeu que aquilo não ia desaparecer sozinho. Foi então que viu a série Sex Education, onde uma personagem falava sobre vaginismo. Pela primeira vez, o que sentia tinha um nome.

“Fui ao ginecologista e disse: ‘Acho que nem tenho buraco’. A médica respondeu: ‘Tens, sim. Só é muito pequeno. E tens vaginismo. Vais precisar de fisioterapia do pavimento pélvico.’”

A jornada da cura

Antes mesmo do diagnóstico oficial, Karren tinha pesquisado no Reddit e encontrado uma comunidade de mulheres com experiências semelhantes. Mas na sua vida pessoal, ninguém sabia o que era: nem a mãe, nem os amigos.

A fisioterapia começou com sessões mais emocionais do que físicas: exercícios de respiração, alongamentos e reconexão com o corpo.

“Pela primeira vez percebi que nunca me senti realmente ligada ao meu corpo.”

Mas a pandemia de COVID-19 dificultou o processo. As sessões passaram a ser por videoconferência e, sozinha no quarto, Karren voltou a sentir medo.

“A ideia da penetração ainda me aterrorizava. Queria, mas ao mesmo tempo parecia invasiva e assustadora.”

Inspirada por histórias online, comprou um conjunto de dilatadores vaginais — mas demorou um ano até se sentir pronta para os usar.

O amor como apoio

Foi o apoio do futuro marido que a fez avançar.

“Quando percebi que a relação era séria, contei-lhe. Ele respondeu: ‘O que precisamos de fazer para resolver isso?’”

Começaram a agendar “sessões de dilatadores” enquanto ela ainda estava na universidade. Ele ligava-lhe por telefone, punha música relaxante e dava-lhe apoio emocional.

“Chorava antes de cada sessão, mas saber que ele estava ali ajudava imenso.”

O primeiro sucesso com um dilatador foi um marco.

“Percebi: afinal é possível.”

Mesmo assim, a jornada não foi fácil. Noite de núpcias?

“Gritei como se me estivessem a matar. Mas não estava sozinha.”

A relação sexual ainda causava dor — o corpo de Karren associava o ato ao sofrimento — mas, com o tempo, a confiança, paciência e cuidado do parceiro ajudaram a desconstruir esse medo.

“A gentileza e a compreensão dele ajudaram-me a baixar as defesas. Começou a melhorar, pouco a pouco.”

Hoje, intimidade tem outro significado para Karren.

“Sinto-me empoderada. Posso finalmente viver a sexualidade como sempre ouvi descrever.”

Falar é o primeiro passo

Karren hesitou antes de partilhar a sua história no TikTok, mas o impacto foi imediato: recebeu dezenas de mensagens de outras mulheres que se sentiam sozinhas, estranhas ou ‘partidas’.

“Quando um problema tem nome, torna-se mais fácil pedir ajuda.”

Karren lembra que há outras condições que podem causar sintomas semelhantes, como vulvodínia ou hímen imperfurado, e reforça a importância de procurar diagnóstico médico em vez de assumir conclusões.

Critica também a falta de preparação de alguns profissionais de saúde:

“Alguns ginecologistas perceberam logo. Outros foram frios e distantes, como se eu tivesse de me conformar.”

Uma nova relação com o corpo

Hoje, Karren sente que tem controlo sobre o seu corpo e sobre a sua vida.

“A minha autoestima e autonomia melhoraram muito. Agora sei que sou capaz de ultrapassar desafios, defender-me e expressar o que preciso.”

Para quem está no início do caminho, deixa uma mensagem simples, mas poderosa:

“Nunca pensei que fosse conseguir usar um tampão, quanto mais ter relações sexuais. Mas é possível.”

Em janeiro de 2018, este tema sobre o corpo feminino foi abordado no Você na TV, pela Dra. Sílvia Roque, que explicou exatamente o que é o vaginismo e o impacto que pode ter na vida das mulheres.

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