A história de Adriana Smith, enfermeira de Atlanta, nos Estados Unidos, tem comovido o país — e gerado debate sobre o impacto da lei do aborto em casos médicos extremos. Adriana foi declarada em morte cerebral a 19 de fevereiro, quando estava grávida de apenas 9 semanas. Quase quatro meses depois, o seu filho nasceu. Agora, a família prepara-se para se despedir da jovem mãe.
Aos 31 anos, Adriana sofreu múltiplos coágulos sanguíneos no cérebro e, desde então, foi mantida ligada a máquinas de suporte vital. O caso ocorreu no estado da Geórgia, onde, após a reversão da decisão Roe v. Wade em 2022, entrou em vigor uma das leis de aborto mais restritivas dos EUA: é proibido interromper a gravidez após a deteção do batimento cardíaco fetal (cerca das 6 semanas), exceto em casos de emergência médica.
Contudo, o caso de Adriana foi considerado uma zona cinzenta legal. Embora estivesse clinicamente morta, os médicos explicaram à família que, como já não estava “em risco”, eram legalmente obrigados a manter a vida artificial até o feto atingir a viabilidade.
Um nascimento marcado pela dor
No passado dia 13 de junho, às 4h41 da manhã, Adriana deu à luz o pequeno Chance, através de uma cesariana de emergência. O bebé nasceu com cerca de 800 gramas e foi de imediato transferido para a unidade de cuidados intensivos neonatais (NICU).
“Ele está a lutar. Só queremos orações por ele. Já está cá”, disse April Newkirk, mãe de Adriana e agora avó de Chance, ao canal 11Alive.
A família prepara-se para desligar as máquinas de suporte à vida esta terça-feira, 17 de junho.
“É muito difícil de processar. É a minha filha. Eu é que devia estar a ir primeiro. Não ela”, partilhou April, emocionada.
No fim de semana anterior, celebraram simbolicamente o 31.º aniversário de Adriana, mesmo sabendo que ela já não estava presente.
“Ela respira, mas não está cá”
Durante todo este tempo, April descreveu a situação como "tortura emocional", especialmente para o neto de 7 anos, que acreditava que a mãe apenas “estava a dormir”.
“Ela respira por máquinas há mais de 90 dias. Mas já não está lá”, disse. “E eu continuo a levar o filho para a ver.”
A família lamenta profundamente não ter tido escolha legal sobre o que fazer.
“Ela estava grávida do meu neto. Mas ele pode nascer com deficiências, pode não sobreviver. Esta decisão devia ter sido nossa”, afirmou April. “Agora vamos nós criá-lo — sem saber que vida terá.”
O papel do hospital e a lei do estado
O hospital, gerido pela Emory Healthcare, afirmou que não pode comentar casos específicos, mas confirmou que a equipa médica seguiu a lei estadual em vigor.
“Usamos consensos clínicos, literatura médica e orientação legal para apoiar os nossos profissionais, sempre em conformidade com as leis do estado da Geórgia”, informou a instituição em comunicado.
A lei define “emergência médica” como uma situação em que a interrupção da gravidez é necessária para salvar a vida da mulher ou evitar danos irreversíveis. Porém, não há qualquer definição legal clara sobre como agir em casos de morte cerebral.