Lachlan “Lucky” Munro, produtor musical e life coach britânico, decidiu tornar pública a sua luta contra um distúrbio alimentar severo, com o objetivo de quebrar estigmas e alertar para os perigos da adição à comida. A sua história de superação, partilhada numa entrevista ao The Independent, revela uma jornada marcada por vícios, recaídas e uma transformação profunda.
Hoje com 43 anos, Munro vive em Londres e afirma que a sua relação tóxica com a comida começou ainda na infância. Lembra-se de roubar doces na escola e remexer nas mochilas de colegas à procura de batatas fritas, numa tentativa de preencher um vazio emocional.
«A comida ajudava-me a sentir-me bem», confessou. «Era uma fuga, porque eu não sabia lidar com as minhas emoções.»
Do álcool à comida: um ciclo destrutivo
Aos 13 anos, o problema com a comida foi temporariamente substituído pelo consumo de álcool, que se tornou dominante durante a adolescência e início da vida adulta. Mas aos 24 anos, Munro foi forçado a deixar de beber, devido aos danos físicos e emocionais que o álcool lhe estava a causar.
«Fiquei sóbrio e voltei à comida. Foi imediato. Não conseguia lidar com a raiva e os sentimentos reprimidos. A adição voltou com força total porque já não tinha outra bengala emocional.»
Ao longo dos anos, o peso de Munro passou dos 73 kg para os 117 kg, agravado com a chegada da aplicação Deliveroo, que descreve como «o paraíso da conveniência». Chegou a gastar mais de 90 libras por dia (cerca de 105 euros) em entregas e consumia até 7 mil calorias numa só refeição.
«Gastava o dinheiro da renda em comida. Estava num estado de completo descontrolo. Cheguei a parecer uma bola de canhão humana.»
A vergonha de ser visto a comer em público levou-o a isolar-se. Encomendava exclusivamente para casa para evitar julgamentos. Este ciclo destrutivo mergulhou-o num profundo sofrimento emocional, do qual só começou a sair após um momento-chave.
O ponto de viragem e o caminho para a recuperação
O ponto de viragem surgiu quando uma amiga — por quem tinha um grande fascínio — o convidou para uma reunião dos Comedores Compulsivos Anónimos, parte de um programa de 12 passos.
«A comida é uma adição muito embaraçosa. Mas, quando encontrei o apoio certo, perdi a vergonha e comecei finalmente a tratar do problema.»
Munro aprendeu a identificar alimentos desencadeadores, que incluíam batatas fritas, donuts, chocolate, bolachas e pizza, e retirou-os da sua dieta. Também começou a preparar todas as suas refeições em casa e não utiliza a aplicação Deliveroo há oito anos.
Hoje pesa 82 kg e sente-se um homem livre.
«Não sinto falta nenhuma daquela vida. Às vezes, abdicar daquilo que mais gostamos pode tornar a vida 100 vezes melhor. Tenho o meu equilíbrio de volta e, acima de tudo, voltei a gostar de mim.»
Durante mais de uma década, esteve sem qualquer relacionamento amoroso, afetado pela baixa autoestima e pelas marcas físicas da obesidade. Agora, afirma sentir-se mais confiante e motivado a inspirar outros que vivem com distúrbios alimentares.
«Há muitas ideias erradas sobre a adição. Conheço pessoas inteligentes que ainda acham que é uma questão de força de vontade. Mas não é. E quero que as pessoas saibam que há programas e apoio disponíveis.»
Se sente que sofre de compulsão alimentar ou outro tipo de distúrbio alimentar, procure apoio médico ou psicológico especializado. A recuperação é possível.
Veja o impressionante antes e depois de Lachlan Munro, na galeria em cima.