Os agricultores portugueses que possuem seguros agrícolas são tão escassos como a água que falta em quase todo o país. Os prémios atingem valores elevados e a maioria dos agrários não tem como pagar, adiantou a Confederação dos Agricultores de Portugal. Além disso a maioria das seguradoras não faz este tipo de seguros porque sabe que ficaria a perder. O problema é quase exclusivo de Portugal dentro da Comunidade Europeia.
«Em primeiro lugar, os seguros agrícolas não são obrigatórios e os que existem têm custos elevadíssimos. Fazem um conjunto de exigências para a sua subscrição o que torna quase sempre incomportável subscrevê-los. Devido a estes factores a adesão aos seguros agrícolas é muito fraca no nosso País», explicou ao PortugalDiário António Carvalho da Confederação dos Agricultores de Portugal, (CAP).
As seguradoras realizam estudos sobre a probabilidade de ocorrência dos vários sinistros que podem ser «seguráveis», conforme explica ao PortugalDiário Corvaceira Gomes, da Associação Portuguesa de Profissionais de Seguros. «Os estudos efectuados revelam qual o risco de ocorrência do sinistro. Ora quando a probabilidade é alta o prémio é também muito elevado. As secas acontecem com alguma regularidade e como as seguradoras são empresas que têm de dar lucro a única solução, é a de prémios altos».
Além destas limitações, as seguradoras não cobrem o tipo de situação que se vive actualmente em Portugal, mesmo nas actividades mais primárias. «Por cá, poder-se-á solicitar a uma seguradora que cubra esse tipo de prejuízos, provocados por alterações climatéricas, mas isso tem um custo ainda mais elevado, completamente incomportável por qualquer exploração agrícola», explica a CAP.
A situação actual de seca extrema em quase todo o país e os custos que daí advém acabam por ser cobertos pelos próprios agricultores. Situação que também não pode ser totalmente colmatada pela ajuda de Bruxelas. «O fundo de calamidade de Bruxelas é constituído em função de montantes que se paga às seguradoras para seguros agrícolas, ora como em Portugal não há praticamente, isso leva a que não estejamos muito optimistas em relação a essa matéria», adiantou António Carvalho.
O sistema funciona com uma espécie de pontos em que quantos mais seguros se faz num Estado membro, mais pontos se conseguem para um fundo de calamidade a accionar em circunstâncias mais adversas como a que Portugal enfrenta actualmente.
Já aqui ao lado, em Espanha, todo o processo é feito com a ajuda e intervenção do Estado. «Em Espanha o Estado comparticipa parte do prémio a pagar às seguradoras, para que estas não percam lucro, e os agricultores pagam apenas uma parte do seguro», adiantou Corvaceira Gomes.
«Posto isto, falta em Portugal uma estratégia agrícola que tenha em atenção esta matéria. A CAP tem vindo, de há uns anos a esta parte, a pedir a alteração desta situação, o que obriga a fazer frente ao poder das seguradoras. Assim sendo, para a maioria das actividades agrícolas não há seguros viáveis», relembra a CAP.
O PortugalDiário contactou a Associação Portuguesa de Seguradoras mas não foi possível obter esclarecimentos devido à transição da presidência que ocorre actualmente.
Agricultores portugueses sem seguro para seca de Inverno
- Cláudia Costa
- 7 mar 2005, 15:40
PDiário: CAP alerta para «custos elevadíssimos» de seguros agrícolas em Portugal. Falta de apólices diminui hipóteses de Portugal ter acesso ao fundo de calamidades de Bruxelas
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