A reunião, os telefonemas e os mentores do plano que juntou PS e PSD. Os bastidores da eleição de Aguiar-Branco - TVI

A reunião, os telefonemas e os mentores do plano que juntou PS e PSD. Os bastidores da eleição de Aguiar-Branco

Novo Parlamento (JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA)

Foram horas de impasse para se conseguir eleger o novo presidente da Assembleia da República. E só a pouco tempo da última votação, um grupo de socialistas montou, numa sala do terceiro piso do edifício novo, a proposta que acabou por eleger Aguiar-Branco. A CNN relata com detalhe tudo o que se passou

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Os passos de estratégia política que se deram dentro do Parlamento nas 24 horas que decorreram entre a primeira e a última eleição do presidente da Assembleia da República foram muitos, com várias ações de bastidores e um deputado terá sido essencial: Francisco Assis. Foi ele quem informou os socialistas que não estava disponível para continuar a encabeçar uma candidatura que não ia ter solução e acabou por levar o partido a uma negociação, segundo adiantaram várias fontes à CNN Portugal.

Aliás, quando na terça-feira todos os deputados foram confrontados com o chumbo do nome de Aguiar-Branco, nem PS nem PSD sabiam como sair deste impasse. Mas Assis, nessa noite, já tinha confessado a alguns dos seus mais próximos que não queria continuar como candidato de um processo sem solução e sem fim à vista e que achava que o caso estava a favorecer o Chega.

Foi assim que PS e PSD decidiram que tinham de conversar. Na manhã seguinte, ou seja, na quarta-feira de manhã, por volta das 10 horas, Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro encontraram-se os dois, sozinhos, numa sala do edifício novo da Assembleia da República. Nenhum levava uma proposta, mas ambos mostraram vontade de ter uma solução. Montenegro apostava em falar na necessidade de manter Aguiar-Branco e Pedro Nuno ouviu-o. Foi uma reunião rápida, pouco mais de 10 minutos. Depois de saírem daquele encontro, cada um foi reunir-se com o seu núcleo duro. E viria a ser dentro de uma sala do terceiro piso do edifício novo que este plano de presidência dividida entre PSD e PS foi montado.

O plano do núcleo duro

Na sala, além de Pedro Nuno Santos, estava Francisco Assis e alguns socialistas mais próximos do secretário-geral do PS, como Alexandra Leitão, Pedro Delgado Alves e Filipe Neto Brandão. Pelo meio, por ali passaram outros socialistas, como Sérgio Sousa Pinto.

O núcleo duro esteve reunido durante um longo período de tempo a debater várias hipóteses, até que alguns, entre eles Francisco Assis, se lembraram da solução de se dividir a presidência da Assembleia da República, ao estilo do Parlamento Europeu. E no fim chegou-se ao que estes grupo de socialistas considerou ser a proposta que se devia fazer ao PSD: uma presidência dividida com dois anos para cada partido. Com a proposta acordada no núcleo duro socialista, seguiram-se os contactos por telefone com os sociais-democratas. Pedro Nuno Santos ligou a Luís Montenegro que passado algum tempo lhe deu a resposta: ok, e o PSD queria o primeiro mandato.

Foi por causa desta negociação que António Filipe, do PCP, que estava a liderar a mesa da Assembleia da República enquanto não havia escolha para o sucessor de Augusto Santos Silva, teve de adiar para as 14 horas a apresentação de candidaturas, prevista para a parte da manhã. Antes da hora do almoço e enquanto os líderes dos dois maiores partidos negociavam, o Chega anunciou que ia avançar com um outro candidato – Rui Paulo Sousa.

Críticas socialistas ao acordo

Com a resposta positiva de Montenegro à proposta socialista, cada partido reuniu os seus grupos parlamentares. O PSD debatia-se ainda com um problema: garantir que Aguiar-Branco não desistia. Já no PS, na reunião do grupo parlamentar, chegaram a surgir algumas críticas ao acordo. Alguns achavam que o PS não devia ter desistido de candidatar Francisco Assis e outros criticaram a opção de o PS não ter ficado com o primeiro mandato – o único que todos têm a certeza de que vai ser verdadeiramente realizado. Mas a ideia de Assis não era garantir um lugar como presidente da AR, mas sim arranjar forma de sair de um problema que o estava a colocar no centro de um episódio em que ele não queria participar. 

Assim quando às 13:41 a porta da sala onde decorreu o encontro do grupo parlamentar do PS se abriu dando sinal do final da reunião, Francisco Assis saiu confiante. “Não pode valer tudo”, disse nesse momento aos jornalistas, criticando a postura do Chega. E com o fim da reunião do grupo parlamentar do PSD e a 10 minutos dos deputados começarem a votar, o ainda líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, confirmou que nesta legislatura irão existir dois presidentes do Parlamento: um do PSD, outro do PS. “Era preciso ultrapassar este impasse”, explicou, acrescentando que o partido tinha decidido manter a palavra e aprovar um vice-presidente do Chega, como anteriormente tinha dito.

Pelos corredores do Parlamento, Assis fazia, nessa altura, questão de explicar que não ficara certo que seria ele a ocupar o cargo. “É certo que será um socialista”, assumiu apenas.

Às 15 horas, os deputados começam a votar e quando faltavam dois minutos para as 16:00 confirmou-se a eleição de Aguiar-Branco com 160 votos a favor. E assim o acordo surpresa feito entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro pôs fim à novela que tinha começado há mais de 24 horas em pleno Parlamento e que muitos temem que se repita nos próximos tempos, com novos episódios.

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