«Depois do Adeus» é uma rubrica dedicada à vida de ex-jogadores após o final das carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como sobrevivem os que não ficam ligados ao futebol? Críticas e sugestões para o email vhalvarenga@mediacapital.pt. Em março de 2014, quando o seu problema de saúde foi tornado público, Bruno Conceição confessou ao Maisfutebol que tinha pela frente o maior desafio da vida: a luta contra um mieloma múltiplo, diagnosticado meses antes. O guarda-redes de São João da Madeira terminou abruptamente a carreira, com 32 anos, depois de representar clubes como Sanjoanense, Infesta, Esmoriz, Varzim, Paços de Ferreira, Beira Mar, Arouca e Trofense. Em outubro de 2019, o Maisfutebol volta a cruzar-se com Bruno Conceição e descobre um cenário positivo, de doença estabilizada e um novo caminho desbravado. O convidado deste «Depois do Adeus» despiu a pele de jogador profissional para abraçar uma segunda pele, como agente comercial, entre calçado e marroquinaria. Maisfutebol - Antes de mais, como vai a luta contra o mieloma múltiplo? Bruno Conceição - Não estou curado do mieloma mas a doença está estabilizada. Sou controlado mensalmente no Hospital de Santo António e tenho uma vida completamente normal, evitando apenas desportos de contacto, porque no meu caso, o excesso da proteína (plasmocitos) origina-me fragilidades nos ossos e maior risco de fractura.MF – Mas o que aconteceu desde que foi detetada a doença? BC - Em setembro de 2013 fiz um autotransplante que não resultou. Depois da campanha de recolha que realizei em 2014, para ajudar outras pessoas e a mim, encontrei um dador compatível mas os médicos acharam por bem não avançar para o transplante, por causa do risco de rejeição por parte de um dos órgãos. A verdade é que nesta altura me sinto perfeitamente bem.MF – Quando é que entrou para o mercado de trabalho? BC - Nos primeiros meses depois de acabar a carreira estava sobretudo ocupado com a luta contra a doença. Após um ano e meio, dois anos, comecei de facto a pensar que tinha de encontrar outra fonte de rendimento, que tinha de ir trabalhar. Comecei por ir trabalhar para uma empresa de peças de automóveis, que pertencia a um amigo meu.MF – O que fazia nessa empresa? BC - Fazia de tudo um pouco. Tratava da parte logística, de armazém, de arrumar as peças nas prateleiras, fazia entregas, inseria as peças no sistema informático, enfim. Trabalhar para mim nunca foi problema, porque comecei aos 12 anos a trabalhar no café do meu pai. Nessa empresa, trabalhava das 9h00 às 19h00 e até gostava, mas não sentia que aquela fosse uma área para o futuro. Fiquei lá cerca de um ano.MF - E o que se seguiu? BC - Comecei a trabalhar como agente comercial de um armazém de peles e desenvolvi um gosto por esta área. Fui trabalhando uns contactos, a interessar-me cada vez mais pela relação com os clientes e, em fevereiro de 2016, acabei por lançar a minha própria empresa, a RBC Couros, de representação e comércio de peles, em conjunto com o meu sócio Rui Ribeiro.MF - Como está a correr essa experiência? BC - No início foi complicado e estive cerca de ano e meio sem conseguir tirar ordenado para mim. Nessa altura, foi fundamental o apoio da minha família, sobretudo da minha mulher de há 17 anos, que acabava por ser o sustento da casa. Felizmente, fomos crescendo, fomos conquistando espaços e hoje em dia estamos num patamar interessante. Somos os representantes exclusivos da Codina em Portugal, uma grande empresa, que se instalou no Centro Empresarial da Feira em junho, com um investimento de dois milhões de euros.
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